Dilma tem apenas míseros 9% de aprovação, e a crise econômica ainda vai piorar. Além disso, o escândalo político continua subindo degraus e chegando muito perto da própria presidente, uma vez comprovado o uso de propina para financiar sua campanha. Ainda há o caso das “pedaladas fiscais”, claramente ilegais. Trata-se, portanto, de um quadro caótico de falta de condições para a governabilidade. É um cenário em que aumentam as apostas de que Dilma não conclui seu segundo mandato. Qual postura os tucanos devem ter diante desse quadro?
Se o PSDB tentar jogar lenha na fogueira, ele pode conseguir o impeachment. Mas, nesse caso, assume Michel Temer e o PMDB, e qual seria a posição dos tucanos? A de oposição? O PMDB certamente chamaria o PSDB para compor o novo governo, e todo o fardo da crise econômica cairia cedo demais em seu colo. Por outro lado, se cai tanto Dilma como Temer, com a impugnação da chapa, novas eleições são convocadas. Há um dilema legítimo do ponto de vista político para o PSDB, bem exposto na coluna de Ilimar Franco hoje no GLOBO:
Do ponto de vista político, portanto, o PSDB pode não ter tanto interesse assim em apressar as coisas, contando com a derrota “certa” do PT em 2018. Ainda pegaria o abacaxi depois de ele ter sido descascado, em vez de ter que assumir no auge da crise, o que certamente machucaria sua aprovação. O jornalista Merval Pereira comentou hoje em sua coluna a possibilidade da antecipação de novas eleições, mas elas poderiam ser vistas como um golpe:
O relator Augusto Nardes continua firme na sua posição de rejeitar as contas, convencido de que será impossível justificar as ilegalidades. Se a rejeição acontecer, o Congresso terá que decidir se acata o aconselhamento do TCU. Caso positivo, estará decretado simultaneamente o impedimento da presidente por crime de responsabilidade. Nesse caso, assumirá a presidência o vice-presidente Michel Temer, até o final do mandato. Essa solução política é aparentemente a menos traumática, mas esbarra na exigência do PSDB de que Temer se comprometa a não tentar a reeleição em 2018.
A alternativa, que agrada a uma parte dos tucanos que quer uma nova eleição, é a impugnação da chapa por abuso de poder econômico. Há na prestação de contas da campanha eleitoral de 2014 do PT diversas irregularidades, com muito dinheiro para empresas fantasmas, e a acusação de pelo menos cinco delatores da Operação Lava-Jato de que as doações de empreiteiras ao PT no ano eleitoral foram feitas com dinheiro desviado da Petrobras, o que significa o uso do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como meio de lavagem de dinheiro.
No dia 14 de julho, Ricardo Pessoa, o chefe do clube das empreiteiras que atuou na Petrobras em conluio com diretores indicados por partidos políticos, repetirá ao TSE as acusações que fez em sua delação premiada sobre o dinheiro da campanha presidencial de 2014.
Se a chapa for impugnada, o mais provável é que seja convocada uma eleição presidencial dentro de 90 dias, embora o TSE já tenha decidido, em casos de governadores que perderam o mandato, nomear o segundo colocado na eleição. Essa seria a pior das decisões, que daria a sensação de um conluio da justiça eleitoral para colocar Aécio Neves no governo. Pela delicadeza da situação, é improvável que essa opção seja a escolhida.
Em entrevista para o GLOBO, Aécio Neves tratou dessas questões como o bom político mineiro que é, deixando espaço para inúmeras alternativas:
O PSDB não escolherá o cenário. A questão depende das condições políticas e sobretudo jurídicas, não é? O PSDB tem que estar preparado para qualquer cenário. Mas repito: a minha posição será sempre de muita cautela. Mas o que é perceptível — e não adianta tapar o sol com a peneira — é que a presidente a cada dia perde a capacidade de governabilidade. Eu não me movo, hoje, como candidato de 2018. Como não fiz lá atrás. Eu sou presidente do PSDB. Meu papel é organizar o partido, criar condições para que o PSDB esteja mais fortalecido do que nas últimas eleições. Quero que o PSDB esteja preparado para 2018, ou para o momento em que for necessário, independente de quem seja o candidato. É um privilégio do PSDB ter nomes como Geraldo Alckmin, José Serra, Aloysio Nunes, Fernando Henrique, Marconi (Perillo). Meu papel é garantir a unidade do partido. E democraticamente vamos agir no momento certo, não antes de 2017, para definir quem terá a responsabilidade de disputar as eleições. A não ser que o calendário eleitoral se antecipe.
Aécio Neves não nega, porém, que tem enormes dúvidas se Dilma termina o mandato. Eis a situação do PSDB então: pode deixar Dilma e o PT sangrando até 2018, para derrotá-los nas urnas, mesmo se Lula for o candidato (“Venha Lula, venha quem vier, o ciclo de poder do PT se encerrou. Porque eles não têm mais o que dizer para as pessoas. O PT, em uma próxima eleição, estará envergonhado”, disse Aécio); e pode se empenhar em aprovar o impeachment de Dilma, mas nesse caso provavelmente teria que compor com o PMDB, assumir parte do fardo da crise e perder o charme de oposição contra “tudo isso que está aí” em 2018.
Do ponto de vista do Brasil como um todo, a melhor opção parece clara: tirar logo Dilma de lá! Primeiro, porque ela ainda tem capacidade de causar estragos e não tem condições de liderar as reformas necessárias, que seriam melhores num eventual governo do PMDB com o PSDB. Segundo, porque o PT precisa ser duramente punido por tudo que fez. Terceiro, porque é sempre um risco deixar essa gente autoritária e disposta a “fazer o diabo” com a máquina estatal na mão, e o mesmo risco foi tomado em 2006, no auge do mensalão, e conhecemos o resultado. As crises graves na Venezuela e na Argentina não foram suficientes para tirar os bolivarianos do poder. Qualquer oportunidade de tirá-los de lá deve, portanto, ser aproveitada.
Já do ponto de vista político dos tucanos há controvérsias. Talvez o ideal fosse mesmo esperar até 2018, quando Dilma chegasse com 1% de aprovação (há maluco – ou canalha – para tudo), e derrotar o PT nas urnas (eletrônicas?), pegando o poder quando a pior fase da crise econômica já estivesse no fim. É um risco e tanto. E pune o país até 2018. Com certeza não é a melhor opção para os brasileiros, cansados demais do PT no poder. Mas pode ser a melhor estratégia política para o PSDB.
Por isso o partido está entre a cruz e a espada: ou carrega nas costas a cruz da crise causada pelo PT até 2018, dando chance de um oportunista feito o Lula ainda aparecer como oposição lá, ou pega a espada e parte para cima do PT só em 2018, para matá-lo de vez (ou por um bom tempo). Não é uma escolha fácil. Mas, como brasileiro indignado e saturado até a último fio de cabelo com o PT, espero que o PSDB coloque Dilma para correr já. Ninguém aguenta mais essa turma no poder!
Rodrigo Constantino