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O fracasso venezuelano é culpa do rentismo capitalista, afirma economista do BNDES
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A capacidade de inverter a realidade é a marca registrada da nossa esquerda, que jamais assume a responsabilidade pelos constantes fracassos de suas medidas. A Venezuela chavista, nunca é demais lembrar, recebeu o elogio de inúmeros membros dessa esquerda. Agora, diante do retumbante fracasso de seu modelo, eis que a mesma turma culpa… o capitalismo!

Parece piada, mas foi isso que fez Marcelo Miterhof, economista do BNDES, em sua coluna de hoje na Folha. Analisando um livro organizado por um professor da UFRJ, Miterhof conclui que a maldição da Venezuela é seu petróleo, que teria causado a famosa “doença holandesa”, desindustrializando o país e gerando o rentismo do capital.

Para piorar o quadro, diz o autor, houve a abertura financeira dos anos 1970, levando o país a acumular dívida externa elevada sem necessidade. Ou seja, exportar petróleo para os americanos foi ruim para o país, assim como atrair investidores dispostos a financiar seus gastos públicos. Culpa dos consumidores! Responsabilizar os governos perdulários nem pensar…

O texto analisado por Miterhof não entra na era Chávez, “em razão de alto grau de ideologização que o cerca” (???). Ainda assim, diz o economista do BNDES, “é possível notar que Hugo Chávez trouxe mudanças na forma como a renda do petróleo é repartida na sociedade, favorecendo a população mais pobre, o que evidentemente é bom para o país”. Mesmo?

Pelo que podemos notar, não foi nada bom para o país, especialmente para os pobres, tal populismo elogiado pelo economista do BNDES. A inflação disparou, a miséria cresceu, e o país mergulhou em uma crise econômica e social sem precedentes. Mas Miterhof tem mais elogios a Chávez: “Também houve nova tentativa de induzir a industrialização”. Sério?

Para os nacional-desenvolvimentistas, cabe ao estado “induzir” tudo, escolher “campeões nacionais”, agir feito a locomotiva do progresso. É justamente o que o BNDES sob Luciano Coutinho vem tentando fazer no Brasil, sem sucesso. Miterhof acha que Chávez acertou ao tentar fazer isso na Venezuela. A esquerda insiste nos mesmos erros com uma obsessão doentia. Mas se tudo deu errado – como até Miterhof tem que assumir – então não foi culpa de seu modelo, mas… do capitalismo!

“Entretanto, não houve rompimento com o caráter de longo prazo da política econômica”, afirma Miterhof. Chávez não mudou a política econômica venezuelana??? Pelo visto, não. E temos aí, finalmente, o grande culpado: “As dificuldades do desenvolvimento da Venezuela são duradouras. O rentismo não é uma condenação, mas não é fácil de se desamarrar dele. Por isso, me compadeço”.

Esqueçam o populismo, os gastos públicos fora de controle, toda a demagogia por meio da PDVSA, o intervencionismo estatal na economia, a insegurança jurídica, as quebras de contrato, a inflação estimulada pelo governo, a retórica anticapitalista e os ataques aos investidores. Nada disso tem a ver com a crise venezuelana. Esta se deve ao modelo antigo, capitalista e rentista. Chávez está protegido das críticas. Bolas, ele até tentou romper esse ciclo perverso e vicioso do capital…

Rodrigo Constantino

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