Escrevi um texto sobre as velhas teses do impacto climático nas culturas, brincando com o calor carioca insuportável, que me impedia de imaginar um Schopenhauer refletindo sobre o sentido da vida, vindo em seu lugar a imagem de um Homer Simpson pedindo mais uma cerveja.
Recebi uma saraivada de ataques. Muitos, que devem ser analfabetos funcionais, acusaram-me de defender o determinismo climático. Leiam novamente o texto! Eu não defendo determinismo de tipo algum, pois acredito no livre-arbítrio dos homens, na nossa capacidade de aprender, evoluir, mudar (dentro de limitações da natureza humana, que fique claro – ou seja, descarto a ideia romântica de um “novo homem” criado em tabula rasa).
Mas o foco mesmo da maioria das críticas foi outro: como eu pude adotar uma visão tão “eurocêntrica” da cultura? E os astecas, os árabes, os indianos, os chineses? Pois é, o multiculturalismo está na moda, e sempre que alguém reconhece a superioridade de alguma cultura, é um “etnocentrista” preconceituoso. Balela!
Vamos brincar, então. Vamos mostrar as invenções de determinada cultura, e imaginar o mundo moderno sem elas. Sim, eu tenho uma “ligeira” preferência por aquilo que o Ocidente deixou, até aqui, de legado. Não foi isento de muitos defeitos (o multiculturalismo, por exemplo, cria ocidental). Mas que diferença! No texto abaixo, o foco será mais material. Mas não precisa ficar restrito a isso. Fica para outra ocasião o restante.
O homem e suas invenções
“Genialidade é um porcento de inspiração, e noventa e nove porcento de transpiração.” (Thomas Edison)
O ser humano conseguiu se distanciar muito dos demais animais ao atingir a capacidade de criar suas próprias ferramentas de trabalho. O uso consciente da lógica, o acúmulo de informações e a imaginação possibilitaram o incrível avanço tecnológico que visa a redução do desconforto natural. O homem progrediu espantosamente nesta área nos últimos séculos, e vamos tentar passar sucintamente pelas principais descobertas e invenções modernas que revolucionaram nosso mundo.
Uma das primeiras invenções que vem à cabeça data de 1436, quando o alemão Gutenberg desenvolveu uma máquina de prensa tipográfica, que permitiu a impressão rápida e em processo econômico. Graças a Gutenberg, a Bíblia foi editada e produzida em massa, desde 1456. O americano Chester Carlson desenvolveu o processo de xerografia em 1938.
Por volta de 1760, Benjamin Franklin desenvolveu os bifocais, visando a correção de problemas visuais. A tentativa de se obter através de lentes tal conforto data do século XIII, e em 1517 o papa Leão X foi retratado por Rafael usando óculos. Em 1590, outra invenção baseada em lentes foi o microscópio, idealizado por Zacharias Janssen na Holanda. Atribui-se a Hans Lippershy a invenção do telescópio em 1608, sendo que Galileu Galilei já teria sido o primeiro a revelar as potencialidades do aparelho. Em 1878, George Eastman, em Nova Iorque, desenvolveu o processo de lâmina seca que levou ao avanço da fotografia. Em 1889, Thomas Edison imprimiu imagens múltiplas num material transparante que podia ser projetado, abrindo caminho para o cinema.
A primeira máquina a vapor foi fruto da imaginação de James Watt, um engenheiro escocês, que a finalizou em 1769. A primeira estrutura capaz de gerar um fluxo contínuo de eletricidade foi inventada em 1799 pelo italiano Alessandro Volta, abrindo caminho para as baterias elétricas atuais. Em 1802, corria nos trilhos do País de Gales a primeira locomotiva a vapor. Pouco depois, em 1818, cruzava os mares do mundo o primeiro barco a vapor construído pelo americano Moses Rogers. O primeiro carro teria sido construído na Alemanha em 1889, por Gottlieb Daimler, e a produção em massa de automóveis é atribuída a Henry Ford, com seu Modelo T de 1908. O motor a jato foi uma invenção do piloto da Royal Air Force inglesa, o oficial Sir Frank Whittle, em 1930. O primeiro jato que realmente teve sucesso e inaugurou vôos comerciais foi o americano Boeing 707. Um helicóptero funcional e controlável foi finalmente construído em 1939 por Igor Sikorsky, nos Estados Unidos.
A vacinação foi aplicada pela primeira vez por Zabdiel Boylston, em Massachusetts no ano de 1721. A primeira vez que um produto químico foi usado como anestésico foi em 1834, por Sir James Simpson, na Escócia. A anestesia geral seria testada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1842 pelo Dr. Crawford Long, que empregou éter em seus pacientes. Em 1943, o Laboratório Regional de Pesquisa de Peoria, no estado americano de Illinois, resolveu finalmente o problema da curta duração da penicilina. No final do século XX, a americana Pfizer presentearia a humanidade com seu Viagra.
As primeiras máquinas de costura foram projetadas para uso industrial, mas em 1851, Isaac Singer, um mecânico de Boston, introduziu a primeira máquina de costura para uso doméstico. Em 1867, o americano Christopher Sholes patenteou a primeira máquina de escrever realmente funcional, que foi depois aprimorada pelo também americano Thomas Edison em 1872. O mesmo Thomas Edison criaria o fonógrafo em 1877 e a lâmpada elétrica em 1879.
O primeiro sistema de telégrafo realmente usado foi desenvolvido pelo inventor americano Samuel Morse, em 1838. Foi o inventor americano Elisha Otis quem patenteou o primeiro elevador efetivo e seguro, em 1851. A primeira geladeira projetada para uso doméstico foi fabricada em Chicago, no ano de 1913. O telefone foi inventado por Alexander Bell, em 1876, e o telefone móvel foi inventado pela empresa Bell Telephone Company em 1924. Em 1927, J. O’Neill introduziu um sistema de gravação de áudio em fita magnética nos Estados Unidos. O fax portátil foi lançado pela Xerox em 1966.
Em 1937, o engenheiro americano Howard Aiken projetou o IBM Mark 7, o avô dos atuais computadores. A idéia de usar a energia das microondas para cozinhar foi descoberta acidentalmente por Percy Spencer, da Raytheon Company, que lançou seu primeiro microondas em 1954. O transistor foi inventado em 1948 por três americanos da AT&T, e seus avanços prepararam o caminho para a revolução dos microcomputadores. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos foi quem começou a desenvolver a rede de computadores que mais tarde formaria a internet.
O polietileno, atualmente usado em quase tudo ligado ao plástico, foi desenvolvido em 1933 pela Imperial Chemical Industries, da Inglaterra. O inventor americano Ives McGaffey concebeu a idéia do aspirador de pó em 1871, aperfeiçoado pelo outro americano James Spangler, em 1907. O náilon foi inventado por Wallace Carothers em 1931, nos Estados Unidos.
A lista poderia continuar, mas com os exemplos citados já podemos chegar a algumas conclusões importantes. Em primeiro lugar, fica evidente o avanço do homem em relação ao seu maior conforto, deixando para trás a ideia romântica de um passado idealizado. Fica difícil imaginar a vida moderna sem alguns desses itens, e logo de cara nos espanta imaginar como sobreviviam antigamente. Várias estatísticas comprovam o exponencial avanço na qualidade de vida, e o campo da saúde é o que merece maior comemoração.
Segundo, a participação dos anglo-saxões e em especial dos americanos nas importantes descobertas e invenções é algo notável. Isso não ocorre por acaso, mas sim devido ao fato de que estes sempre deram maior liberdade aos indivíduos. Por puro mérito próprio, os americanos possuem dezenas de milhões de patentes, e alçaram sua nação ao posto de líder mundial. Cada nova invenção é fruto de um acúmulo de cultura, com pitadas de imaginação fértil, e um ambiente com maior grau de liberdade individual favorece bastante o progresso.
As invenções dependem menos da genialidade de uma pessoa do que do contexto que ela está inserida. O homem é, em parte, um produto do meio. Ou por outra: o ambiente em que está inserido faz diferença. O capitalismo, estimulando o empreendedorismo e a busca do lucro, também exerce papel precípuo nesse avanço tecnológico e cultural, pois possibilita a busca dos interesses particulares dos indivíduos, e garante espaço para que os gênios apareçam. Nunca sabemos quem são ex ante.
Por fim, o domínio do Ocidente frente ao Oriente é notável também. A explicação é similar ao descrito acima, e demonstra a contradição existente nas mentes mais românticas que costumam enaltecer a cultura exótica oriental em detrimento da ocidental. A “sabedoria” milenar chinesa não foi capaz de produzir um centésimo do que os jovens ianques fizeram em dois séculos, e não estamos falando somente de avanços materiais.
Para avançarmos cada vez mais no progresso da humanidade, caminhando sempre para afastar o desconforto natural que enfrentamos, precisamos olhar para trás e compreender as causas que levaram ao nosso avanço. E fica bastante claro com os exemplos analisados que a liberdade individual, num contexto capitalista, com fundamentos civilizacionais presentes no Ocidente, fornecem a melhor receita conhecida. Viva o progresso!
Em tempo: e os socialistas revolucionários? Esses deixaram de legado formas modernas de tortura, jogadores brilhantes de xadrez, e fuzis simples e fáceis de usar (só que copiados dos alemães). Esqueci alguma coisa?