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O óbvio ululante: criticar Bolsonaro não é sinônimo de defender Ciro Gomes

Entendo: estamos em ano eleitoral. Entendo: o clima é de guerra total, tudo ou nada, ou vai ou racha, seremos a Venezuela ou o Chile. Entendo: as redes sociais acirraram os ânimos e criaram um clima de torcida partidária ainda maior. Posso compreender tudo isso, e ainda assim fechar com meu editor Carlos Andreazza, que lembrou que a vida não se resume a um segundo turno.

Infelizmente, muitos não entendem isso, tampouco o meu papel, que confundem com o de um animador de torcida, um marqueteiro de candidato, e não um analista independente que defende uma doutrina liberal com viés conservador que está acima de nomes particulares, pessoas e, principalmente, políticos. Por isso enxergam qualquer crítica ao seu candidato como um ataque mortal e prova de que debandei para o lado inimigo. Cansa…

Como sabia Nelson Rodrigues, o óbvio ululante precisa ser dito, pois poucos são capazes, pelo visto, de enxerga-lo. Ainda mais nos dias de hoje, das redes sociais, de eleições, de polarização extremada. Portanto, vamos lá: quando critico alguma postura, fala infeliz ou ação condenável – na minha opinião, claro – de Jair Bolsonaro, não estou automaticamente defendendo Alckmin, Amoedo e muito menos Ciro Gomes.

Não são poucos os seguidores que cobram essa “resposta”. Ataquei algo em Bolsonaro? Eles logo surgem para me colocar contra a parede: “Prefere o Ciro Gomes? Está fazendo campanha para o Alckmin? Vai de Amoedo 1%?” É uma visão pobre da coisa, eu diria. É viver aprisionado num eterno Fla x Flu, sem se dar conta de que há mais no mundo do que vossa vã disputa eleitoral.

Claro que entendo que, ao condenar algum candidato, posso estar dando munição ao adversário ainda pior. Mas nem por isso devo me calar diante de situações criticáveis. Por exemplo: se eu desconfio da conversão liberal de Bolsonaro, que insiste em votar contra o liberalismo e a titubear quando o tema é privatização, isso não quer dizer que ele seja menos liberal do que Ciro Gomes; quer dizer apenas que ele não convenceu ainda como liberal, e que externar isso é crucial para o debate, para preservar a imagem do liberalismo, e até para tentar trazê-lo mais para cá, pro lado liberal.

Não é assim que muitos percebem, lamento dizer. Se o foco fosse quase todo em criticar um e nada dizer sobre os demais, tudo bem, a crítica até seria pertinente. Mas está longe de ser o caso! Basta uma rápida busca no blog e um mínimo de honestidade para ver que o alvo principal de ataques e críticas não é Bolsonaro, e sim a esquerda, seja a tucana, seja a raivosa mais radical de um Ciro Gomes da vida. Mas isso não quer dizer que jamais irei criticar Bolsonaro, que merece duras críticas.

Uma postagem do ilustre personagem Joaquim Teixeira resume bem a questão:

O sujeito que critica Bolsonaro por certos motivos e logo depois defende candidatos ainda piores sob o mesmo prisma está sendo incoerente, e isso merece ser apontado e condenado. Mas isso não é o mesmo que não criticar Bolsonaro porque Ciro é ainda pior. Podemos – e devemos – criticar ambos, destacando que um é pior do que o outro.

Bolsanaro é destemperado, adota tom autoritário, é machista e ainda possui ranço intervencionista e nacionalista? Tudo bem, podemos apontar isso se for nossa crença, mas sejamos honestos de reconhecer que, em todos esses quesitos, Ciro Gomes é muito pior! O partidarismo desonesto começa quando apelamos para o duplo padrão, para a hipocrisia, e vemos como qualidades de um aquilo que, no outro, transforma-se em defeitos.

A turma de “isentões”, todos de esquerda, que repetem por aí que Bolsonaro é um radical autoritário costuma ignorar justamente essa busca pela coerência. Vemos gente como Ciro Gomes e até Guilherme Boulos sendo tratada como candidatos normais, enquanto Bolsonaro fica como o único extremista. Isso sim, é inaceitável, e é o que joga tanta gente moderada no colo do capitão. Estamos todos cansados desse duplo padrão e desse esquerdismo “velado” de quem banca o moderado. Vejam, por exemplo, o caso da economista Mônica de Bolle, da Casa das Garças, filha da PUC:

Tucanos sendo tucanos… Então quer dizer que a jovem economista “neoliberal”, segundo os padrões brasileiros, achou que Ciro Gomes teve “altos e baixos” em sua entrevista no Roda Viva? Uma entrevista em que o sujeito repetiu todos os chavões nacional-desenvolvimentistas responsáveis pela tragédia atual, citou frase do assassino terrorista Che Guevara, e condenou o povo venezuelano pela reação “fascista” ao governo? Esses seriam alguns exemplos de “baixos”? E acertos? A proposta de taxar os mais ricos?

Mônica de Bolle, naturalmente, não é uma liberal, e só no Brasil mesmo para o PSDB ser “acusado” de neoliberal. Ela é tradutora do esquerdista Thomas Piketty, de quem tem vários elogios a fazer. Sua obsessão é pela “desigualdade”, o que já é meio caminho andado para se tornar um socialista. E qualquer máscara vem abaixo de vez no momento em que alguém como Ciro Gomes merece elogios, tendo tido “mais altos do que baixos”. Ela sabe contar? Ciro não, pois sequer encontra um bilhão para cortar nos gastos públicos, e acha que austeridade fiscal é coisa de liberal boboca…

Uma pessoa supostamente esclarecida, formada em Economia pela PUC (onde me formei também), que foi do principal “think tank” de economia do PSDB, repetindo que gostou da entrevista de um ultra-populista de esquerda como Ciro Gomes: é algo que desanima, que quase tira nossa esperança no futuro do Brasil. Mas serve para lembrar como os tucanos são uns esquerdistas enrustidos, que posam de moderados, mas que flertam com os radicais de esquerda o tempo todo, enquanto sentem ojeriza de qualquer coisa mais à direita.

Portanto, meus caros, não venham mais perguntar se quando critico Bolsonaro é porque prefiro Alckmin ou Ciro Gomes. Cruz credo! Felizmente não sou obrigado a adotar tal mentalidade tribal de torcida de futebol, e posso manter minha independência de análise e meu foco no longo prazo, tentando contribuir para um futuro melhor, de preferência longe de populistas de todos os perfis ideológicos, distante de autoritários de todas as cores.

Rodrigo Constantino

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