Frei David Santos, da ONG Educafro, é um dos mais barulhentos defensores da segregação racial no Brasil, um país essencialmente miscigenado e pardo. Bate o bumbo das cotas raciais o tempo todo, e se coloca como porta-voz (sem procuração) do tal “povo negro”, uma espécie de nação paralela dentro do Brasil.
Em artigo publicado hoje no GLOBO, ele trata de forma monolítica do suposto “voto negro”, para pressionar os candidatos a endossar sua agenda racialista, como se falasse em nome de todos os eleitores com a pele um pouco mais escura. Diz ele:
Nestas eleições, o voto negro será o fiel da balança, especialmente para garantir e dar passagem para os candidatos ao segundo turno. Todo bom partido governante precisa ser bom para todos os segmentos da população.
O fiel da balança será o voto de milhões de brasileiros com diversas características, tais como credo religioso, cor da pele, inclinação sexual, preferências ideológicas. Tratar um grupo de mais da metade dos eleitores como um só bloco do tal “voto negro” é realmente algo absurdo, um truque para sobrevalorizar o critério racial, o único que David Santos enxerga.
Presume-se que um presidente governe para todos os brasileiros, não para diferentes segmentos estanques que sequer existem na prática, apenas na cabeça coletivista de alguns. Mas o frei faz seu alerta, ou ameaça, pretendendo falar em nome de todos os negros e pardos do Brasil:
Quem não considerar o voto da negritude e não tiver um tratamento direto ou indireto voltado para esse segmento, após as eleições, poderá se arrepender.
[…]
Não nos iludamos: o povo negro daqui para a frente, com seu crescente ingresso nas universidades e nos altos postos do mercado de trabalho através das cotas nos concursos públicos, terá grande papel na construção do novo Brasil que estamos desenhando. A influência de um cotista no seu grupo familiar, quase sempre por ser o único com faculdade, é grande! Um bom político e um partido sério não podem se contentar com um aparente silenciamento da população negra e sua postura política — que não é ouvida. Algo novo está surgindo e será um grande diferencial para a construção da nova nação: plural e participativa.
Que “povo negro” é esse? Aquele que inclui Joaquim Barbosa, atacado pelos petistas sob ensurdecedor silêncio dos líderes dos “movimentos raciais”? Notem a estratégia pérfida do autor: ao se colocar como representante oficial do “povo negro” e logo depois enaltecer as cotas raciais, ele está tentando dizer que só quem defende as cotas se preocupa com os negros. Mas e todos os negros que rejeitam as cotas? Esses ou não existem para o frei, ou são “traidores” da causa. Ele conclui:
O povo afrodescendente foi e está sendo incluído no sistema social e quer nele permanecer. O compromisso que espera de todos os candidatos é que sempre coloquem o tema da inclusão como pauta prioritária. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, de agosto de 2012 a agosto de 2014, naquela Casa, os processos contra o racismo cresceram mais de 150%, incluindo o do goleiro Aranha, apesar da visão equivocada de Pelé. Uma nova consciência de pertencimento está sendo desenhada, e o silenciamento frente à discriminação do povo negro, por parte dos candidatos, poderá custar caro.
Viram só? Pelé, que tem pele bem mais escura do que o próprio David Santos, passa a ser ignorado, pois tem opinião diferente sobre o caso Aranha. Negros que discordam da histeria racial, ou da judicialização excessiva do preconceito, ou do coletivismo forçado dos movimentos raciais, não contam. Mas por que David Santos fala mais em nome do “povo afrodescendente” do que Pelé? Só porque ele quer?
O que se espera de todos os candidatos é que coloquem os interesses do povo brasileiro como um todo em primeiro lugar, não que sejam reféns das pressões coletivistas de grupos organizados que falam em nome de certas “minorias”.
O sonho de David Santos deve ser criarmos um país paralelo em que ele fosse o grande líder desse “povo negro”. Só seria complicado preservar o discurso de vitimização sem os “opressores” da “elite branca” culpada. Quem que as “vítimas” iriam explorar assim?
Rodrigo Constantino