Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
O presidente americano Donald Trump disse, em uma entrevista divulgada neste domingo (15), que considera a União Europeia um inimigo comercial dos Estados Unidos. Às vésperas de seu encontro com Vladimir Putin, também citou como rivais a Rússia e a China.
É assustador que o homem mais poderoso do planeta pense desta forma. Embora Trump não tenha o poder de parar a roda do progresso humano – o qual está intimamente ligado à divisão e especialização do trabalho, bem como ao comércio em grande escala -, sua obsessão por “guerras comerciais” tem potencial para causar grandes estragos.
Ao tratar o comércio internacional como uma atividade praticada entre inimigos, Trump demonstra ter uma visão completamente distorcida do assunto. Quem imagina que existam vencedores e perdedores nas trocas comerciais simplesmente ainda não entendeu a verdadeira natureza do comércio – e muito menos a imensa complexidade das cadeias de produção globalizadas, assunto de que tratarei mais a fundo num próximo artigo.
Ao contrário do que pensa Trump, ainda mais que nas guerras reais, uma guerra comercial só conhece perdedores. Não por acaso, o protecionismo é visto por muitos estudiosos como um dos responsáveis pelo aprofundamento da Grande Depressão nos anos 1930, quando os Estados Unidos impuseram a infame Tarifa Smoot-Hawley a mais de 20.000 produtos impostados.
Passada a catástrofe, os líderes do mundo aprenderam a lição e, após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos vinham exercendo uma liderança firme na promoção do livre comércio pelo mundo. Até que Trump assumiu o comando e tudo mudou.
Trump e seus assessores comerciais parecem ignorar que os custos do protecionismo são pagos pelo consumidor, e que a imposição de tarifas significa produtos mais caros e de menor qualidade. Além disso, a aparente vantagem de proteger a indústria doméstica desaparece porque inúmeras empresas pertencentes àquela cadeia de produção são diretamente afetadas.
Em 2002, por exemplo, o então presidente George W Bush impôs uma tarifa de 30% sobre o aço importado, com a desculpa de proteger os empregos da indústria de aço americana. As tarifas deveriam durar três anos, mas Bush foi obrigado a revertê-las, ainda em 2003, depois que os efeitos dos preços mais altos provocaram uma perda de quase 200.000 empregos no setor de consumo de aço – perda esta maior do que o número total de empregos (187.500) que Bush pretendia proteger no setor siderúrgico da época.
Quando Trump reclama do déficit comercial americano, o faz sem levar em conta o fato indiscutível de que a economia dos EUA detém os melhores índices de competitividade internacional. Em muitos setores, os Estados Unidos operam na vanguarda do progresso tecnológico – p. ex: farmacêutico, eletrônico, robótica, informática, microbiologia, espacial, etc. Estas vantagens comparativas das indústrias americanas de ponta só são possíveis porque o país adquire produtos de menor complexidade tecnológica de parceiros no exterior, liberando mão-de-obra qualificada para setores mais avançados e lucrativos.
É, portanto, um tanto quanto paradoxal o fato de os Estados Unidos, a nação economicamente mais poderosa do planeta, recorrer ao protecionismo, uma política retrógrada geralmente reservada a países economicamente fracos e que sofrem com baixos graus de competitividade internacional. Trump não apenas age como um dinossauro econômico mercantilista, mas também como o presidente de uma republiqueta de bananas. Lamentável!
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