Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
O jornal O Globo publica hoje um oportuno editorial sobre a situação delicada em que se encontra a Petrobras, graças à roubalheira e aos desmandos cometidos nos últimos anos pelo lulopetismo. Diz o jornal:
A queda vertiginosa da cotação internacional do petróleo força todo o setor, em escala mundial, a rever investimentos, fazer cortes e se desfazer de ativos para colocar dinheiro em caixa. A Petrobras não é exceção. A crise na estatal, porém, é maior do que em outras companhias, porque ocorre no momento mais difícil da história da empresa. Afinal, os efeitos da conjuntura foram potencializados pelas consequências do esquema de corrupção sistemática montado pelo lulopetismo na companhia, para perpetuar um projeto de poder.
Outro fator de desestabilização da empresa foi, também por motivação ideológica, a tentativa de convertê-la no pilar de um programa de substituição de importações nos moldes do “Brasil Grande” da ditadura militar. Aquele projeto fracassou e o do lulopetismo também. O dos militares transferiu bilhões em prejuízos para o Tesouro. O do lulopetismo arrebenta com a estatal, necessitada de um socorro que o Tesouro não tem condições de dar. Calcula-se que ela precisa de um aumento de capital de R$ 100 bilhões, grande parte dos quais seria integralizada pelo Tesouro. Impossível, devido à crise fiscal. E, com a maior dívida empresarial do mundo (meio trilhão de reais), os bancos não se animam a financiá-la. A não ser a taxas muito elevadas. O fato é que, a valer a tradição brasileira, é sempre grande a possibilidade de esta aventura ser mesmo paga pelo contribuinte. (…)
Os estatistas do lulopetismo criaram, ainda, um monopólio estatal na área do pré-sal, a fim de ajudar no programa de substituição de importações. Mas a Petrobras não tem condições financeiras de exercê-lo. E nem o PT e aliados deixam quebrar este monopólio. A Petrobras, então, está imobilizada.
Arrogância e incompetência não permitiram à cúpula da empresa perceber que estava em curso nos Estados Unidos uma revolução tecnológica na retirada de hidrocarboneto de rochas fraturadas. O acompanhamento diário da imprensa especializada teria alertado Planalto e empresa. Os americanos voltaram a ser o maior produtor mundial, e a Arábia Saudita resolveu aumentar a vazão dos poços para não perder mercado e inviabilizar esta nova fronteira de exploração. O resultado é que o barril de petróleo aponta para US$ 20. Junto, inviabiliza também áreas do pré-sal, o “bilhete premiado” tão exaltado por Lula, Dilma e partido. O que a estatal sempre desmente.
Apesar de não ser especialista em petróleo, tenho acompanhado atentamente o noticiário sobre o mercado de energia, inclusive internacional, há muitos anos. Além disso, sempre procurei pautar minhas análises pela mais estrita lógica dos fatos e, principalmente, pela lente da teoria econômica liberal. Assim, dando razão aos editorialistas do Globo e desde já pedindo vênia pela imodéstia, este escriba pode jactar-se de ter cantado essa bola com muita antecedência, quando a maioria dos analistas ainda se encontrava dominada pelo oba-oba governista. Vejam:
Em 2009, por exemplo, ainda na fase de euforia pela descoberta do pré-sal, escrevi o seguinte, deixando furiosos os estatistas e intervencionistas de plantão:
Já os nossos experts da Petrobras, políticos e burocratas de “Banânia”, apostam numa alta acentuada dos preços a médio e longo prazos, pois acreditam que o “ouro negro” estará muito mais escasso daqui para frente. Essa teoria sustenta que o pico de produção do petróleo (peak oil) já teria ficado para trás e que a tendência futura seria de um rápido esgotamento das reservas terrestres. Tal tese, endossada por alguns geólogos, deságua na proposta estúpida de “planejar” a retirada do óleo existente, uma vez que, futuramente, os preços serão muito maiores, beneficiando os poucos produtores que sobrarem.
Não é isso, entretanto, que pensam os analistas sérios. De acordo com reportagem do New York Times, a exemplo de várias crenças malthusianas apocalípticas, essa “teoria” do “peak oil” tem sido promovida por grupos de cientistas ligados a grupos de interesse sindicais ou empresariais, os quais baseiam suas conclusões, não raro, em análises estáticas pobres e interpretações distorcidas dos dados técnicos. Segundo quem entende do riscado, as novas tecnologias tornarão possível o incremento das reservas petrolíferas a curto e médio prazos, e estima-se que, por isso mesmo, a tendência dos preços é para baixo. (…)
Pois bem: apesar das fortes indicações de que são altas as possibilidades de que a coisa possa se tornar um grande mico, o governo brasileiro, de olho nessa ilusão subterrânea que chamam de Pré-Sal, montou uma verdadeira pantomima na semana passada, com vistas a alterar (de forma mais profunda que o próprio pré-sal) as regras vigentes no país para prospecção de petróleo. (…)
Para começar, criam a tal de “Petro-Sal”, cujo propósito será gerir os recursos da União e regulamentar a matéria. A ANP foi, assim, jogada para escanteio, afinal esse negócio de agência independente nunca agradou aos pelegos petistas. Além disso, numa jogada esdrúxula e sem sentido, resolveram entregar à Petrobras, sem licitação, 30% dos campos e, para completar, o governo fará um aporte entre 50 e 100 bilhões de reais na estatal, “para que ela possa arcar com os custos iniciais da operação”. (…)
Além dos riscos naturais já mencionados, há aqueles inerentes à própria ineficiência das empresas públicas. Segundo Mark C. Thurber, diretor do Programa de Energia Sustentável da Universidade de Stanford, citado por Adam Green em recente artigo publicado em O Globo, “em média, PENs (petroleiras estatais nacionais) extraem recursos a taxas muito menores do que as PIs (petroleiras independentes)”. Isso acontece, evidentemente, porque “os monopólios não estão sujeitos à competição e são alvo fácil da corrupção”. Ora, se as estimativas e prognósticos dos analistas antimalthusianos estiverem corretos, quanto mais demorarmos para sacar esse óleo das profundezas da terra, maiores serão as possibilidades de que ele se transforme num mico, cuja extração se torne muito mais custosa que o valor de mercado. O interesse da sociedade, portanto, deveria ser tirar o máximo possível no menor prazo. Para isso, a melhor solução seria entregar a prospecção para quem tem capital, eficiência e tecnologia: empresas privadas.
Já em 2013, quando os preços do barril de petróleo ainda estavam acima dos 100 dólares, escrevi o seguinte comentário:
De acordo com o “The Wall Street Journal”, a produção de petróleo nos Estados Unidos cresceu mais em 2012 do que em qualquer outro ano na história da indústria petrolífera daquele país, que começou em 1859. A produção diária por lá atingiu, em média, 6,4 milhões de barris no ano passado, um aumento recorde de 779 mil barris por dia em relação a 2011.
O incremento vem graças a uma combinação relativamente recente de tecnologias, que envolve perfuração horizontal e fraturamento hidráulico (fracking), além do bombeamento de água, produtos químicos e areia em altas pressões, para quebrar formações rochosas de xisto subterrâneas. Essas tecnologias tornaram comercialmente viável a exploração de jazidas de petróleo e gás até então inacessíveis.
As novas tecnologias têm aumentado a produção de óleo e gás não apenas nos EUA, mas ao redor do mundo inteiro, e hoje o “fracking” já é considerado uma verdadeira revolução. Há quem garanta que os Estados Unidos superarão a Arábia Saudita como maiores produtores do planeta, antes de 2020.
Enquanto isso, a Petrobras registrou, em 2012, a terceira queda de produção de petróleo em 59 anos de operação. Também no ano passado, no segundo trimestre, a empresa amargou um prejuízo de RS 1,35 bilhão. Por causa da queda na produção, a petrolífera brasileira passou a importar diesel e gasolina em volumes crescentes, a fim de atender uma demanda interna que, graças a uma política de preços absurda, não para de crescer.
Este cenário é consequência de decisões políticas altamente equivocadas, com destaque para a aposta errada na exploração (arriscada e caríssima) do pré-sal. Os problemas da Petrobras, inclusive financeiros, são tão graves que já começam a contaminar o mercado inteiro. Infelizmente, poucos têm coragem para falar em privatização, mas seria melhor que se pensasse nisso rápido, enquanto ainda há tempo.
Mais uma vez, peço desculpa pelo texto autocongratulatório, mas é preciso demonstrar que a derrocada da Petrobras era perfeitamente previsível por qualquer pessoa antenada e bem informada. Só não viu quem não quis. O resto é desculpa esfarrapada de gente incompetente e idiotizada por uma ideologia tão tacanha quanto velhaca.