Entristece qualquer pessoa razoável, que gosta de um bom debate de ideias calcado em argumentos, ver a quantidade de brasileiro que aplaude truques de retórica, estratagemas de erística e táticas de intimidação como se isso fosse um debate verdadeiro. “Ciro Gomes arrasou com você, otário”, repetem aqueles desesperados pela falta de argumentos. Mas até aí, tudo bem. Muito brasileiro parece desejar um coronel para chamar de seu, uma espécie de Fidel Castro nordestino que bata no peito e “faça acontecer”. Freud explica.
O que realmente chama a atenção, porém, é tanta gente acreditar mesmo que o livre mercado seria ruim para o Brasil, que nosso país, por ser mais atrasado (por excesso de estado), precisa da intervenção clarividente dos políticos para competir no mundo global. São muitos deformados por essa ótica “desenvolvimentista”, que ainda seduz nos trópicos. Quanto mais o estado intervém com essa desculpa, mais ficamos para trás. E essa gente pede mais estado como solução. Foi a reação que notei ao publicar os novos ataques de Ciro à Escola Austríaca e ao estado mínimo.
É o mito do protecionismo esclarecido. Temos como competir com o resto do mundo, que tem taxas de juros nulas, sem subsídios do BNDES ou sem derrubar nossos juros na marra? Aí em vez de entender as causas dos altos juros (excesso de estado), essa turma aplaude um governante “corajoso” (populista) que vai resolver isso. Esquecem que Dilma acabou de tentar esse caminho, com os aplausos de Ciro Gomes, e deu no que deu. A estupidez no Brasil tem um passado formidável e um futuro, pelo visto, glorioso.
Pois bem: aos que pedem mais fundamento na crítica, então, segue um texto que escrevi para a revista Amanhã, há alguns anos, justamente refutando essa ideia de que foi o protecionismo estatal que permitiu o avanço de certos países asiáticos, não o livre mercado e a globalização. O que Ciro e companhia fazem é apenas repetir essas falácias de economistas “desenvolvimentistas”, como o coreano Ha-Joon Chang, que não ligam para a coerência, pois têm uma agenda ideológica e política por trás. Lá vai.
O Mito do Protecionismo Esclarecido
Uma coletânea de falácias. Assim pode ser resumido “Maus Samaritanos”, o novo livro de Ha-Joon Chang, que defende o protecionismo estatal contra o livre-comércio. O “novo desenvolvimentismo” de Chang é apenas o velho mercantilismo.
A tese do livro é que os países ricos se desenvolveram graças ao protecionismo estatal. Agora, eles pretendem “chutar a escada” e impedir o acesso aos países pobres. Para tanto, contam com um poderoso aparato de neoliberais – os “maus samaritanos”. Assim, a privatização, a redução da burocracia, um banco central menos politizado, o combate á inflação, a abertura comercial e o equilíbrio orçamentário do governo seriam medidas prejudiciais aos países pobres, defendidas pelos neoliberais por interesse ou ignorância. A “Trindade Profana”, representada pelo FMI, OMC e Banco Mundial, seria a principal arma deles.
Contra a “mão invisível” do mercado, seria necessária a “mão benevolente” do governo. Trata-se do velho dirigismo estatal, a crença de que o Estado deve assumir a locomotiva do desenvolvimento econômico. Chang parece acreditar que um “déspota esclarecido” irá decidir qual protecionismo é desejável, e tomar medidas sempre com o “bem-comum” em mente. O governante será clarividente e honesto, uma espécie de “rei filósofo” platônico. Chang acredita no paternalismo estatal, e chega a fazer uma analogia entre a proteção ao seu filho de seis anos até a maturidade, e a proteção do governo às “empresas nascentes”. O governo é o pai do povo.
Os países ricos deveriam aceitar o protecionismo dos mais pobres sem reclamar, pois são mais ricos. Um dos problemas disso é que o protecionismo não beneficia os países pobres, mas sim grupos ricos desses países. É análogo ao marxismo dentro de cada nação: atacar os mais ricos não favorece os mais pobres, e sim o contrário. Outro problema desse raciocínio é que o protecionismo seria desejável dentro da nação também. Cada estado deveria proteger suas indústrias para garantir seu desenvolvimento. A lógica poderia continuar: cada bairro deveria fazer o mesmo. No extremo, acaba-se concluindo que a auto-subsistência do indivíduo pode ser desejável.
Chang confunde correlação com causalidade, citando fases protecionistas com bons resultados, e afirmando que as reformas neoliberais geraram as crises. A falácia desse raciocínio é que o crescimento apenas hipotecou o futuro. Após uma era de crescimento artificialmente gerado pelos gastos estatais, um ajuste se faz necessário. Mas Chang prefere condenar o termômetro pela febre. Ele ataca os sintomas expostos pelo mercado, em vez das causas plantadas pelo desenvolvimentismo.
Se há protecionismo nos países desenvolvidos, então ele é causa do sucesso. No livro, “aprendemos” que Taiwan, Cingapura, Irlanda, Estados Unidos, Inglaterra e Suíça são exemplos de sucesso do protecionismo esclarecido, e que Argentina, Brasil e Rússia são casos de fracassos do neoliberalismo. Quanta inversão!
Chang posa como o “bom samaritano” em defesa dos países pobres, mas, na verdade, ele é apenas o defensor dos ricos desses países. Seu discurso protecionista seria abraçado com empolgação pelos grandes empresários interessados em barrar a livre concorrência. Com “bons samaritanos” como o senhor Chang, os pobres não precisam de inimigos!
E não é exatamente o que Ciro e Dilma representam? Em nome do “desenvolvimentismo” e dos pobres, eles beneficiam os ricos e influentes no governo, como empreiteiros, o grupo JBS, Eike Batista etc. Derrubaram os juros na marra e entregaram o país com uma taxa de juros maior do que encontraram. O BNDES virou o Bolsa Empresário para a alegria de poucos e grandes empresários. A corrupção deslanchou e nunca se viu tantos escândalos. As estatais quebraram. O resultado prático das políticas defendidas por Ciro Gomes e companhia.
Ciro Gomes fala do sucesso da Coreia como se fosse obra do estado? E esquece que foram justamente os chaebols, os conglomerados ajudados pelo governo, que estiveram no epicentro da crise que quase quebrou o país e colocou todo esforço liberalizante a perder?
Mas quem liga? Dá bilhão? Não. De fato, da uns R$ 500 bilhões! Mas Ciro e os “desenvolvimentistas” não enxergam nada disso, até porque não poderiam manter suas vidas nababescas com um estado mínimo. “É preciso proteger nossa indústria para que ela possa competir com o mundo global”, alegam. E a indústria automotiva nacional é o infante mais idoso do planeta, com mais de 70 anos. Resultado: temos os carros mais caros do planeta!
Tom Palmer, no Fórum da Liberdade, massacrou Ciro Gomes mostrando justamente a arrogância do político brasileiro, que fala em nome dos pobres e só pensa nos ricos e na elite, nele mesmo. Vejam:
Mas tudo isso são “apenas” argumentos, fatos, dados empíricos, lógica teórica. Quem liga para eles? Não o brasileiro, caso contrário não estaríamos nesse caos e miséria. Não aqueles que votam no PT, nas esquerdas. Não aqueles que acham que “humilhar” é bancar o machão num debate e impedir a fala do outro. “Está rindo de quê?” Ora, da burrice alheia, da estupidez de vocês. Mas não é para rir, eu sei. É para chorar. O Brasil paga um preço alto demais por ter tanta gente assim, que se acha malandra, mas é no fundo muito otária…
Rodrigo Constantino
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