O homem é, talvez, o sujeito mais imoral que este país já viu. Falo, claro, dele, o Pixuleco 13-171, aquele que criou Dilma e hoje se volta, na retórica, contra sua criatura. O que Lula ensaia, de forma totalmente pérfida, é um afastamento tático do governo que ele criou, e principalmente dos efeitos nefastos que sua política causou.
Pela coluna de Lauro Jardim, ficamos sabendo que Lula teria subido o tom com Dilma, e alertado que, sem mudanças, ambos estariam “ferrados” (a palavra usada teria sido outra, que o decoro me impede de publicar). Lula quer Aloizio Mercadante longe do governo, e uma reaproximação com o PMDB. Quer, também, Joaquim Levy fora.
É aqui que mora o ápice da canalhice: Lula volta a fazer o que sempre soube fazer melhor, que é ser oposição irresponsável, vender populismo. O ataque ao governo Dilma vem, do próprio PT de Lula, pela esquerda. E não faltam “intelectuais” para acusar a “guinada à direita” do governo Dilma pela crise atual. É o caso de Andre Singer, por exemplo, homem historicamente ligado a Lula, que escreveu em sua coluna de hoje esse absurdo:
Com uma economia já parada e os juros em ascensão permanente, Dilma optou por um ajuste fiscal draconiano e assassino. Não foi preciso sequer esperar que os cortes orçamentários fossem efetivados. Bastou o anúncio deles para que todos os agentes –consumidores, investidores, empresas – começassem a contrair as atividades.
O resultado aí está. Uma recessão prevista de pelo menos 2,5% em 2015, o desemprego em alta, a renda do trabalhador em baixa e, com a arrecadação despencando, o rombo fiscal aberto. Diante do estrago, numa espécie de reflexo condicionado, os conservadores pressionam por mais dureza e rigor. Só que atendidos tais apelos, daqui a alguns meses estaremos em um poço ainda mais profundo e o governo –qualquer que seja ele– em maus lençóis.
Ou seja, esqueçam toda a lambança que o desenvolvimentismo lulopetista fez na economia, as “pedaladas fiscais”, as finanças públicas em frangalhos, o represamento de preços, o uso das estatais para fins políticos-eleitoreiros, o intervencionismo estatal na economia, a “seleção dos campões nacionais” pelo BNDES, o Banco Central subserviente ao Planalto, tudo de errado que o PT fez: o problema foi, agora, ensaiar um começo de ajuste, que nem ocorreu ainda. Entendeu a lógica?
O editorial do GLOBO de hoje alerta para esse risco de “virada à esquerda”, sendo que o uso das aspas é fundamental, já que o governo petista nunca saiu da esquerda. Mas entende-se o recado: agora que é hora de ajustes, e que até a desenvolvimentista Dilma, influenciada pela turma da Unicamp, terá que apertar um pouco o cinto, os oportunistas de sempre surgem para condenar a “ortodoxia” e clamar pelo “retorno” do desenvolvimentismo inflacionista. É um espanto, como mostra o jornal:
Esta postura populista clássica não é surpresa, mas ganha importância por ser exposta num momento-chave de Dilma, em que ela, diante do rebaixamento do país na avaliação da agência internacional, precisa optar entre fazer um correto ajuste no Orçamento, pelo lado das despesas, ou enveredar pela aventura da “fuga para frente”. Quer dizer, assumir o discurso de que o verdadeiro problema não é cortar o Orçamento, mas gerar receitas tributárias por meio da retomada do crescimento.
[…]
Como não existe mágica, a “virada à esquerda” é a receita de uma hecatombe. Talvez sequer o governo Dilma resistisse a um Congresso pressionado pela disparada da inflação, fuga de capitais e aprofundamento da recessão. Tudo ao mesmo tempo e de maneira quase instantânea.
Um exercício de simulação esclarecedor é observar o que aconteceu com indicadores básicos do país nestes meses de crise fiscal e incertezas políticas — PIB, dólar etc. — e multiplicá-los por dez. O resultado seria, de forma aproximada, o que aconteceria a partir desta “virada”.
O oportunismo de Lula e seus companheiros foi o tema da coluna de Igor Gielow na Folha de hoje também, em que expõe a cara de pau dessa estratégia desesperada:
Sua fala criticando o Grande Outro capitalista é tão risível quanto perversa, por embutir duas enganações.
A primeira é aquela que transmuta o sujeito embevecido que comemorava o “momento mágico” por cortesia da mesma agência de “rating” de 2008 no velho sindicalista se esgoelando contra os gringos em 2015.
Mas a segunda, consequência da primeira, é mais importante. Lula delimita seu já tênue apoio ao ex-governo de Dilma Rousseff. Vão, ele e os seus, martelar a diferença entre o “heyday” lulista e o miserê de hoje.
Dá certo, sempre há ingênuos e viúvas a forçar comparações. Como se Lula não tivesse lançado as sementes que Dilma fez germinar e crescer. Como se Guido Mantega não fosse ministro de ambos, para fulanizar as coisas, ou como se o boom das commodities fosse apenas um detalhe.
O desembarque de Lula, por óbvio, não pode ser escrachado. Foi ele quem inventou Dilma. Por isso, o petista pegou uma causa de fácil apelo, a crítica ao arrocho inevitável, para tentar fazer a transição ao papel de oposição –seja a uma Dilma alquebrada, a Temer ou a qualquer outro.
Mas a tática de Lula dificilmente dará certo dessa vez. Suas bravatas encontram um país mudado, cansado do cinismo típico do PT. A Lava-Jato chega mais perto do seu cangote, e Lula parte para o ataque como se fosse a melhor defesa. Mas não será fácil fugir da ruína completa, que se aproxima. Não adianta buscar bodes expiatórios: o próprio Lula é o grande culpado por tudo isso, inclusive por ter se tornado apenas o Pixuleco 13-171, o boneco inflado que acabou com o mito.
Rodrigo Constantino
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