Como um escritor que produz diversos textos num só dia para o blog, tenho a palavra como a grande ferramenta de trabalho, no caso, a divulgação dos valores liberais em que acredito. Não sou prolixo, e costumo receber como feedback dos leitores o elogio justamente da minha capacidade de objetividade e concisão. Sempre prezei muito o poder de síntese. Ainda assim, preciso de algumas centenas de palavras para transmitir minha mensagem.
Sempre fiquei espantado, e com um misto de inveja, confesso, com a incrível capacidade dos chargistas e fotógrafos de pegar todo aquele emaranhado de palavras e transformar numa só imagem, que resume a essência da coisa, que deixa o recado estampado da forma mais compreensível que existe. Como diz o ditado, uma imagem vale mais do que mil palavras.
Vários pensadores e estadistas fizeram uso de metáforas para criar na mente do público a imagem que desejavam, e com isso transmitir a mensagem com mais força. G.K. Chesterton, por exemplo, era mestre nisso, e seus livros estão recheados com metáforas que criam automaticamente a perfeita imagem de seus argumentos, com uma persuasão que somente palavras avulsas seriam incapazes de demonstrar.
Winston Churchill, por sua vez, tinha o domínio pleno da língua inglesa, e sabia como poucos mobilizar a população com o uso da palavra. O discurso com o “jamais se render” ficou famoso. Mas como retratou o filme “The Darkest Hour”, o ápice do poder de convencimento do primeiro-ministro foi quando mandou seus pares imaginarem o Palácio de Windsor ostentando a suástica nazista. Pronto: com uma única imagem todo o recado estava dado com força inigualável, e era preciso reagir, lutar até a morte para impedir um destino desses.
Donald Trump, em sua campanha eleitoral de 2016, também soube fazer ótimo uso da imagem quando defendeu a construção de um muro para impedir a entrada ilegal de mexicanos. A construção do muro nem era mais a grande questão: ele tinha, com essa simples imagem criada, transmitido a mensagem de que a América não pode ser a casa da Mãe Joana, que um controle efetivo das fronteiras é uma obrigação do estado, que não entra quem quer, mas quem tem permissão. Tudo graças à imagem de um muro.
No filme “Tempo de Matar”, de 1996, o advogado de defesa do pai negro que atirou no estuprador de sua filha, personagem de Matthew McConaughey, chega ao topo do brilhantismo quando conta em detalhes a história de uma menininha abusada, e apenas no final pede para o júri fechar os olhos e imaginá-la branca e loira. Em uma imagem ele consegue driblar o racismo reinante naquele lugar, e conquista a absolvição do acusado.
O humor também é canal típico para o uso de imagens que debocham, que atacam de forma subversiva o status quo. Basta pensar no chargista dinamarquês que colocou uma bomba no turbante de Maomé, e foi jurado de morte por isso, ou então nos responsáveis pela revista Charlie Hebdo, vítimas de um atentado terrorista por motivos semelhantes. Os fanáticos intolerantes reconhecem o poder que uma imagem pode ter contra seus dogmas.
Após novo massacre em escola americana, em fevereiro de 2018, o debate sobre o controle de armas reacendeu com força. A sensação de que “algo precisa ser feito” costuma levar muitos a defender a criação de novas leis, sempre na vã esperança de que basta proibir algo que está tudo resolvido. Benedito Barbosa, herói nacional na defesa do direito de o cidadão ter armas, divulgou uma foto que tornava evidente o ridículo dessa crença. Era uma padaria com rosquinhas e uma placa dizendo: “proibido pousar moscas”. O que mais precisa ser dito?
Enquanto tentava educar minha filha a fazer mais pela casa, mesmo que fossem funções que, a princípio, não lhe cabiam, puxei uma imagem de um prêmio irônico chamado “it’s not my job”, em que alguém pintou as faixas amarelas da rua em cima de um rato morto, já que retirar o bicho não era parte do seu trabalho. Com essa imagem ela se deu conta de como a desculpa “não é minha função” parecia esfarrapada.
A foto do jardim da residência oficial do presidente com uma estrela vermelha, no começo do mandato de Lula, já deixava transparente o principal problema do PT: confundir o público e o privado, não respeitar os valores republicanos, achar que o estado é um puxadinho do partido. Naquela imagem estava contido o futuro sombrio que nos aguardava.
Enfim, as imagens têm muito poder, e a liberdade precisa delas. Uma foto de alguém quebrando correntes ou de um herói carregando o mundo nas costas, uma imagem de um burro de cargas esmagado pelo fardo dos gastos públicos, um desenho de um pescador pescando um peixe enquanto um obeso governo lhe tira o bicho às escondidas, uma charge com um soldado israelense protegendo uma criança enquanto um terrorista palestino coloca outra criança na frente como escudo humano – os exemplos são infindáveis –, tudo isso representa uma arma poderosa na luta pela liberdade.
Texto escrito para o livro “Trinta Perspectivas de Liberdade”, do Instituto Liberdade, lançado no Fórum da Liberdade em Porto Alegre