Pobre do país que precisa de heróis, disse Brecht. Discordo. Entendo que o papel de heróis, reais ou mitológicos, é fundamental para forjar uma nação livre e próspera, para servir como um norte, uma liderança que motiva os cidadãos comuns. Penso que o verdadeiro problema não é ter heróis, mas sim escolher os heróis errados. Se o herói for Macunaíma, aquele sem caráter, um ditador como Vargas, ou um bandido como Lula, aí sim a sociedade estará em perigo.
Mas se Lula foi o herói de muitos por algum tempo, hoje só lhe restou o apoio de uma militância desesperada com o risco de perder suas boquinhas, ou então daqueles muito alienados que encaram o PT como uma seita religiosa. O verdadeiro herói brasileiro hoje é o juiz Sergio Moro, e isso fica claro pela recepção que ele tem por onde passa. Pude testemunhar bem de perto isso nesta semana, quando ele compareceu ao Fórum da Liberdade em Porto Alegre, evento do qual também participei como palestrante.
Moro foi ovacionado de pé por uma multidão, tratado como um ídolo de rock. Merecido. É fato que, como lembrou o juiz italiano que liderou a Operação Mãos Limpas, feliz é o país que não precisa aplaudir tanto um magistrado que “simplesmente” cumpre sua função. Nesse sentido a frase de Brecht pode até se aplicar: o ideal, claro, seria não precisarmos desses heróis. Mas no mundo real o buraco é mais embaixo.
Afinal, cumprir a lei, no caso, implica em declarar guerra a uma enorme quadrilha poderosa e perigosa. Não é algo trivial. Envolve grandes riscos pessoais, mudanças radicais no estilo de vida, andar cercado de seguranças, temer pela segurança dos filhos. Quem quer que desmereça tal ato de coragem vive numa bolha, aprisionado em abstrações utópicas. Não é à toa que Moro brincou ao dizer que estava feliz por ver seus similares italianos vivos e bem de saúde após tantos anos.
Agir com retidão e firmeza apesar de tantos obstáculos e ameaças demanda coragem e patriotismo, um dever cívico que poucos possuem, e que não pode ser diminuído por séries da Netflix que tentam retratar tudo como pura vaidade pessoal. É fácil falar quando não é o seu na reta. Todos que conhecem o modus operandi dessas máfias, em especial do PT, devem reconhecer que comprar essa briga não é para qualquer um, certamente não é para os fracos e covardes.
Claro que todo herói real, de carne e osso, tem suas falhas, e por isso é mais seguro ter os míticos, alguém como um Batman. Os verdadeiros podem sempre escorregar: são humanos. Até aqui, porém, Moro tem demonstrado humildade e mantém um saudável distanciamento de qualquer pretensão política, o que só aumenta seu valor. Seu reconhecimento pelo público é justo. O Brasil estava mesmo precisando de um herói decente…
Texto originalmente publicado na revista IstoÉ