Fiz hoje cedo uma palestra em evento de produtores rurais organizado pela Faepa (Federação da Agricultura e Pecuária do Pará), em Belém do Pará. Pessoas comuns, senhores simpáticos, senhoras gentis, gente como a gente. Mas não pela narrativa de esquerda. Segundo esta, os produtores rurais são os vilões, gente malvada que dá chibatada em escravos, demônios que precisam ser exorcizados. E serão, ainda pela narrativa de esquerda, pelos heróis da “justiça social”, os invasores do MST.
Após minha apresentação sobre o cenário econômico preocupante de nosso país, abrimos para perguntas, e alguns quiseram saber o que fazer para mudar esse quadro. Não aguentam mais serem tratados como exploradores insensíveis, e não aguentam mais este governo, mas compreendem que o problema é bem maior do que o PT. Vem desde a era FHC também, vem das ONGs financiadas pelo capital estrangeiro, por fundações como a Ford, por movimentos ambientalistas, enfim, o buraco é muito mais embaixo.
Não tenho uma solução para apresentar. Em última análise, o problema do ruralista é similar ao do liberal: ambos são demonizados por grupos poderosos, repletos de interesses obscuros, interessados no poder, e também sofrem com o preconceito e a ignorância de vítimas da lavagem cerebral esquerdista, que começa desde cedo nas escolas, chega às universidades e tomou conta da mídia.
Minha proposta, portanto, pode não ser tão inspiradora, mas é a única que enxergo como realmente viável: arregaçar as mangas e lutar, em todas as áreas, para reverter essa visão predominante hoje. É fundamental lutar no campo das ideias, buscar desfazer a doutrinação marxista. Gente que nunca viu uma galinha sendo degolada mal sabe como a comida chega à mesa e repete os chavões politicamente corretos que acabam por criar caricaturas dos produtores rurais.
Ou seja, é crucial produzir uma nova narrativa, resgatar a história verdadeira contra esses mitos criados pelos exploradores da vitimização das minorias. O índio era bonzinho, o negro era somente vítima e o homem branco do meio rural era o capeta em forma humana: eis o que acaba se fixando nas mentes dos alunos. Onde estão os heróis ruralistas? Onde estão os heróis liberais? É isso que temos de recuperar.
E há um indivíduo que congrega ambos em um só, um sujeito que foi simplesmente o maior empreendedor que o Brasil já teve, e que tanto fez por nosso progresso. Falo, claro, de Irineu Evangelista de Souza, mais tarde Barão e depois Visconde de Mauá. O homem que iniciou o processo de industrialização do país, que iluminou o Rio, substituindo o óleo de peixe dos lampiões por luz a gás, que construiu a nossa primeira ferrovia, que ligou a cabo pela primeira vez nosso país à Europa.
Muita gente não sabe, mas Mauá foi também um grande ruralista. Sua Cia Pastoril Agrícola e Industrial, fundada no Uruguai, transformou-se num empreendimento vanguardista para a época. Ele trouxe agricultores chineses e introduziu culturas de chá e arroz no local, e foi o primeiro a plantar alfafa em grandes extensões. Suas produções de lã, banha e couro foram premiadas na Europa. Com dezenas de milhares de hectares, suas terras chegaram a ter um rebanho de 100 mil cabeças de gado bovino. O casarão da propriedade era conhecido como Castillo Mauá, e o empreendedor foi o primeiro a abrir um banco no Uruguai também.
Como podemos ver, Mauá deveria ser um herói não só nacional, como uruguaio também, até porque financiou pessoalmente a defesa do país contra o ditador argentino. Mas não só Mauá está longe de obter o devido reconhecimento por aqui, como suas inovações e conquistas no campo são profundamente ignoradas. Mauá foi um grande produtor rural. E era, ao mesmo tempo, um dos maiores defensores da abolição de escravos, preferindo contratar mão de obra livre e inclusive distribuir seu lucro entre eles ou incitá-los a abrirem seus próprios negócios.
Por que essas histórias são tão pouco conhecidas? Por que o brasileiro “aprende” sobre o assassino Che Guevara, mas nada sabe sobre este pioneiro que tanto fez pelo país? A visão romântica e distorcida da esquerda cria inúmeros mitos que precisam ser derrubados. Os “intelectuais” que cospem no agronegócio, locomotiva do nosso (hoje inexistente ou pífio) crescimento econômico, podem obter um regozijo pessoal e posar como “defensores dos oprimidos” enquanto degustam seu suculento bife, mas o fato é que estão prejudicando os mais pobres, os trabalhadores, todos!
Saí do evento após várias fotos tiradas a pedido das simpáticas senhoras e também alguns nobres e idosos produtores rurais. Gente que precisa labutar contra a natureza tantas vezes hostil e incerta, ao contrário daquela visão idílica e bucólica dos românticos no conforto da cidade. E que, como se não bastassem tais desafios, ainda precisa enfrentar os obstáculos criados artificialmente pelos governos de esquerda, que financiam “movimentos sociais” invasores que levam a insegurança para o campo, que ameaçam suas propriedades, seu trabalho.
É muito difícil sair de lá com a imagem de que essa gente é perversa e cruel, enquanto Stédile, o chefe do “exército paralelo” de Lula, representa a luta por “justiça social”. Só com muita inversão de valores mesmo!
Rodrigo Constantino
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