O ar que se respira no mundo politicamente correto atual é pesado, carregado, asfixiante. Cada palavra deve ser pesada, refletida com muito cuidado. Essa patrulha enxerga “ofensa” em todo lugar, pois só os “ofendidos” terão lugar no Céu. Vivemos na era da “marcha das minorias oprimidas”, da “revolução das vítimas”.
Somente quem alega um motivo para chorar consegue um lugar ao sol. O restante – o homem branco heterossexual cristão ou judeu – é o vilão nessa narrativa. Luta de classes em larga escala, ampliando o rol dos oprimidos até o denominador comum: não ser parte da “elite”.
Estou, confesso, de saco cheio disso tudo! Vou sempre remar contra a maré vermelha. A turma politicamente correta desperta em mim o desejo de ser ainda mais “reacionário”, de resgatar valores tradicionais que se perderam, voltar no tempo e buscar os clássicos, para insultar mesmo, para chacoalhar a mesmice modorrenta de hoje, dessa geração mimimi.
Escrevi um texto importante sobre isso ontem, mas que teve menos repercussão do que deveria, em minha opinião. Talvez tenha sido o título, que deu mais peso ao caso específico da CNN, em vez de tocar no cerne da questão: o ódio que o politicamente correto tenta ocultar, mas que volta com mais força ainda. Volto ao ponto-chave:
Vivemos na era do politicamente correto. Isso, todos sabem. Mas o que é esse PC, e de onde ele vem? Em parte, ele é fruto do narcisismo de uma geração mimada, refém do “marketing do comportamento”. Ou seja, pessoas que precisam se considerar as mais bondosas e tolerantes do planeta, em nome de sua imagem, mas que, no fundo, não são nada disso, criaram um mecanismo de autoengano e de restrição aos seus próprios sentimentos preconceituosos. Nascia assim a ditadura do politicamente correto.
Por isso todo “progressista” costuma ser um hipócrita. Porque eles falam em nome da tolerância, da igualdade, da diversidade, mas não costumam praticar nada disso. Os sinceros chegam a acreditar que são mesmo almas abnegadas, ao contrário dos canalhas conscientes. Para evitar a dissonância cognitiva, a dor de suas próprias contradições esquizofrênicas, essa turma politicamente correta adota o velho duplo padrão, bem seletivo.
Mas os sentimentos continuam lá, embaixo do pano. Os preconceitos seguem vivos, atrás das aparências. O politicamente correto é a máscara que, um dia, cai.
Vejamos o mais novo caso: a campanha da revista Vogue com Cléo Pires e Paulinho Vilhena com membros amputados pelo photoshop, para despertar a “consciência” contra o preconceito aos deficientes, tendo como pano de fundo a paraolimpíada. Já publiquei no blog um texto bom de Thiago Kistenmacher sobre o assunto, em que fala dessa coisa estranha de “capacitismo” (é cada nome que vou te contar), ou seja, quem pretende ajudar deficientes teria um preconceito intrínseco e estaria apenas querendo demonstrar sua superioridade. PQP!
Ele conclui: “Se for prestar auxílio a uma pessoa, tome cuidado com ela, mas também com você, afinal de contas, a patrulha está de olho e vê ódio em tudo, menos nela própria”. E é esse o ponto central aqui: eles odeiam! Eles odeiam muito! São os mais preconceituosos, os mais odientos, talvez olhem com desprezo para um aleijado (ainda posso usar esse termo?), e por isso precisam “tamponar” esses sentimentos horríveis com esse discurso falso, invertido. É pura projeção.
As melhores piadas de português que já escutei foram contadas por portugueses (mas desconfio que não entenderam). O mesmo para piadas de judeus (que me cobraram para escutá-las), ou de negros (quando estive visitando favelas). Mas essa patota jamais contaria piadas desse tipo. Não consegue. Por quê? Porque o preconceito está nela! Porque eles não conseguem separar as coisas e entender que uma piada é apenas uma piada, que podemos rir dela mesmo quando nos “ofende”, principalmente quando nos ofende, pois esse é o propósito da piada: fazer troça com alguma caricatura qualquer.
Tenho um bom repertório de piadas de baixinhos se o leitor quiser. Posso contá-las do alto dos meus 1,70m, que é para intimidar mesmo. Mas se alguém me chamar de “anão de jardim”, devo procurar o Ministério Público? Alguma ONG, talvez? Que mundo chato de covardes!
Novamente: os únicos que já tentaram (tentaram) me atacar com base em atributos físicos foram os “progressistas” defensores do PT, do politicamente correto. Acham que me xingar de “baixinho gordo” é um bom substituto para a falta de argumentos e que vai me incomodar. Novamente: projeção. Como eles são preconceituosos, enxergam ofensa mortal em tudo. Tadinhos…
Ainda sobre o caso da Vogue, com um ponto de vista um pouco diferente, recomendo o artigo de Flavio Morgenstern no Senso Incomum. Ele captura bem o zeitgeist e essa pentelhação toda dos “ofendidinhos”, e diz:
A idéia por trás do politicamente correto é uma polícia vernacular, uma revolução na linguagem maior do que a Revolução Russa foi em relação à política. Trata-se de se indignar, de procurar desigualdades, exclusões, opressões e injustiças no que se fala, para se transformar a realidade (e nossa relação com ela) através das palavras. Exemplos extremos de tal polícia política verbal são a teoria crítica e, mais radicalmente, a análise do discurso.
Quando a própria Vogue tenta ganhar seu quinhão promovendo tal transformação de “artes, moda e vida”, seu departamento comercial ganha alguns leitores ricos que estudam Ciências Sociais, tingem o cabelo de roxo e fumam bagulho, mas o propósito de tais indignados sociais classe AAA é a própria indignação, não um mundo melhor. Indignação pela indignação: se o mundo se tornar um lugar habitável e eles não tiverem do que reclamar, sobre o que postariam no Facebook?
O objetivo de modismos como o feminismo, o discurso de ativismo gay, ou a causa “anti-racista” que trata negros como peões de xadrez é justamente estar “problematizando”: enxergando problema em tudo, até e sobretudo onde eles não existem.
Se a tônica é achar que a grande injustiça do mundo é, digamos, o preconceito contra homens que usam glitter na barba (sem print ninguém acredita), uma preocupação que só pode atingir, única e exclusivamente, gente que nunca pegou um ônibus ou calculou quantas horas com o bucho num tanque lavando roupa custa a sua conta de internet, é óbvio que tais pessoas, até mesmo numa propaganda favorável às Paraolimpíadas, iriam “problematizar”.
Como deixamos a coisa chegar a esse ponto ridículo, gente? Não só de “homens” que usam glitter (?) na barba, como gente que se ofende com tudo. Fico pensando em um Clint Eastwood tendo de conviver num mundo desses: é desesperador mesmo! Morgenstern conclui: “Conservador, no caso, é exatamente aquele que fica de saco cheio rapidamente do jogo de espelhos e sente saudade da época em que as pessoas não eram tão impiedosamente chatas”. É isso: as pessoas estão chatas demais!
Por isso o desabafo, esse “manifesto”. Pelo direito de falar aleijado e apontar para o preconceito de quem enxerga preconceito nisso (Aleijadinho não é um artista famoso?). Pelo direito de contar piadas de “minorias” e achar graça, rir delas, com os amigos das tais “minorias” que ainda não politizaram tudo na vida. Pelo direito de mandar à merda esses chorões todos que enaltecem sempre os fracassados e tentam relativizar o sucesso. São perdedores em dose dupla!
Essa gente chata vai chegar ao extremo – se é que já não chegou – de afirmar que não ter os dois braços e as duas pernas não é algo necessariamente ruim, negativo, e sim “apenas diferente”, e que não podemos lamentar a situação do aleijado pois isso seria “ofensivo” e “preconceituoso”. Ofensivo é fingir na frente do cara que não é nada demais ter todos os membros amputados, porra!
Imagina só, você nessa situação terrível, fazendo de tudo para dar a volta por cima, tentando viver apesar de tudo, superar obstáculos evidentes, e vem um desgraçado covarde, preconceituoso, odiento, mas que precisa aparentar ser a alma mais abnegada e tolerante do mundo, te dizer que não tem “nada demais” você ser assim, que você é “exatamente igual” aos demais. Só porque não é ele, né?! O aleijado pode não ter condições, mas alguma alma realmente bondosa perto dele bem que poderia dar uma porrada no sujeito politicamente correto.
Chega de tanto ódio mascarado de bondade, seus hipócritas! Olhem no espelho, olhem de verdade, e deixem os demônios da sua natureza humana te falarem algumas verdades. Parem de fingir tanto que estão acima do bem e do mal. Vocês não estão. Digo mais: vocês são os piores de todos, pois dissimulados, falsos como uma nota de R$ 3. E tornaram o mundo um lugar insuportável para pessoas normais (sim, elas existem).
Rodrigo Constantino
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