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O país da meia-entrada: a aberração econômica do crédito subsidiado
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O saldo total das operações de crédito do sistema financeiro atingiu R$ 3.048,0 bilhões em setembro, registrando estabilidade no mês e recuo de 2,0% em doze meses. O crédito a pessoas físicas totalizou R$ 1.616,0 bilhões (+0,2% no mês e +4,7% em doze meses). A carteira de pessoas jurídicas somou R$ 1.432,0 bilhões, com retrações de 0,4% e 8,7% nos mesmos períodos. A relação crédito/PIB situou-se em 47,0% (50,2% em setembro de 2016).

Quem traz as informações é o professor Ricardo Bergamini. Ele também mostra a divisão entre crédito público e privado:

– 50,20% do total – R$ 1.530,0 bilhões com recursos livres com juro médio de 35,9% ao ano.

– 49,80% do total – R$ 1.518,0 bilhões com recursos direcionados concedidos por bancos públicos (Caixa, BB, BNDES) com juro médio de 8,9% ao ano.

Ou seja, metade de todo o crédito nacional está nas mãos do governo, o maior banqueiro de todos (irônico a esquerda odiar tanto os banqueiros e adorar o estado, não?). Em O Manifesto Comunista, Marx e Engels elencam medidas necessárias para o socialismo, e o quinto item é justamente “concentrar o crédito no estado”. O Brasil é ótimo aluno marxista!

Bergamini diz: “Não há a menor dúvida que esse mecanismo de juro especial para os amigos e aliados dos governantes de plantão é uma fonte primária de corrupção e de propina. Alguém tem dúvida?” Não, ninguém sério pode ter dúvida. As grandes empresas preferem “investir” em lobby para cair nas graças do governante, já que ser um “amigo do rei” tem mais valor do que ser eficiente e produtivo.

Como alguns economistas têm comentado, somos o país da meia-entrada, e isso vale para quase tudo. Não só a carteirinha da UNE, como transporte e tantas outras regalias em que um grupo recebe privilégios, enquanto a maioria restante paga a conta. Para comentar essa aberração e excrescência econômica Bergamini recorre ao mestre Roberto Campos:

Eliminando o crédito subvencionado, descobriríamos o milagre aritmético da média: os juros tenderiam a baixar pela diminuição da procura e pela mudança de expectativa! E o mercado bancário se tornaria mais competitivo, pois os bancos não mais precisariam ser racionados, dado que o governo poderia melhor controlar a base monetária, e cessaria de pressionar o mercado financeiro que reflete fielmente o excesso de demanda de recursos por parte do setor público, quer federal quer estadual.

Mas imagino que a explicação lógica e elementar acima seja “grego” para leigos, para os analfabetos funcionais que saem de nossas universidades sem sequer saber matemática básica, muito menos finanças. É capaz de muitos olharem a divisão de crédito e taxas acima e concluir o oposto da verdade: ora, se todo o crédito fosse público, então as taxas cairiam para todo mundo!

Elementar, meu caro Watson. Análogo a dizer que se todos tivessem a meia-entrada, os ingressos custariam a metade do preço sempre. Com “gênios” assim, que pululam em nossas universidades de economia, alguns com doutorado, corremos pouco risco de dar certo mesmo…

Rodrigo Constantino

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