No dia seguinte ao já famoso “debate” que tive com Ciro Gomes num programa de TV, mais de uma década atrás, palestrei no Fórum da Liberdade no painel logo após a fala do político esquerdista. Ele tinha condenado o intuito de republicanos construírem um muro na fronteira com o México (sim, isso já vinha desde antes de Trump), e comparou isso ao Muro de Berlim.
Essa analogia é manjada e muito utilizada pela esquerda. O sociólogo Demétrio Magnoli lançou mão da mesma tática em seu artigo de hoje sobre Victor Orbán, o líder nacional-populista da Hungria, admirado por e admirador de Bolsonaro. Orbán merece várias críticas por sua visão de “democracia iliberal”, e também por seu nacionalismo xenófobo. Mas Demétrio erra a mão quando mistura os dois muros, como fez Ciro Gomes:
Hoje, o líder que nasceu da derrubada de um muro converteu-se no principal arauto da construção de muros. Orbán é a face icônica da Europa xenófoba que invoca o direito do sangue para implantar barreiras de arame farpado diante de refugiados do Oriente Médio e do norte da África.
Se a construção de muros é ou não algo desejável, isso é outro debate, válido. Na mencionada palestra, eu condenei esse caminho, mas hoje vejo que ele faz todo sentido. Toda nação tem direito de se proteger, e barrar a entrada de imigrantes ilegais.
O que a esquerda democrata, cada vez mais radical, sugere, com os aplausos de Demétrio, é uma política de abertura geral das fronteiras, o que é ingênuo na melhor das hipóteses, irresponsável na mais provável. Pior ainda é uma política imigratória totalmente frouxa com um estado de bem-estar social, ou seja, o governo ainda banca os imigrantes ilegais, como prega a esquerda. E isso sem falar dos problemas culturais, falta de assimilação etc.
Mas se o debate sobre imigração merece mais respeito e menos chavões, isso se torna impossível com a retórica utilizada por Demétrio e Ciro Gomes, entre tantos outros. O sujeito pode condenar a suposta xenofobia de líderes nacional-populistas, e pode ser até contra a construção de muros.
Mas não faz o menor sentido comparar um muro que pretende impedir a entrada de imigrantes ilegais com o famoso muro erguido por comunistas, que impedia a saída do próprio povo! Não perceber esse “pequeno detalhe” na diferença de essência entre ambos é algo realmente espantoso…
Rodrigo Constantino