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Essa semana os candidatos a presidente começaram a declarar seus bens ao TSE. Chamou a atenção de muitos o patrimônio de João Amoêdo, do Partido Novo: R$ 425 milhões. A fortuna foi apresentada como um fator negativo: Amoêdo seria representante de uma elite endinheirada que, no Brasil, é praticamente sinônimo de pecadora ou quiçá criminosa.

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É inegável que muitos são ricos por conta de esquemas ou conluios com o Estado. Esse tipo de riqueza é mesmo condenável. Mas no Brasil, onde o sucesso individual é pecado, qualquer riqueza é vista com desconfiança a priori. A menos, claro, que o rico seja um esquerdista que fala em nome da igualdade…

Em The Ethics of Redistribution, Bertrand de Jouvenel mostra com sólidos argumentos como a inveja pode estar por trás das políticas de redistribuição de renda por meio do aparato estatal. Ele cita comunistas franceses que deram caros presentes para seu líder, aparentemente indo contra os próprios valores comunistas, explicando que as pessoas têm sido mais generosas com aqueles que julgam melhores e com seus líderes.

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O burguês apresentaria duas convicções básicas que diferem desse sentimento popular: sente que não deve sua riqueza a favores e se considera livre para gastá-la consigo mesmo, da forma que preferir. É precisamente o reverso da atitude que justificaria uma renda excepcional sob a ótica popular. O povo quer sentir que essa renda é um presente seu, e quer demandar que os beneficiários façam um espetáculo de gala.

Por isso que o empresário que compra um iate é menosprezado, enquanto um presidente que vive no luxo, com roupas caras feitas de tecido egípcio, carro próprio para a cadela e viagens com avião novo é admirado. Mesmo que seja um operário eleito com o discurso de redução da desigualdade material.

A mensagem de Jouvenel fica mais clara nessa passagem: “A ingrata brutalidade dos reis em direção aos financiadores que os ajudaram sempre ganhou os aplausos populares. Isso talvez esteja relacionado ao profundo sentimento de que indivíduos não têm direito de serem ricos por eles mesmos e para eles mesmos, enquanto a riqueza dos governantes é uma forma de gratificação pessoal para as pessoas que pensam neles como o ‘meu’ governante”.

O que deveria ser espantoso, portanto, não é o patrimônio de João, mas alguém que tem esse dinheiro todo, conquistado de forma honesta com seu trabalho, querer entrar para a política para melhorar as coisas, em vez de encará-la como trampolim para a riqueza ilegal, como tantos fazem.

Outra coisa que deveria chocar é um bandido preso que destruiu o País e defende ditadores ainda ser tratado por tantos como um líder legítimo, e muitos reclamarem que seu nome não estará nas urnas. Isso é o retrato de uma nação doente.

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Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ