Ufa! A primeira sensação é de alívio. Já pensou um socialista amigo dos black blocs no comando da Prefeitura do Rio?! Só mesmo quem inveja Caracas poderia torcer para Marcelo Freixo, empolgar-se com sua campanha. Mas, da mesma forma que teve muita gente votando nele simplesmente por ter arrepios com a ideia de um bispo da Universal no comando da “cidade maravilhosa”, milhares de pessoas não vibravam com o resultado, apenas respiravam aliviados por ter sido o menos pior.
Cheguei a escrever na minha página do Facebook: “Não deu, Globo. Não deu, Veja. Não deu, artistas engajados, “estudantes” emaconhados e “intelectuais” abobados. Não deu, socialistas, petistas, bolivarianos. O Rio é ruim de voto, mas não tem vocação suicida. Chega perto, é verdade. Mas na hora H recua um pouco, dá um passo para trás, e sobrevive para sonhar com dias melhores depois…”
Quem deu a vitória a Crivella foi a rejeição ao PSOL, um partido que defende até o modelo venezuelano, que destila judeofobia por aí, que fomenta o ódio de classes, das “minorias” contra os demais ou entre si, uma espécie de PT de ontem, tentando ocupar o espaço deixado por sua queda. A seita evangélica não chega a assustar tanto quanto a socialista, uma bem mais fanática e prejudicial.
Como brincaram nas redes sociais, é melhor pagar o dízimo do que 70% de imposto. O Rio tinha outras alternativas bem melhores no primeiro turno, mas pela fragmentação da “direita”, restaram somente Crivella e Freixo. Aí não teve muito jeito: era necessário escolher o mal menor. Foram muitas abstenções, na verdade mais do que votos no socialista. Foram muitos nulos. Compreende-se. Gustavo Nogy chegou a comentar:
O número de abstenções no Rio de Janeiro superou o número de votos do candidato Marcelo Freixo. Isso quer dizer alguma coisa. Mas alto lá: não quer dizer alguma coisa apenas à esquerda mais radical, mas também à, na falta de termo melhor, “direita” oportunista, que aproveitou a rejeição a determinados candidatos para vencer. As aspas no termo “direita” não são por acaso: o que se entende por direita na Europa não corresponde ao que se pensa como “direita” no Brasil. Se PSDB existe e é considerado partido liberal, tudo é permitido. Seja como for, o que predomina como saldo desse pleito é o voto negativo, o voto de protesto, o voto no menos ruim. E, consequentemente, qualquer celerado que se apresente como menos ruim passa a receber aplausos indevidos. Não há, em suma, o que se rejubilar disso tudo e, muito embora eu compreenda que o momento brasileiro exige o prudente gerenciamento de danos, cada vez mais me parece razoável defender a moralidade – a urgência, até – do voto nulo ou da abstenção. Não basta desacreditar dos políticos. É preciso desacreditar dos votos, ou da sacralidade de um sistema que, no fim das contas, não é muito mais que uma dança das cadeiras, com os mesmos parentes bêbados e idiotas, em que restará sentado aquele que demorar um segundo a menos para cair. Que os eleitores comemorem a derrota de Freixo (ou de Haddad) é compreensível. Que os eleitores comemorem a vitória de Crivella (ou de Dória) não é compreensível.
Não iria tão longe. Acho que há motivos para comemorar a vitória de João Dória sim. Mas entendo seu ponto: o desespero do eleitor minimamente razoável com esse sistema podre é tanto que ele simplesmente decide não corroborar com ele. O problema dessa tática é que, na prática, não serve para muita coisa além de uma consciência limpa e um protesto. Mas alguém ainda vai levar o pleito e governar sua cidade. Melhor que seja o menos pior…
Digamos que, dos pouco mais de um milhão de votos que Freixo recebeu, metade sejam de pessoas apavoradas com o bispo Macedo, com Garotinho, com a Universal e o próprio Crivella. Ainda assim restam mais de 500 mil simpatizantes do socialista, do socialismo. É muita gente otária! É muito masoquista, maluco, suicida, que olha para Caracas com inveja. O Rio é mesmo a capital nacional da esquerda caviar…
São os “estudantes” que não estudam nada, pois só querem saber de “ocupar” ou fumar maconha. São os “intelectuais” abobados que ainda sonham com o socialismo, seu ópio. São os artistas engajados, aqueles que mamam nas tetas do estado pela Lei Rouanet e acham cool odiar o “sistema” que os permite consumismo burguês e liberdade de expressão, coisas ausentes no socialismo real. Enfim, são muitos idiotas que impedem o Rio – e o país – de decolar. Aos que sabem ler entre essa gente, recomendo meu novo livro Brasileiro é Otário? – O Alto Custo da Nossa Malandragem.
Sim, o resultado foi “bom”, pois poderia ser muito pior. Mas o PSOL não morreu, e Freixo sai pensando já no Senado, falando, como mau perdedor, que a “luta” continua. Qual? A de defender marginais? A de tentar transformar o Rio em Caracas e o Brasil em Venezuela? A rejeição ao PSOL, ao PT, ao socialismo foi tanta que o povo carioca elegeu um Crivella, alguém certamente longe de empolgar pessoas decentes.
Crivella precisa absorver bem a mensagem também: recebeu boa parte dos votos como pura rejeição ao PSOL. Terá a oposição destrutiva dos perdedores, e a construtiva dessa turma toda, que votou em Índio da Costa, Osório, Flavio Bolsonaro e mesmo Pedro Paulo no primeiro turno. Esses eleitores digitaram 10 na urna, mas não com convicção, e sim com pesar, tristeza, até aversão. Tiveram que lembrar sempre da alternativa pior, do que o 50 representava, do que anular significava. Crivella foi eleito pelo PSOL, e isso deve ficar claro.
Fecho com uma reflexão mais geral. Faz algum tempo que digo que só os evangélicos terão força para barrar a revolução cultural marxista em curso no Brasil. Kit Gay, “identidade de gênero”, movimento feminista, movimento LGBT, degradação de valores, avacalhação da arte, destruição da família, tudo isso é parte de uma agenda esquerdista de puro relativismo e “marcha das minorias oprimidas”, uma verdadeira “revolução das vítimas”, que pegou com jeito a geração do mimimi.
Os liberais iluministas e racionalistas simplesmente não têm a força necessária para confrontar esse movimento avassalador. Nassim Nicholas Taleb, em seu ótimo livro recente de aforismos, resume: “Nunca livre alguém de uma ilusão a menos que você possa substituí-la em sua mente com outra ilusão. (Mas não trabalhe muito duro para isso; a ilusão substituta não precisa sequer ser mais convincente do que a inicial.)”
“É inútil tentar fazer um homem abandonar pelo raciocínio uma coisa que não adquiriu pela razão”, disse Jonathan Swift. Por isso mesmo acho que muito liberal tem sido inocente útil, massa de manobra da esquerda, ao não perceber que sua agenda é cultural e que essa “liberdade” toda pregada em nome das minorias não passa de libertinagem com o intuito de destruir as tradições clássicas e o próprio Ocidente como o conhecemos.
É nesse contexto que os cristãos em geral e os evangélicos em particular surgem como freio ao socialismo moderno. É a tese que defendo no meu curso “Civilização em Declínio“, a de que o pêndulo extrapolou para um lado e há agora uma reação necessária. Sabemos que muitos líderes evangélicos exploram a ignorância alheia, mas o preconceito incutido pelos “progressistas” é estratégico, já que eles sabem ter aí um obstáculo ao seu projeto de poder. Ao menos a mensagem evangélica é de defesa da família, de valores mais conservadores, e da legitimidade de subir na vida, ganhar dinheiro.
Enquanto isso, muitos católicos, seduzidos pelos comunistas da CNBB e até por um papa um tanto esquerdista, vendem somente culpa aos indivíduos, culpa pelo sucesso individual, pelo progresso próprio. É preciso rever essa mensagem, pois essa sensação de que o sucesso é um pecado tem sido a responsável pela desgraça latino-americana há séculos. Enquanto a esquerda “progressista” lutar para inverter todos os valores morais e os católicos para incutir culpa nos que conseguem avançar mais, o caminho estará aberto para os evangélicos, com sua mensagem mais acolhedora.
Que fique claro, portanto: da mesma forma que a vitória de Crivella foi uma reação ao risco PSOL, o avanço evangélico é uma reação a essa campanha “progressista” de total inversão de valores, de puro relativismo moral, de vitimismo das “minorias”. Enquanto os artistas e “intelectuais” repetirem que ser transexual é a coisa mais normal do planeta, que fumar drogas é liberdade, que rebolar até o chão seminua aos 11 anos num baile funk é diversão, lá estará um bispo ou um crente para reagir, para intuitivamente, sem a necessidade de tantos argumentos racionais, contestar essa depravação toda e remar contra a maré vermelha.
Os liberais clássicos e os conservadores de boa estirpe ficam um tanto tensos com esses extremos, sem dúvida. Mas se for preciso escolher, como foi na eleição municipal do Rio, então também não resta muita dúvida. Se só há o bispo evangélico e o socialista no cardápio, a opção já foi feita por nós. É triste, mas é o jeito. Os socialistas estão destruindo o Brasil há anos, e também eles são os responsáveis pela chegada de um bispo da Universal no comando da cidade mais caviar do país. Acordem enquanto é tempo…
Rodrigo Constantino
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