Churchill cunhou duas ótimas frases sobre a democracia. A primeira, abordando seu aspecto ruim: “O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano”. Captura com exatidão o risco de delegar decisões coletivas tão importantes a uma maioria, suscetível às paixões do momento e ignorantes sobre inúmeros aspectos do funcionamento da política e da economia. A segunda realçava seu aspecto positivo, apesar disso: “A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas”.
Nossa jovem e capenga democracia acabou corroborando ambas as crenças. Vimos do mal que ela é capaz, quando populistas chegaram ao poder e instauraram uma quadrilha dentro do estado, protegida pelo manto da ideologia e corrompendo as massas mais carentes e ignorantes. Ao mesmo tempo em que nossa democracia levou ao PT – o principal argumento contrário a ela – também permitiu que o Brasil se livrasse do lulopetismo, sem derramamento de sangue revolucionário.
Como disse Sir Karl Popper: “A diferença entre uma democracia e um despotismo é que, numa democracia, é possível livrar-se do governo sem derramamento de sangue; num despotismo, não”. Ludwig von Mises defendeu a democracia usando o mesmo argumento: “A principal excelência e valor do que é chamado de instituições constitucionais, democracia e governo pelo povo, está no fato de que eles tornam possível mudança pacífica nos métodos e membros do governo”.
Para liberais e conservadores, a democracia nunca foi um deus que falhou, pois nunca foi deus. É, sim, um modelo imperfeito, que precisa do mecanismo de pesos e contrapesos, de limite constitucional, de pluralidade partidária, imprensa livre, descentralização de poder etc. Quando faltam esses pilares, quando a democracia é destruída de dentro, como foi na Venezuela, aí resta o despotismo disfarçado, e dificilmente ele será revertido sem sangue.
Se nossa democracia foi responsável pela chegada de uma máfia como o PT ao poder, ela também viabilizou a retirada desse câncer político sem guerra civil. Muitos acharam que isso não era mais possível, que nossas instituições tinham sido totalmente conquistadas e só os militares ou uma luta sangrenta poderiam nos livrar do PT. Estavam errados. Como equivocaram-se todos aqueles que desqualificaram o esforço dos movimentos como o MBL e o Vem Pra Rua, os que acusaram de ingenuidade aqueles que acreditaram ser possível derrotar o PT dentro da própria democracia, usando nossas instituições, ainda que fragilizadas.
Não é um feito insignificante. O Brasil colocou para correr uma poderosa organização criminosa que ocupara a máquina estatal e chegou a infiltrar cúmplices em diversas esferas do poder. Ainda assim, essa turma foi apeada do poder, perdeu, está fora do comando. E isso tudo preservando-se as nossas instituições, que saem fortalecidas. É para celebrar. É justamente esse o maior papel da democracia. Não a escolha dos melhores, pois sabemos que isso não é possível com o processo viciado e a escolha por maioria. Mas a eliminação dos piores, sem derramamento de sangue.
A derrota do PT é a maior vitória de nossa democracia até aqui. Não é tão pouco assim.
Rodrigo Constantino
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