Por Percival Puggina
Quando se trata de juntar gente para dizer que o povo comparece a seus eventos, a esquerda reúne companheiros de viagem, pilotos de vôo pelos ares da utopia, figurinhas carimbadas, cantores, atores, músicos e promovem grande espetáculo. Alguma conta no exterior paga os cachês ou o crédito fica gerado e certificado para futuros resgates.
Então, pequenas multidões são atraídas pela oportunidade de um show que seria totalmente grátis não fora o dever de escutar discursos políticos proferidos por pessoas cujo pouco conhecimento enche a paciência antes de encher uma xícara de cafezinho. Sem artistas e celebridades, vai-se o público. Cria-se, então, um insolúvel mistério: quem é que estava ali, mesmo? A permanência dessa dúvida nos eventos da esquerda é uma clamorosa denúncia do esvaziamento de suas pautas e de sua credibilidade.
A concentração ocorrida em Copacabana neste último domingo reuniu numa dessas aglomerações algo entre 10 mil e 30 mil pessoas. A turma do palanque queria diretas já. Ali estavam, pelo que li, Caetano Veloso, Criolo, Mano Brown, Maria Gadu, Milton Nascimento, Gregório Duvivier, Sophie Charlotte, Daniel Oliveira, Maria Casadeval, Antônio Pitanga, Bete Mendes e Zezé Motta. Não sei se alguém se deixa conduzir pelas posições políticas desse pessoal, mas o evento em si, misturando música, dança de rua e diretas já, como afirmei antes, tem o peso político de uma rolha.
Por outro lado, os oradores, ao apelarem para a ruptura com a ordem constitucional, alegam uma suposta ilegitimidade do Congresso para cumprir o preceito que determina eleição indireta se a vacância ocorrer depois da primeira metade do mandato presidencial. Ora, a legitimidade do Congresso só foi contestada pelo PT após o impeachment da presidente Dilma; e se ele é ilegítimo para cumprir o preceito constitucional e promover a eleição indireta, onde irá buscar legitimidade para alterar a Constituição e romper a periodicidade das eleições presidenciais?
Sublinhe-se: foi para evitar casuísmos golpistas, voltados a atender interesses de oportunistas como os que recheavam o palanque de Copacabana, que os constituintes de 1988 definiram a periodicidade das eleições como cláusula pétrea da Carta maior da República.
Mas não podemos querer que a turma daquele palanque entenda e se conforme com isso, não é mesmo?
Comentário do blog: a prova de que a esquerda não tem apreço pelo respeito à Constituição está no texto de Jorge Bastos Moreno de hoje também. Seu viés rousseauniano salta aos olhos, e ele acredita que a “vontade geral” pode tudo. Em determinado trecho o jornalista diz: “Não vou nem entrar no mérito da constitucionalidade ou não dessa campanha neste momento, já que a vontade do povo deve estar acima de todas as leis e da vontade da minoria que se vale da Constituição para apenas trocar o ocupante da cadeira de presidente, não os seus métodos”. Os nacional-socialistas seguidores de Hitler também pensavam assim na Alemanha da década de 1930, e deu no que deu. Em nome da “vontade geral”, muita barbaridade já foi cometida. Está na hora de a esquerda aprender a respeitar mais a Carta Magna da nação, pois se ela for apenas um pedaço de papel que a “vontade do povo” pode rasgar a todo momento, por meio de eleições, então jamais deixaremos de ser uma Republiqueta das Bananas…