“Derrubamos a presidente mais corrupta do planeta Terra sem quebrar uma janela. Assim seguiremos fazendo as mudanças que o Brasil precisa.” – Eduardo Bolsonaro
Quando as instituições estão podres, o que fazer? Reforma-las ou derruba-las! Alguns acham que passou de qualquer ponto de retorno salvar nossa democracia usando a política. É um ponto de vista. Mas é preciso ser coerente do começo ao fim, respeitar a premissa e chegar às conclusões inevitáveis. O que não dá é para ficar nos ataques frenéticos contra tudo e todos enquanto oferece “soluções” vagas. Estamos aqui para cobrar a tal coerência.
Então a premissa é essa: o “sistema” está completamente corrompido e todo o Congresso, eleito, não presta, não vale nada e só quer roubar? Por outro lado, o presidente eleito fala em nome do povo, incorpora a “vontade geral”? Quem não percebe o caráter populista e autoritário desse discurso nunca leu muito livro de história, sejamos francos. Foi exatamente assim que fez todo populista, desde sempre. Pergunto: quem deu procuração para se falar em nome do povo?
Percival Puggina, que não é exatamente contrário ao bolsonarismo, tampouco um crítico de Olavo de Carvalho, escreveu um texto em que rejeita a tentativa de se monopolizar a defesa do tal povo. Após descrever o povo como um grupo difuso, abrangente, repleto de distinções de todo tipo, ele conclui: “Tudo isso é povo. Como pode alguém, pois, apropriar-se de todos e de cada um, como enlouquecido aparelho de rádio que sintonizasse, simultaneamente, o conjunto das emissoras? Ninguém, a rigor, tem o ‘povo’ nas mãos, seja governo, seja oposição”.
Certíssimo! Milhões foram às ruas contra o PT, pelo impeachment de Dilma. Entre eles, vários mobilizados pelo MBL. Mas o MBL está contra a manifestação governista do dia 26. Deixou de ser povo? Vimos recentemente milhares nas ruas protestando contra o governo, usando o pretexto do contingenciamento na educação. Não eram parte do povo?
Confesso: morro de medo de nerds com fala mansa que pensam ser templários numa cruzada e instigam uma “revolta popular” do conforto de seus escritórios, alguns até longe do Brasil. Essa gente é um perigo! Todo aquele que jura falar em nome do povo adota postura arrogante e autoritária, além, claro, de populista.
Eis o que Eduardo Bolsonaro finge não entender nessa postagem que está na epígrafe: uma coisa é unir gente em prol de uma agenda comum contra um inimigo definido, fazendo pressão popular para derrubar um governo ilegítimo. Outra, bem diferente, é achar viável governar um país dessa forma! O que Eduardo deseja, na prática? Cada medida proposta pelo governo vai levar a uma nova manifestação “popular” nas ruas, para driblar o Congresso tido como ilegítimo? Onde isso vai parar?
Não há nada de chavismo nessa postura? Sério? Só porque a pauta do governo é “do bem”? Mas e quanto aos meios, aos métodos? Não é isso que importa? O guru do presidente já fala em plebiscitos como forma de governo, o que é uma espécie de “democracia direta”. Ele acha que o presidente, “amado” pelo “povo”, precisa convocar a população às ruas para impor sua agenda. E isso não é populismo autoritário? É o que então?
Alguns podem alegar que é só uma manifestação para demonstrar apoio ao presidente eleito e sua agenda, já que o Congresso dominado pelo “centrão” fisiológico estaria boicotando essa agenda e exigindo o toma-lá-dá-cá para aprovar as reformas. Mas pergunto: vai ficar por isso mesmo? O que vem em seguida? E para as próximas reformas? E para continuar governando até 2022?
Sejam coerentes! É preciso aceitar as conclusões lógicas de suas próprias premissas. Se o Congresso eleito não presta, se esses votos não valem, se só o presidente representa o “povo”, então o que se pede é um déspota esclarecido concentrando todo o poder contra a democracia, em nome do povo. E o método adotado será sempre colocar as massas nas ruas, para “pressionar” os deputados e senadores. Gostaria que alguém desse uma definição diferente de populismo autoritário para isso, pois eu desconheço.
Achar que é possível governar um país da mesma forma que se faz para derrubar um governo é o grande equívoco do bolsonarismo, explícito na fala do filho do presidente. Isso não tem como acabar bem, se a história serve para alguma lição. O problema é que o filósofo que ia resgatar a alta cultura no país parece mais preocupado em agir como guru de seita e agitar as massas do que ensinar história aos seus alunos.
Rodrigo Constantino
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