O caso do garoto de 16 anos assassinado numa “ocupação” de escola no Paraná suscitou importantes reflexões, vários artigos e muitas tentativas de evasão de responsabilidade. Já escrevi um texto aqui, e o tema de minhas colunas amanhã na Gazeta do Povo e sexta na IstoÉ será o mesmo. É preciso falar mais sobre isso. É necessário expor o grau de podridão de nosso sistema de ensino, de nossas escolas, tomadas pela doutrinação ideológica e pelo desrespeito dos adultos para com os jovens.
O caso foi pauta do comentário de hoje na Jovem Pan pelo editor Carlos Andreazza também:
Mas, se a doutrinação ideológica é um câncer no sistema de ensino hoje, fato é que o problema não se resume a isso. Sim, os militantes disfarçados de professores abusam das crianças. Mas os pais são negligentes. Os próprios alunos costumam ser fracos. E mesmo os professores que não pretendem politizar as salas de aula são, na média, despreparados. Ou seja, o buraco é bem mais embaixo, como argumenta Gustavo Nogy:
O sistema educacional brasileiro está destruído. Ideologia é um componente entre outros e, na minha imodesta opinião, não é o mais importante. Sim, eu sei, Paulo Freire. Sim, eu sei, doutrinadores. Trabalhei em escola, tenho algum conhecimento de campo. Isso existe, não o nego, mas é uma chaga a mais no corpo do lazarento. Os professores são ruins. Os alunos são ruins. Os pais são ruins. A estrutura é ruim. O currículo é ruim. Os burocratas são ruins. O magistério, vocação tão nobre, foi avacalhado como profissão de quem não consegue outra profissão. Incentivos governamentais, como sempre, geram o esquisito paradoxo: os alunos menos dedicados no ensino médio escolhem cursos de licenciatura porque são mais baratos, exigem menos. De longe, parece mais fácil ser professor. Não é incomum que um número cada vez maior, depois de alguns anos, abandone a sala de aula e procure funções burocráticas. Outros, simplesmente, desistem. Os bons – e sempre há professores e alunos bons – beiram o colapso nervoso. Mais do que ideologia, todo o modo de se entender a educação – e a função do Estado, da família, dos professores e dos alunos no processo – precisa ser repensado. Protestar contra alterações curriculares urgentes, ocupar escolas contra medidas necessárias de limitação de gastos governamentais – tudo isso são os sinais de que os envolvidos não se preocupam de verdade com o problema, mas apenas com a política mais vadia que o absorve. Quando toda discussão é cinicamente politizada, o que resta é essa conversa de loucos, essa sinfonia de surdos, esse vernissage de cegos que num dado momento da história resolvemos chamar de Brasil.
Sad, but true, como diria o Metallica. O problema é mais estrutural ainda, e não há solução mágica. Precisamos trocar uns três pneus furados com o carro em movimento. O Brasil merecia um “boot” na máquina, recomeçar do zero, mas isso não é algo possível. A cultura deve mudar, quase toda ela, e isso não é tarefa simples, nem de uma geração.
O magistério precisa ser muito mais valorizado, mas para que isso seja possível, os professores também precisam melhorar muito e se dar mais ao respeito, e os alunos precisam desejar aprender, e os pais precisam cobrar dos filhos. Mas como fazer isso se a mentalidade é toda invertida, se alunos querem bancar os revolucionários, se professores querem ser militantes, se políticos querem abusar dos jovens, se burocratas querem concentrar poder e se os próprios pais querem se eximir da responsabilidade de educar seus filhos?
Rodrigo Constantino
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