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O mais cara de pau do mundo

Sei que um psicólogo poderia me diagnosticar, à distância, de masoquista, mas confesso que leio os artigos de Vladimir Safatle, mesmo sabendo que vou precisar de alguns Engovs antes e depois. Leio porque acho importante ver o tipo de falácia que a esquerda está utilizando no momento.

O texto de hoje não me decepcionou. Lixo do começo ao fim (bom, mais no começo do que no fim). Parece até uma tentativa de resposta à minha série “Brasileiro é otário?”, sucesso de audiência aqui no blog. Se for, o militante do PSOL não teve sucesso. Vejamos:

Ao que parece, chegou a hora de saudar o Brasil como o novo país “do mais caro do mundo”. Foram necessárias décadas para alcançar tamanha conquista e, ao que parece, desta vez ela veio para ficar. Afinal, anos de trabalho árduo permitiram aos brasileiros ter o prazer de pagar o dobro no mesmo carro que outros mortais compram sem tanto sacrifício.

Atualmente, ser brasileiro é ter a satisfação de levar para casa o console Xbox mais caro do mundo. É poder humilhar os estrangeiros ao dizer o preço que pagamos em passagens aéreas, escolas, aluguéis e imóveis arrebentados em lugares com fios elétricos na frente da janela.

Para chegar a este estágio, foi necessário não apenas um conjunto substantivo de equívocos econômicos. Foi preciso muita cegueira ideológica para engolir a ladainha de que nosso troféu de “o mais caro do mundo” foi conquistado exclusivamente através dos impostos mais elevados e dos altos custos trabalhistas.

Não, meus amigos. Só em um mundo (como esse em que alguns liberais vivem) sem países como França, Alemanha ou Suécia o Brasil teria os impostos mais altos. Se nos compararmos aos EUA, veremos que a contribuição fiscal per capita de um brasileiro (US$ 4.000) é bem menor do que a de um norte-americano (US$ 13.550).

Que tipo de gente compararia o pagamento de impostos de americanos e brasileiros EM TERMOS ABSOLUTOS? Respondo: somente alguém que deseja apelar para uma artimanha para tentar convencer os idiotas úteis que pagamos poucos impostos!

Os americanos são, em média, quatro vezes mais ricos do que nós. Se pagamos US$ 4 mil por cabeça, aceitando o número do autor, então o equivalente para o padrão de vida dos americanos seria US$ 16 mil. Se eles pagam US$ 13.550, como o filósofo diz, então eles pagam 15% a menos do que deveriam, em termos proporcionais, para chegar ao nosso patamar.

Elementar, meu caro Watson. Mas não é só isso. Pagamos mais impostos em relação ao PIB, e com muito mais complexidade. Ou seja, gastamos muito mais tempo para pagar os impostos, e isso também custa. Sem falar do efeito em cascata de vários impostos na cadeia produtiva. Enfim, detalhes que o gênio deixou escapar…

Na verdade, depois que se inventa o inimigo, é mais fácil esconder o verdadeiro responsável. Nosso troféu de “o mais caro do mundo” deve ser dedicado a esses batalhadores silenciosos do desastre econômico, a esses companheiros de todos os governos brasileiros: o oligopólio e a desigualdade.

A desigualdade econômica, esta tudo mundo conhece. Ela fingiu por um momento que estava se deixando controlar, mas deu não mais que uma unha para permanecer com todos os gordos dedos. Sempre se combateu desigualdade com revolução fiscal que taxasse os ricos, punisse radicalmente a evasão fiscal e limitasse os grandes salários. Mas, no país “do mais caro do mundo”, o tema é tabu. Assim, uma classe de milionários pode empurrar alegremente os preços para cima porque não tem problema algum em pagar pelo mesmo o seu dobro, desde que as lojas ofereçam manobrista VIP e água com gás na saída do estacionamento.

Hummm. Os Estados Unidos são um país bem desigual, basta ver o Gini. Mas nem por isso os carros são tão caros como aqui. Custam três vezes menos, apesar de eles serem quatro vezes mais ricos! Já em Cuba, todos são igualmente miseráveis, à exceção da cúpula do poder. Mas nem por isso eles possuem tantos Toyotas nas garagens. Eis o que podem comprar, quando podem:

Outro detalhe: qual o local com maior renda per capita no Brasil? Acertou quem disse Brasília, a ilha da fantasia dos funcionários públicos e políticos. Ou seja, em nome do combate à desigualdade, parece que antes é preciso concentrar bastante riqueza produzida pelo setor privado. E é bom ter carro por lá, pois se depender do projeto urbanístico do comunista Niemeyer, o transeunte está frito!

Já a nova onda de oligopólios é uma das grandes contribuições da engenharia econômica do lulismo: os únicos governos de esquerda da galáxia que contribuíram massivamente para a cartelização de todos os setores-chaves da economia. Com uma política de auxiliar a formação de oligopólios via empréstimos do BNDES, o governo conseguiu fazer uma economia para poucos empresários amigos. Nela, não há concorrência. Assim, os preços descobriram que, no Brasil, o céu é o limite.

Agora sim! Finalmente Safatle diz algo verdadeiro, após tantas colunas! Nossos oligopólios não são o resultado do funcionamento do próprio mercado, do capitalismo liberal, mas sim da intervenção do estado. É ele que cria privilégios, distribui subsídios, ergue barreiras protecionistas, dificulta a entrada de produtos e novos concorrentes.

Em outras palavras, tudo custa tão caro no Brasil porque temos elevada e complexa carga tributária, uma infraestrutura capenga, encargos trabalhistas absurdos, burocracia asfixiante, e muito, muito protecionismo comercial. Em todas as cenas do crime, lá estão as impressões digitais do governo, não do mercado.

Mas o que Saflatle, do PSOL, oferece como solução? Mais estado, mais impostos, menos mercado, menos concorrência capitalista! Gênio…

Muitos reclamam do “Lucro Brasil”, mas o problema é o “Custo Brasil”. As multinacionais não ficam mais gananciosas ao cruzar a linha do Equador. Não é o clima tropical que encarece os produtos. E jamais poderia ser o liberalismo, este que nunca nos deu o ar de sua graça. Só resta uma opção: o excesso de intervenção estatal. Eis o culpado, meritíssimo. Caso encerrado.

PS: Aproveito para comunicar que na semana que vem vou viajar para Miami e ficar uns dias longe do blog. É que não sou rico nem fazendeiro, e por isso não posso me dar ao luxo de comprar os presentes de Natal no Brasil, pagando o triplo por tudo.

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