Por Thiago Kistenmacher, para o Instituto Liberal
Aparentemente o jornal francês Le Monde comprou o discurso de “golpe de Estado” tão repetido pelo PT, ou, pelo menos, a ideia de que Dilma não errou ao cometer as tão repetidas “pedaladas fiscais”.
Na rápida matéria publicada ontem e intitulada La triste ironie de la chute de Dilma Rousseff [A triste ironia da queda de Dilma Rousseff], o site do jornal aponta que ”Dilma cometeu erros políticos, econômicos e táticos. Mas sua expulsão, motivada pelas acrobacias contábeis que entregou, assim como outros presidentes, não entrará para a história como um episódio glorioso da jovem democracia brasileira.”
Além disto, o jornal, que aponta Dilma Rousseff como sucessora do “bien-aimé” [amado] presidente Lula, diz que enquanto “uma parte dos brasileiros faz do juiz Sérgio Moro, encarregado da operação ‘Lava Jato’, seu herói”, faz “da presidente seu pesadelo.” Quero ser o último a defender o messianismo, mas convenhamos, Sérgio Moro tem tido peito para enfrentar a quadrilha petista. É mais do que justo reconhecer o trabalho desse juiz que, evidentemente, corre até risco de vida, como acontece com toda autoridade que atrapalha o negócio das máfias.
Mas o que o jornal Le Monde considera uma “triste ironia”? Segundo a matéria, a “triste ironia” é que aqueles que estariam articulando a queda de Dilma Rousseff também não seriam “santinhos”, como no caso de Eduardo Cunha e o presidente em exercício Michel Temer. Claro que não são. E a maioria dos brasileiros que quer o fim do governo PT sabe disso. O problema é que, mesmo que os opositores de Dilma Rousseff e do PT não sejam “santos”, isso não significa que o processo de impeachment seja ilegítimo. O que o jornal, em sutis comentários, dá a entender é que estaria havendo uma conspiração entre os opositores para destituir a presidente do cargo. Quer dizer, mero jogo de oposição.
O jornal também pontua que Dilma se diz “vítima de um ‘golpe de Estado’ fomentado por seus adversários, pelas mídias, e em particular pela Globo, sob as ordens de uma elite econômica preocupada em preservar seus interesses supostamente ameaçados pela sede de igualitarismo de seu partido, o Partido dos Trabalhadores”. O discurso do PT nós já conhecemos. Comum aos partidos de Esquerda, sempre existe uma “elite malvada” por trás de tudo. A vitimização é sempre o carro chefe das argumentações sem fundamento.
Do modo como o Le Monde apresenta o caso – pelo menos no que toca a matéria de hoje – o leitor acaba tendo uma impressão pervertida dos fatos. Assim, a despeito de o processo de impeachment ser previsto pela Constituição, alguns leitores podem julgar, como observei nos comentários, que o Brasil “não está apto para a democracia”, e acabarem comprando o discurso vitimista de um partido que, enfim e aos poucos, enfrenta a justiça.
Para concluir, vale ressaltar que a verdadeira “triste ironia” aqui é que o próprio jornal Le Monde, poucas linhas após assinalar que o processo de impeachment “não entrará para a história como um episódio glorioso da jovem democracia brasileira”, salienta ele próprio que “O processo de impeachment [está] previsto na Constituição Brasileira.”
Sem mais.
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