Em entrevista à Folha, Wesley Batista, presidente da JBS, diz que está preparado para enfrentar alguns anos ruins pela frente, mas que o mais preocupante mesmo é a perda de competitividade do país. Como presidente de um grupo que atua em inúmeros países, ele pode fazer comparações dentro da própria empresa e verificar como o Custo Brasil dificulta o ambiente de negócios por aqui. Diz ele:
Somos uma empresa otimista, mas não adianta tapar o sol com a peneira. Temos uma realidade super desafiadora no Brasil. 2015 está sendo um dos anos mais difíceis das últimas duas décadas. Nós acreditamos muito na capacidade de recuperação. Se você me perguntar como está a curto prazo, eu respondo que está difícil e vai ficar difícil. No médio prazo, em 2017 ou 2018, o Brasil volta para o trilho. Este é o ano mais difícil do ciclo. Não mudamos a nossa estratégia de investimento porque estamos olhando para frente. Se fôssemos olhar para este ano e tirar uma fotografia, nós teríamos parado. Agora, estamos fazendo os ajustes que são necessários. Como diz o ditado, você tem que dançar conforme a música. Todo ajuste é complicado, no setor público ou no privado, é sempre dolorido, causa estresse.
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Nos preocupamos menos com o momento e mais com o caminho. O juro está alto porque tem que ficar alto momentaneamente. A inflação está alta e tem que voltar para a meta. Em um, dois, três anos o juro pode voltar para níveis mais acessíveis. A economia vai decrescer, mas daqui a pouco vai ajustar. O que mais nos preocupa é a competitividade brasileira. O Brasil está perdendo competitividade e precisa de reformas estruturais. Esse é o tema que mais nos preocupa.
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Estamos regredindo na área tributária, trabalhista… As relações trabalhistas estão a cada dia mais litigiosas, está mais incerto. Quando olho para os últimos dez anos, hoje a situação está muito pior. Estamos indo no caminho errado. O sistema tributário há dez anos era mais simples do que é hoje. A insegurança jurídica está aumentando no Brasil. Isso tudo preocupa. Hoje eu falo com conhecimento de causa. Eu ouvi por muitos anos falar em “custo Brasil” e, na realidade, eu não conseguia mensurar isso. Hoje, a JBS tem operações grandes fora do Brasil, em diversos países, e eu sei exatamente o que é o custo Brasil e a sua complexidade.
Não tenho muito a acrescentar. O Brasil está, de fato, regredindo. Nessa e em outras áreas. O Custo Brasil é enorme, e não temos competitividade. Os motivos são conhecidos: governo inchado, perdulário e intervencionista, leis trabalhistas anacrônicas, carga tributária absurda e complexa, infraestrutura capenga, mão de obra pouco qualificada, etc. Ou seja, falta liberalismo no Brasil, e sobra governo!
Apenas acrescentaria que o BNDES tem sua parcela de culpa nessa situação. Para tentar compensar o Custo Brasil, e sob o comando de um desenvolvimentista nacionalista como Luciano Coutinho, o banco resolveu selecionar os “campeões nacionais”, e emprestou bilhões subsidiados para poucos e grandes grupos, transferindo recursos dos pobres para os ricos. Isso não se reverteu em maiores investimentos como um todo nem em maior competitividade. E foi feito com pouca transparência, que, espera-se, será revertido na CPI do BNDES.
O banco apenas ajudou a formar conglomerados “da noite para o dia”, como o grupo X, de Eike Batista, e como, ops!, a JBS, de Wesley Batista (vai ver o critério era ter Batista no sobrenome). Disso ele não falou…
PS: Na entrevista, Wesley comenta o caso da polêmica de um comercial em que a empresa citava a marca que começa com S e termina com A, podendo ser tanto a mais conhecida Sadia como a sua Seara. Pensei em como as coisas são mais evoluídas e animadas nos Estados Unidos, onde empresas citam abertamente o nome das concorrentes ou mostram como seus produtos são melhores. A Coca-Cola e a Pepsi se digladiam há décadas assim. A Fox cita que tem credibilidade pois não é uma NBC da vida. Uma garrafa com filtro de água mostra o teste no qual a concorrente, com nome exposto (Brita), continua com inúmeras impurezas. E por aí vai. Quando será que vamos evoluir para tal grau de liberdade de expressão e propaganda?
Rodrigo Constantino