Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
1- Em maio deste ano foram divulgados trechos da delação dos donos do grupo da JBS. Nos diálogos, Aécio Neves, o presidente do PSDB, pedia a Joesley Batista o repasse de R$ 2 milhões. Em poucos dias ele perdeu seu mandato parlamentar e viu sua irmã e seu primo sendo presos a pedido do STF. Uma ala do partido pressionou por sua renúncia por acreditar que ele não possuiria mais condições de permanecer no posto e, ao final daquela semana, acabou perdendo esse cargo também. Meses depois, após várias manobras jurídicas e políticas, Aécio voltou ao Senado Federal e à presidência da agremiação. A rejeição popular ao parlamentar mineiropassou a superar a do ex-presidente condenado Lula. Manter Aécio como liderança máxima da organização nessas condições foi um desastrepara qualquer tipo de reestruturação interna do partido ou defesa ética tucana pensando em 2018.
2- Em agosto o PSDB veio em rede nacional com a mensagem de que errou ao “se deixar contaminar” pela fisiologia da velha política. Não disse onde, nem citou ninguém especificamente. Tratou dos erros cometidos de forma genérica por intermédio de atores – não apareceu nenhuma figura da agremiação nos 10 minutos de campanha. O partido tirou de si qualquer responsabilidade: a culpa é do sistema. Assim, defendeu o parlamentarismo como solução a nossos problemas políticos. O efeito da proposta foi nulo no debate público, pois o timming de lançamento da propositura foi ruim, não inspirou ninguém no país dos 12 milhões de desempregados – legado não do PSDB, mas dos governos do PT, aquela sigla que jamais assume a culpa de nada. Pior: ao culpar o sistema e não os jogadores dele, a propaganda partidária quase que defendeu partidos envolvidos em escândalos de corrupção muito mais gravosos, como o de seu principal adversário político, o PT. Além da perda de oportunidade de se comunicar com o eleitor se preparando para 2018, um enorme tiro no pé.
3- Embora tenha propagado na TV que errou e a necessidade de reconstrução da agremiação, a praxe do PSDB continuou a mesma: não desembarcou do governo Temer, tendo votado, inclusive, a favor da presidência nas denúncias apresentadas, com maior enfoque na primeira votação. Defender o fim da velha política e do fisiologismo em abstrato ou manter os mesmos hábitos de sempre? No mesmo mês o grupo fez os dois.
4- Na última semana houve nova polêmica a partir da exigência do partido por maiores concessões à reforma da previdência a fim de votar a seu favor. Se confirmado, a posição tucana na prática a enterra de vez. Não é a primeira vez que o PSDB coloca o seu papel de oposição acima de suas defesas e convicções ideológicas, como o equilíbrio fiscal. Pode-se citar seu apoio ao fim do fator previdenciário em 2015, estabelecido no governo de Fernando Henrique Cardoso, apenas para ser contrário ao PT de Dilma Rousseff. Uma enorme “irresponsabilidade”, que o distancia ainda mais dos liberais.
5- A fundação do partido, o Instituto Teotônio Vilela, também na semana passada, lançou o documento Gente em Primeiro Lugar, o Brasil que Queremos, enfurecendo intelectuais tucanos por suas propostas inócuas e por não terem sido consultados em nenhum momento da elaboração do documento. Foi a gota d’água para a economista Elena Landau desembarcar do PSDB após 25 anos. Diante de tantas trapalhadas, ela não foi a única. Nos últimos meses, Gustavo Franco deixou o grupo para filiar-se ao Novo e Armínio Fraga aproximou-se de Luciano Huck, que cogitava (ainda acredito que o fará) lançar candidatura à presidência da República pelo PPS. Diante do desembarque, Luiz Roberto Cunha e Edmar Bacha, que em agosto lançaram manifesto defendendo o desembarque do governo Temer e a saída de Aécio Neves da presidência do partido, tiveram de vir a público na última semana afirmando que não sairiam do ninho tucano, ao menos por enquanto. Um desastre à organização que anteriormente se destacava pela qualidade de seus quadros técnicos.
6- Coroando o 2017 tucano, teremos ao final desta semana a Convenção do PSDB em Brasília. Diante do mau momento vivido por João Dória a frente da prefeitura de São Paulo, estruturou-se a ideia de lançar no evento a pré-candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que também deve assumir a presidência tucana. Contudo, o partido não consegue se pacificar internamente e o prefeito de Manaus, Arthur Virgilio, que também deseja disputar o palácio do planalto em 2018, pode adiar o anúncio. Fogo amigo é uma especialidade tucana.
7- O nome de Geraldo Alckmin carrega contra si um retrospecto eleitoral de amargas derrotas. Em 2006 obteve a inédita proeza de ter menos votos no 2º turno contra Lula, um ano após o Escândalo do Mensalão. 2 anos depois, sequer esteve no 2º turno da prefeitura de São Paulo contra Gilberto Kassab e Marta Suplicy. Mirando 2018, há uma matriz de risco grande no nome do governador: há em trâmite no STJ inquérito sigiloso contrário a ele. Por não ser público, não se sabe seu conteúdo, mas cogita-se tratar-se de delação da Odebrecht, apurando a suspeita dele ter sido beneficiário de R$ 10 milhões em caixa 2 em doações nas campanhas de 2010 e 2014 por intermédio de seu cunhado.
Alckmin pode vencer 2018? Pode, principalmente se chegar ao 2º turno contra algum nome que carregue enorme rejeição. Em eleições se vende esperança e ódio, é comum votar mais pela rejeição ao adversário que por apoiar seu próprio escolhido. É o voto tático. Porém, há onze meses das eleições presidenciais, escolher um candidato com histórico de derrotas eleitorais e com inquérito contra si não parece ser uma boa escolha. Ah, mas tudo bem. Seria só mais um dos erros do PSDB, o partido que não cansa de errar.
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