Em artigo publicado hoje na Folha, Janaina Conceição Paschoal, professora de Direito Penal na USP, resumiu muito bem o quadro eleitoral de 2014. Ela lembra que quando alguém sofre de uma grave doença, como um câncer terminal, apela a tudo aquilo que a medicina convencional oferece, e também àquilo que é mais incerto, em fase de testes, um tiro no escuro.
Quando a morte parece a única alternativa, o doente aceita inúmeros riscos na esperança de uma cura, ou de ao menos postergar o inevitável. A autora faz o elo evidente com nossa situação política:
“O cenário eleitoral que se afigura não é muito diferente. Temos um diagnóstico certo. O Brasil padece de um câncer terminal.
O partido que está no poder há longos e penosos 12 anos é responsável pelo mensalão, pelo aparelhamento das agências reguladoras e das empresas públicas, pela quebra da Petrobras –e pelos mais recentes escândalos de corrupção na estatal–, pela volta da inflação, pelo esfacelamento do Itamaraty, por obras que nunca acabam, pelo financiamento da ditadura cubana, mediante a vergonhosa importação de médicos e investimento em obras de infraestrutura naquele país, que seriam muito necessárias por aqui.
O câncer que se instalou no país também se materializa no discurso, quase desrespeitoso, de negar o inegável e tratar os eleitores como se fossem seres incapazes.
É preciso mencionar também o autoritarismo de perseguir e de exigir punição daqueles que ousam divergir. A título de exemplo, é possível mencionar a lista de jornalistas supostamente inimigos do governo e a reação à análise técnica feita por funcionários de um banco privado sobre os rumos da economia brasileira em caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff.”
Há uma turma que idealiza Marina Silva. Mas há muita gente que vota consciente, sabendo dos riscos que ela representa, mas determinada a tentar uma mudança de curso. Existe a possibilidade de parte do PT permanecer no poder com Marina, o que seria terrível.
Mas como Janaina lembra, isso seria um ato de traição de Marina, pois sua eventual vitória seria possível somente pelo grito de oposição dos que anseiam por mudanças. Ela resume:
“Muitos dos eleitores de Marina Silva estão abraçando o único remédio que se mostra capaz de enfrentar o mal que nos asfixia. Não estamos apenas dizendo “sim” à candidata do PSB, estamos dizendo “não” ao PT.”
E o mais importante de tudo nessa eleição é justamente isso: dizer NÃO ao PT, ao projeto bolivariano de poder, aos intermináveis escândalos de corrupção, à incompetência na economia, à arrogância autoritária, às mentiras infindáveis.
Os doentes ainda possuem um remédio mais convencional, testado, eficaz. Mas se restar no segundo turno apenas o tratamento de choque, que seja ele, pois a alternativa é se entregar ao Sr. Morte, um monstro muito parecido com uma mistura de Maduro e Kirchner.
Rodrigo Constantino