Gosto das colunas de João Pereira Coutinho pois quase sempre saem do lugar comum para nos oferecer um ponto de vista interessante sobre algum assunto polêmico qualquer. Hoje não foi diferente. Ele fala da “felicidade dos terroristas”, o que não chega a ser bem uma felicidade genuína, para mim, mas sim um gozo, um puro prazer animal no sangue, típico dos psicopatas. Seria essa explicação mais poderosa do que a geopolítica, a cultural, a religiosa ou a social? Diz ele:
Eles matam porque gostam de matar. Como dizia Ernst Jünger, eles estão tomados pela “vermelha embriaguez do sangue”.
Talvez seja injusto convocar Jünger, um dos grandes escritores do século 20, para tão más companhias. Mas um livro dele tem merecido releitura nos últimos tempos.
O título é “A Guerra como Experiência Interior”. Trata-se do relato do autor da sua experiência na Primeira Guerra Mundial. Verdade: a Guerra de 1914 foi feita por soldados, não por terroristas. E o alemão Jünger tem pelo inimigo (francês) a admiração que só a bravura merece.
Mas o que me interessa no relato é a dimensão de êxtase que o combatente sente na batalha. A sociedade pode refrear “a pulsão dos apetites e dos desejos”, escreve ele (como escreveu Freud). Mas a parte bestial do ser humano não pode ser abolida da nossa natureza.
Somos feitos de razão e sentimento. Mas também de fúria e instinto. E, quando provamos a loucura da guerra, emergimos como “o primeiro homem”, “o homem das cavernas”.
Essa tese incomoda nós ocidentais, pois não conseguimos conceber muito bem que algumas pessoas prefiram a morte à vida, a violência à paz. Mas um grau profundo de alienação ou de psicopatia pode levar a essa “escolha” paradoxal sim. Em âmbito individual entendemos isso, quando vemos maníacos e serial-killers. Mas quando se trata de um movimento com cores religiosas ou ideológicas, o fator “prazer” fica esquecido.
Quantos não aderiram ao comunismo, porém, apenas em busca de um pretexto ideológico para poder saquear, estuprar, matar? Queriam apenas dar vazão ao seu gosto pela violência, à sua pulsão de morte. A tara por sangue desses fundamentalistas islâmicos não deveria ser tão estranha assim a nós. Já vimos isso antes. Há quem encontre a “felicidade” apenas na desgraça alheia. Normalmente os chamamos de psicopatas…
Rodrigo Constantino
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