Por Percival Puggina
Quem pensou que o Foro de São Paulo perderia força com suas derrotas na Argentina, Paraguay, Honduras e os escândalos no Brasil, deveria dar uma lida nas resoluções do seu 23º Encontro, encerrado em 18 de julho, em Manágua.
De sua leitura se depreende que “democracia”, na perspectiva dos partidos do Foro, é o que acontece quando, através deles (que tolos não são), seus militantes em camisas vermelhas, identificados como “o povo”, exercem o poder. Alinhadas com Antonio Gramsci, essas legendas reservam para si os papéis de novos Príncipes de Machiavel. E vivem como taL, que ninguém faz revolução para passar necessidade, não é mesmo, senadora Gleisi Hoffmann?
Não surpreende, portanto, que persista, mesmo sob o sol dos fatos, o apoio desses partidos ao regime venezuelano. “Em respaldo à luta do povo venezuelano e defesa da Revolução Bolivariana” o FSP se declara em “estado de alerta e Sessão Permanente”. Todas as tropelias, todos os mortos, toda a miséria causada encontra justificação na causa política.
Ninguém no Brasil, fora do estreito círculo de extremistas concentrados no PT e nas pequenas legendas que com ele pegam carona, haverá de negar a completa ruptura do país vizinho com a democracia e com o estado de Direito. A Venezuela faliu sob a estupidez de um governo comunista e seu povo está sendo executado nas ruas, por ordem de um ditador que arroja milícias e polícias contra multidões desarmadas. Mas para obscurecer a realidade, a declaração final do 23º encontro recomenda às militâncias virtuais e aos professores que vinculem “o estudo de História com a Teoria Revolucionária, para dar batalha na luta das ideias, que é a mais importante das lutas revolucionárias”. Conforme o meu artigo “Por que tantos professores de História são comunistas?”, danem-se os fatos!
Nesse cenário, durante a reunião do Foro, a senadora Gleisi Hoffmann assim se expressou:
“O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao governo do PSUV, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro frente à violenta ofensiva da direita contra o governo da Venezuela e condenamos o recente ataque terrorista contra a Corte Suprema. Temos a expectativa que a Assembleia Constituinte possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana e que as divergências políticas se resolvam de forma pacífica.”
Essa farsa constituinte – denominada por Maduro “comunitária e chavista” – que o PT defende para a Venezuela está urdida de tal maneira que a oposição, mesmo com 80% da opinião pública, não vai compor maioria porque a regra definida, meio distrital majoritária, meio sei-lá-o-quê, o impedirá: dos 540 constituintes, 176 serão eleitos entre movimentos sociais controlados pelo chavismo; as grandes cidades, onde se concentra a maior parte da população e onde haveria votos universais suficientes para derrotar o chavismo, elegerão apenas dois representantes, de modo que por mais votos que o candidato oposicionista faça, sempre se elegerá um chavista em segundo lugar. É uma regra para perder e, assim mesmo, vencer. Com as bênçãos do petismo.
Se você não se sente ameaçado com isso, alarmado com isso e não dá importância a isso, assista este vídeo sobre a violência que grassa na Venezuela de Maduro. E se lhe parece pouco, pondere esta frase proferida pelo ditador no dia 27 de junho:
“Si Venezuela fuera sumida en el caos y la violencia y fuera destruida la Revolución bolivariana, nosotros iríamos al combate, nosotros jamás nos rendiríamos y lo que no se pudo con los votos lo haríamos con las armas, liberaríamos nuestra patria con las armas”.
Resumindo, o que o PT, através de sua presidente, apoia na Venezuela é: 1º) uma constituinte inventada para compensar a perda de apoio popular e a derrota na eleição parlamentar; 2º) uma regra eleitoral que permitirá ao governo vencer mesmo sem votos universais suficientes; 3º) uma sentença do ditador determinando que vai às armas (e ele tem todas) se ainda assim for derrotado.