Em sua coluna de hoje no GLOBO, o economista Rogério Werneck traça um bom paralelo entre o acidente de trem na Espanha e o descarrilamento de nossa economia. Diz ele:
Em desastres ferroviários de verdade, a atribuição de culpa tende a ser mais simples. No terrível acidente ocorrido na Espanha, na semana passada, não foi nem preciso investigação mais profunda. Numa curva em que o trem não deveria ter entrado a mais 80 km por hora, o maquinista se permitiu conduzir a composição a 190 km por hora. Mas, na análise que aqui se faz, o descarrilamento é só uma metáfora. Apontar culpados já não é tão simples.
A dedução fácil, com livre trânsito no PT, é a que a culpa é do governo Dilma. A narrativa um tanto superficial é que tudo vinha excepcionalmente bem até 2010, quando o PIB chegou a crescer nada menos que 7,5%. A partir daí, as coisas começaram a desandar. O novo governo acabou metendo os pés pelas mãos e não conseguiu manter o dinamismo da economia. O PIB cresceu apenas 2,7% em 2011 e míseros 0,9% em 2012. E, em 2013, talvez não cresça o suficiente para que a taxa média anual de crescimento do triênio 2011-2013 chegue a 2%.
Essa narrativa omite parte importante da história. Para começar, ao se permitir entrar na curva do ano eleitoral de 2010 com o PIB crescendo à irresponsável taxa de 7,5% ao ano, Lula legou um problema de estabilização espinhoso à sucessora.
Exato! O que os “desenvolvimentistas” não querem aceitar é que as sementes dos problemas atuais foram plantadas lá atrás, quando Lula ainda era presidente. A grosseria mesmo, foi a acelerada em 2010 com fins somente eleitorais. O maquinista, de olho apenas na permanência no poder, desafiou as leis da gravidade e impôs uma velocidade artificial à economia que era insustentável.
Não pretendo aliviar a barra para o lado da presidente Dilma. Longe de mim! Ela conseguiu pegar essa “herança maldita” de seu próprio partido, lembrando que ela também já era figura importante daquele governo, e agravar muito o quadro. Com seu autoritarismo, com seu patamar absurdo de intervenção arbitrária, Dilma gerou mais desconfiança nos investidores, o que piorou a situação, que já era ruim.
A tentativa de alguns petistas, portanto, de separar Dilma e Lula, clamando pela volta deste, não passa de um grito de desespero de quem ignora as verdadeiras causas dos problemas. Pode ser que Lula tivesse mais jogo de cintura, mais flexibilidade, mais faro econômico ou habilidade política. Mas, ainda assim, teríamos um resultado parecido, beirando à estagflação. Esta, afinal, é resultado das medidas desenvolvimentistas adotadas ainda no governo Lula.
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