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O massacre da credibilidade

Por Bene Barbosa (com a colaboração de Carlos H. Correia)  

Grandes jornais e portais de notícias brasileiros passaram a divulgar a seguinte notícia: “EUA tiveram mais de 350 ataques em massa só este ano”. Vejamos o trecho inicial: “O tiroteio na Califórnia está longe de ser um caso isolado. Somente este ano, segundo levantamento do jornal “Washington Post”, foram 355 ataques com ao menos quatro vítimas entre mortos e feridos, numa média de mais de um por dia.”

Terrível! Quase um tiroteio em massa por dia! Malditas armas e esses americanos malucos! Quanta violência! Temos que desarmar! Isso só acontece porque os americanos possuem muitas armas! Essas e outras expressões pipocam nos comentários das ditas matérias. Mas será verdade? Quais os critérios e a fonte do Washington Post? FBI, CDC? Não! Trata-se de uma ferramenta colaborativa, ao estilo Wikipedia, feita por pessoas favoráveis às maiores restrições chamada “Mass Shootings Tracker”.

Qual a fonte e os critérios para essa mórbida contagem? Well, well… a fonte é.. a própria imprensa! São notícias publicadas em jornais e sites americanos enviadas pelos seus colaboradores! Imaginem a precisão e a confiabilidade de tais dados. Para termos uma pequena ideia do disparate numérico existente entre a realidade e o que vem sendo publicado, peguemos os dados levantados pela ONG Mother Jones, também favorável ao desarmamento, mas que usa os critérios e os dados oficiais do FBI que apontam que houveram 73 ataques desde 1982, causando 581 mortes em 33 anos.

Quais os critérios adotados? Para esse pessoal qualquer evento que envolva disparos de armas de fogo que tenha feito 4 ou mais vítimas (entre mortos e feridos) é um “mass shooting”, incluindo nesse cômputo o assassino, as vítimas e os agentes da lei. Outro ponto crucial é que a motivação do ataque também é descartada e, assim, um ataque terrorista como o desta semana na Califórnia passa a ser mais um evento de “massacre com armas de fogo”, enquanto os mesmos jornais continuem afirmando que os ataques em Paris sejam “apenas” atos terroristas.

Dois pesos e uma medida em grau máximo. Não acreditam em mim? Não precisam! Vejamos um exemplo que pesquei no tal levantamento. Caso de “mass shooting” número 66 ocorrido na cidade de Albuquerque no Novo México. O saldo da ocorrência é de um morto e seis feridos e foi noticiada pelo Albuquerque Jornal de 23 de março que inicia a notícia com o seguinte parágrafo: “Uma briga entre dois grupos que celebravam um aniversário em Los Altos Skate Park no Northeast de Albuquerque explodiu em tiroteio na noite de domingo, deixando um estudante de 17 anos morto no estacionamento e outros seis baleados e feridos”.

Entendeu? Para esse pessoal, uma guerra de gangues, um acerto de contas entre quadrilhas, homicídios encomendados, guerra entre traficantes ou terrorismo, desde que com o número de vítima adequados, é um ataque em massa com armas de fogo! Agora, terríveis casos como o dos dois irmãos que mataram o pai, a mãe e outros três irmãos em Oklahoma em julho deste ano não importam, afinal, usaram facas…

E os problemas não param por aí. Temos ainda a inacreditável ocorrência de triplicidade de eventos – um pecado mortal em qualquer levantamento sério – onde uma mesma ocorrência foi contabilizada três vezes. É o caso dos registros de números 316, 340 e 341 onde 5 pessoas foram feridas em um apartamento no sul de Fort Wort,Texas. Não bastasse isso, ainda encontramos a denúncia da contabilização de casos envolvendo armas de pressão, um dos casos ocorreu em St. Petersburg, Florida, e envolveu alguns feridos por disparos de “chumbinho”.

Após a denúncia tais casos parecem ter sido retirados, mas em determinado momento estiveram lá, o que joga mais sombras ainda sobre a seriedade de tal levantamento. Já imaginaram se o Brasil adotasse esse mesmo critério para classificar como “mass shooting” qualquer ocorrência com 4 ou mais baleados? Não tenham dúvidas: seríamos os campeões mundiais! Ah! Esqueçam essa bobagem que escrevi. Esqueci, por um momento, que o Estatuto do Desarmamento está aqui para impedir que isso aconteça.

Em resumo, o “Washington Post” é a fonte da imprensa brasileira e a fonte do “Washington Post” é uma ferramenta colaborativa com critérios para lá de suspeitos, onde há duplicidade de casos e até ocorrência envolvendo armas de pressão. O maior massacre é o da credibilidade e a vítima é o leitor.

* Bene Barbosa é Presidente do Movimento Viva Brasil e coautor do livro Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento

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