Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal
O que aconteceu para que pessoas comuns, que outrora votavam no PT, passassem a rejeitá-lo? O que aconteceu para que pessoas comuns, que outrora defendiam o PT, passassem a relacioná-lo à corrupção? O que aconteceu para que Lula, ex-presidente da república e outrora o político mais poderoso do país, seja xingado de ladrão nas ruas e no congresso? O que aconteceu para que Dilma, com todo aparato publicitário que dispõe, tenha se transformado na presidente com menor popularidade da história do Brasil? O que aconteceu para que Dilma, mesmo com o esforço de compra de apoio empenhado nas duas últimas semanas, tenha recebido meros 137 votos em seu favor na votação do impeachment na câmara? O que aconteceu para que a maioria da população brasileira tenha comemorado a aprovação do impeachment como se fosse a vitória da seleção de futebol numa Copa do Mundo?
“Ao contrário do impeachment de Collor, o de hoje representa um trabalho que veio da sociedade e foi apenas secundado pelo sistema político”, esclareceu o ex-petista Fernando Gabeira, ontem, em seu artigo no jornal O Globo.
O congresso acompanhou o grito das ruas. Preferiu abrir mão do dinheiro e dos cargos que o PT ofereceu para se posicionar do lado da sociedade. Relutou o quanto pode. Mas o fato é que a desmoralização do PT chegou num ponto em que distanciar-se do partido tornou-se uma questão de sobrevivência política. Lula não conseguiu seduzir sequer os deputados mais insignificantes. Em apoio ao partido, sobrou apenas a extrema-esquerda.
Pouco antes do início da votação de ontem, o líder do PT na câmara, José Guimarães, disse que Dilma promoveria uma repactuação política caso o impeachment fosse rejeitado, mas foi firme ao dizer que o partido não participará de nenhum pacto de governabilidade proposto por outro presidente. Eis o resumo da história do PT. Eis a essência do PT. Eis a causa do desmoronamento do partido.
O Partido dos Trabalhadores sempre viu o ambiente democrático como uma ponte para o autoritarismo. Sempre atuou como um predador, tentando destruir todos os adversários. Caluniou sem pudor. Fez oposição sistemática a todos os governos que o antecedeu. Rejeitou o acordo de “união nacional” proposto por Itamar Franco, antes mesmo de saber quais as medidas que seriam adotadas para se vencer a grave crise econômica da época. Votou contra o Plano Real. Passou os oito anos do governo FHC liderando uma oposição sistemática e destrutiva.
Tudo isso consolidou, no meio político, a certeza de que Lula não tinha qualquer apreço por ninguém. Era uma relação comercial e nada mais. Porém, a cortina começou a ser aberta e o dinheiro começou a acabar. Como no final do filme Cidade Deus, a pivetada que trabalhava para Zé Pequeno, ao vê-lo em dificuldade, resolve matá-lo. O congresso fez com Lula o que Lula fez com muitos e muitos outros.
No caso de Dilma, ela foi vítima do discurso “nós contra eles” que ela mesma adotou. Plantando o ódio contra nós, plantou o ódio contra si mesma.
Nunca quis dialogar com ninguém fora de sua esfera de influência. Assim como Lula, nunca quis melhorar o Brasil. Tratou pobre como mendigo. Tratou corruptos como heróis. Tratou muito bem os grande empresários enquanto esculachava os pequenos. Tratou as críticas da imprensa e da sociedade como manifestações golpistas muito antes de qualquer movimento de impeachment. Não teve humildade para reconhecer seus erros. A sociedade viu tudo isso.
Ao forjar uma guerra entre homens e mulheres, entre brancos e negros, entre gays e heteros, entre cristão e ateus, entre ricos e pobres, Dilma tornou-se a inimiga ser derrotada por todos.
Os inimigos do PT não se resumem mais a ideólogos da direita. Graças a sua prepotência, grande parte de seus antigos eleitores também querem seu fim.
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