Em sua coluna de hoje, Merval Pereira compara a postura de Michel Temer a de Dilma no quesito ética, lembrando como o governo anterior era voltado apenas para o marketing enganador:
Do limão João Santana, ainda fora da cadeia, fez uma limonada e cunhou Dilma como “a faxineira”, que não tolerava escândalos de corrupção. Agora sabemos que muito antes a corrupção corria solta na Petrobras, e o próprio Santana havia sido pago pela campanha eleitoral com dinheiro da Odebrecht desviado da estatal, a pedido, segundo Sarney revelou nas gravações de Sérgio Machado, da própria presidente.
A delação premiada que a empreiteira está acertando com a Procuradoria-Geral da República esclarecerá a mando de quem o pagamento foi feito, pois a Polícia Federal já encontrou documentos provando que eles existiram. A farsa da “faxineira ética” não durou muito, pois logo as pressões fizeram com que os mesmos partidos banidos do governo por corrupção voltassem, em certos casos para o mesmo ministério, embora com outros nomes.
As demissões no primeiro escalão do governo Temer pelo menos até o momento obedecem a um padrão: os ministros pegos em situações irregulares acabam pedindo demissão, o que, se por um lado indica que Temer não quer criar constrangimentos para eles ou seus padrinhos, por outro tem conseguido se livrar dos problemas sem, aparentemente, abalar sua base de apoio no Congresso.
Vai se equilibrando nessa linha tênue entre o combate à corrupção e os que são apanhados tramando contra Lava-Jato. Dilma, depois de renegar a “faxina ética”, passou a fazer pior: montou em seu ministério, pouco antes de sair, um esquema de proteção aos possíveis alvos das investigações de Curitiba.
Tudo no PT servia somente à narrativa, ao discurso, à propaganda. Nesse aspecto, não diferia muito dos regimes comunistas e nazista. Neles, os fatos não interessam. A obsessão é pela imagem. E quando um ministro corrupto após o outro ia sendo derrubado pela imprensa, que expunha seus escândalos, Dilma não tinha outra opção senão aceitar suas demissões. Mas eis que o marqueteiro fez disso uma peça de propaganda: era Dilma quem demitia, por não tolerar a corrupção!
E acreditem: houve otário que caiu nessa! Aos montes! Não se questionavam por que Dilma escolhera tantos corruptos para começo de conversa. Tampouco se importavam com o fato de que a saída deles era o último recurso quando não dava mais para esconder o escândalo ou conviver com a pressão da mídia. Dilma virou, no imaginário dos idiotas, a “presidenta” que realizava uma verdadeira “faxina ética”.
Pois bem: se Temer fosse como Dilma e o PMDB como o PT, tão cínico quanto e disposto a “fazer o diabo” pelo poder, então estariam todos agora enaltecendo como o “presidento” é, no fundo, um “faxineiro ético”. Em vez de o mordomo de filme de terror, ele seria o faxineiro da casa. Mas só os petistas jogam no lixo com tanta vontade qualquer pudor. Só os petistas são tão sem-vergonhas. Os demais se limitam a reconhecer que, ao menos, Temer não tem aliviado a barra dos seus aliados que acabam expostos. E isso já faz uma diferença e tanto…
Aliás, aproveito para perguntar: quantos brasileiros foram vistos nas ruas gritando “guerreiro do povo brasileiro” para defender Romero Jucá, ou então “mexeu com Jucá, mexeu comigo”? Pois é. O petismo é uma doença mental e um profundo desvio de caráter, tudo junto.
Rodrigo Constantino