“Quem se vinga depois da vitória é indigno de vencer.” (Voltaire)
O petismo representou uma ameaça real ao Brasil, e quase seguimos na trajetória venezuelana. O pior não aconteceu, ainda que a quadrilha esquerdista tenha deixado um rastro de destruição pelo país. Mas, com a mobilização de milhões de brasileiros, lideranças como a do MBL e outros grupos, e a atuação fundamental do Congresso, sob a presidência de Eduardo Cunha, tivemos o impeachment de Dilma e depois a derrota de Fernando Haddad, preposto de Lula, nas urnas. Bolsonaro se tornou o presidente da República.
Aí vem a parte mais difícil: terminado o plebiscito sobre o lulopetismo, é preciso governar. Aprovar as reformas que podem destravar a economia, para que o país volte a crescer e possa reduzir o elevado nível de desemprego. Bolsonaro deixou Paulo Guedes montar uma equipe dos sonhos na Economia, e entregou uma boa proposta de reforma previdenciária ao Congresso. Mas as dificuldades são enormes. O Brasil não vai virar uma Suíça sem se transformar no Chile antes. E a realidade se impõe: muitos grupos de interesses possuem representação política também.
Diante desse quadro, o tal “centrão” virou o demônio da vez. O “establishment” joga contra as reformas, e a narrativa bolsonarista investe pesado contra os demais poderes. Há razão para isso, sem dúvida. A indignação popular é legítima, claro. O perigo é demolir as instituições em vez de repara-las. Foi o alerta do “pai do conservadorismo” Edmund Burke contra os jacobinos, ao falar dos pilares podres do Antigo Regime, que talvez pudesse ter sido salvo em vez de implodido. Veio o Terror, porém.
É o receio igualmente legítimo com essa visão autoritária, que busca no presidente uma espécie de “déspota esclarecido”, que tem afastado muitos liberais e conservadores do bolsonarismo. Há uma ala muito radical, liderada pelos próprios filhos do presidente, assim como por seu guru por ele condecorado, que joga lenha na fogueira revolucionária, que deseja guerra constante, que precisa de inimigos mortais o tempo todo. Nesse ambiente tóxico, até os ministros do governo viraram traidores terríveis, comunistas, globalistas, petistas. Na ausência do PT real se faz necessário criar um PT fictício, que teria tomado conta das mentes desses auxiliares.
Pois bem: chegamos às manifestações deste domingo. Como a turma liberal conhece melhor o modus operandi desses bolsonaristas, pois é alvo constante deles nas redes sociais, e como a convocação inicial continha esse teor radical e revolucionário contra as instituições, muitos fizeram questão de se afastar dos atos, para não se misturarem aos malucos jacobinos que querem fechar o Congresso na marra. O MBL foi o mais enfático nessa postura, mas não foi o único.
O protesto favorável ao governo foi um relativo sucesso de público, e eis o clima que ficou evidente ao menos nas alas mais bolsonaristas: o ódio aos liberais. Enquanto muitos enalteciam o filósofo Olavo de Carvalho como se fosse um guru amado, aproveitavam para destilar ódio ao MBL, num espírito de vingança. Mas não dá para entender uma coisa: se as manifestações foram pelas reformas que os liberais apoiam, e não para fechar Congresso ou maluquice do tipo, por que olavetes gritaram “chupa” para os liberais? É rancor, disputa de espaço dentro da direita ou a pauta real era outra, por acaso?
Vejamos o caso do deputado Marcel van Hattem, do Partido Novo. Ele apoiou as manifestações, esteve presente, e fez discurso. Mas ao falar, aproveitou para elogiar a trajetória do MBL e do deputado Kim Kataguiri, um dos que mais lutam pela aprovação da reforma de Guedes. Foi vaiado pelos presentes. E depois atacado nas redes sociais. Acabou, num ato um tanto embaraçoso, justificando-se para uma figura obscura do “jornalismo” bolsonarista, ou seja, para sua militância.
A disputa é por espaço, está claro. Olavetes querem a hegemonia da “direita”. Aprenderam com seus desafetos marxistas. Olavo saiu do marxismo, mas o marxismo nunca saiu dele. É visível pela dialética que usa, para estar “sempre certo”, e pelos métodos de guerrilha intelectual que estimula. Olavo só espalha a divisão, chama de traidor todo aquele que não concorda com ele, e conseguiu arrumar “treta” com todos os mais relevantes líderes liberais e conservadores. Nenhum ex-aluno dele fala bem do “mestre”, enquanto os atuais vivem à sua sombra, reverenciando um guru “infalível” de forma humilhante e constrangedora.
Olavo não criou pensadores independentes que lutam pela alta cultura, como apregoa, mas sim uma seita de fanáticos que só sabe xingar adversários, mesmo aqueles da direita, que concordam com boa parte da agenda do governo, mas que criticam certos métodos. E foram esses os principais alvos dos olavetes nos protestos. Não os petistas. Nem mesmo o “centrão”, que até o presidente Bolsonaro está agora afagando pois sabe que precisa dele para aprovar as reformas.
Os mais atacados foram os liberais do MBL. Olavetes estão em campanha aberta para destruir o movimento que ajudou muito no impeachment de Dilma, enquanto o próprio Olavo jogava duchas de água fria. O MBL é o que mais fala da reforma previdenciária, a pauta prioritária do governo, enquanto Olavo não emite uma palavra sobre o assunto. E nas manifestações que supostamente tinham essa como a pauta principal, eis que o MBL se torna o inimigo público número um do país. Faz sentido?
Do ponto de vista lógico não, ao menos que seja a lógica de PODER. E quem não entendeu isso ainda, não entendeu nada do bolsonarismo e do olavismo. Olavo não é um patriota. Vive em Virgínia sem nunca pisar no Brasil, nem para visitar. Fomenta um exército de fanáticos que investem contra as instituições e contra os próprios ministros e vice-presidente de Bolsonaro. E é endeusado por uma turba incapaz de pensar por conta própria.
Fosse apenas um grupo exótico das redes sociais, ninguém daria muita bola. O problema é que o sujeito é guru declarado do presidente, recebeu honrarias do estado, e os dois filhos de Bolsonaro vivem enaltecendo o filósofo. Ou seja, é pela enorme influência dele no governo que o caso merece tanta atenção. Os liberais e conservadores estão se unindo contra essa mentalidade reacionária, que tem na figura de Steve Bannon um ícone, um radical nacional-populista que nem Trump quis manter por perto.
Olavetes odeiam os liberais do MBL mais do que o próprio PT. E faz sentido: o petismo serve para manter esse radicalismo vivo, pois são dois lados da mesma moeda podre. O olavismo nunca foi propositivo, nunca quis construir nada. Segue a “filosofia do martelo” de Nietzsche, pretende demolir, atacar, destruir o inimigo. E quem é o inimigo? Todo aquele que se mete no caminho, que vira obstáculo a essa hegemonia intelectual. É isso que está em jogo aqui, não se enganem.
A revolta com o establishment, com o centrão fisiológico, com a política em si é absolutamente compreensível. Mas é preciso ser adulto, maduro e cauteloso na hora de debater soluções. Olavetes querem jogar para a plateia revoltada, instigar uma revolução, atiçar os instintos selvagens das massas. Liberais e conservadores de boa estirpe reagem. Podem pagar um preço alto no curto prazo, serem alvos de xingamentos, perderem seguidores.
Mas o tempo mostrará quem está com a razão. O tempo não costuma ser amigo de populistas e demagogos. Os “corneteiros do fracasso” podem, à frente, serem reconhecidos como as Cassandras ignoradas de hoje. Quem enxerga o “ovo da serpente” e tem compromisso com a liberdade tem o dever moral de reagir, mesmo ao custo alto de curto prazo. Nosso horizonte é mais longo, e estamos preocupados em construir instituições sólidas, não em destruir as existentes, capengas, para colocar caos ou despotismo em seu lugar.
Rodrigo Constantino
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