Por Sergio Renato de Mello, publicado pelo Instituto Liberal
Desde as sufragistas, termo utilizado por Chesterton em sua obra O que há de errado com o mundo, as mulheres vêm lutando e ganhando espaço cada vez maior na sociedade. Naquele tempo, o que elas queriam era apenas lutar por seu direito de voto. Conseguiram e, como não poderia deixar de ser, hoje temos uma democracia assexista, com sufrágio universal e, para acabar de vez com os mimimis, voto secreto.
Ainda hoje, na visão das mulheres (ainda não estou me referindo às feministas), a pauta de suas lutas não foi devidamente atendida em todos os anseios delas, havendo ainda muito o que se discutir e ampliar para as mulheres em termos de direitos só dos homens. Ainda criticam o buraco negro deixado pelo preconceito social, falta de igualação com os homens que é resultante desse amesquinhamento de tratamento dos dois gêneros criados por Deus.
Agora me referindo às feministas, às mais radicais ou fundamentalistas, a reivindicação delas está mais para a eliminação do que se tem do que para uma isonomia propriamente dita. Isso vem em contradição ao próprio conceito ou ideia de um pensamento conservador puro, que quer mais preservar do que mudar a sociedade ou o homem.
Na prática das suas reivindicações públicas, das ruas à mídia política e ideológica, já se tem notícia de algo num estágio ideológico, ativo e avançado de eliminação do macho, do homem, da maternidade, da procriação, enfim, de tudo que foi conquistado pela humanidade com muito suor e lágrimas, mortes e tragédias. E as suas representantes mais bizarras ainda não se deram conta disso. Deixaram-se levar pela moral pública sofismática, das massas, de inverdades, da hipocrisia, de maioria, como quem acredita cegamente no ditado “A voz do povo é a voz de Deus”. Tirando o Brexit, a vitória de Donald Trump e a não aceitação do acordo na Colômbia com as Farc, de resto o que sobra é um mero espalhamento de inverdades por uma mídia enganadora e manipuladora, que não entende absolutamente nada de democracia, achando que o marketing público representa a vontade da maioria humana. E os idiotas, como já dizia Nelson Rodrigues, citado por Luiz Felipe Pondé, são sempre maioria.
Mas o enredo ainda não está no seu fim. Mesmo não se dando conta disso (muito embora não é por falta de aviso dos próprios conservadores – repetindo: dos conservadores!), a eliminação do macho não basta para o ensandecido propósito. A par deles, agora é a vez das mulheres.
Enquanto o conservadorismo que manter as instituições sociais e da civilização conquistadas a duras penas, o feminismo radical centra sua atenção em por fim ao macho e à fêmea. Não querem a ajuda dos conservadores, nem mesmo uma ajuda para entender o que é conservadorismo e tentar preservar, ao menos então, a mulher. Trata-se de um certo autoflagelo inconsciente, desequilibrado ou irrefletido. Sendo um pouco inocente para a melhor das hipóteses, faço votos para que esses predicados sejam verdadeiros, caso contrário estará eliminada toda e qualquer esperança de um bom entendimento.
O feminismo radical, que é aquele que sai nas ruas sem roupas e que reivindica liberdade total sobre o próprio corpo, tem por objetivo desestruturar a sociedade e as instituições que nela se contém. A sua intenção é menosprezar o homem a ponto de tirar-lhe a sua qualidade e rebaixá-lo ao nível de um escravo sexual, prescrever formas utópicas de felicidade para a mulher sem maternidade, família e procriação de filhos. Quer fazer desaparecer a dona de casa, a mãe, a esposa, a mulher, a cinderela, a princesa e a mulher virtuosa, formas de expressão da mais autêntica mulher feminina (e não feminista). Poderemos continuar convivendo com todas essas beldades femininas se as feministas pararem de parasitar na força do homem a sua luta malévola, irracional e destrutiva intenção pós-moderna.
O conservador, explicado a feministas, quer manter as instituições e o gênero humano, espécie do qual está a própria mulher enquanto ser feminina e com todos aqueles atributos citados. Já o feminismo impensado e louco quer varrer da face da terra estas “pedras de tropeço” que estão no seu caminho. Pode haver conciliação para manutenção de dois espaços. Por que não instituir formas de união conjugal em paralelo ao casamento? Por que não reivindicar os direitos sem destruir os dos outros? Por que não procurar ganhar espaço sem destruir o que já existe como algo natural na sociedade, como família, procriação, maternidade e a delicadeza das mulheres?
Muito embora o conservadorismo ainda seja encarado por vezes sob viés ideológico, essa corrente ainda não é pacífica. João Pereira Coutinho, em As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários, publicado pela editora Três Estrelas, lança suas bases conservadoras inspirado em Edmund Burke, o britânico que professa um espírito moderado, sem ser revolucionário ou reacionário (sem combater utopias com novas utopias). Para ele, o conservadorismo pode ser tido como uma ideologia, mas uma reativa e posicional, que age somente quando ativada por movimentos destrutivos da ordem presente, sem querer voltar ao passado e sem olhar para um futuro utópico. Os critérios são: imperfeição humana, pluralismo, tradição, reforma e sociedade comercial. Para ele, Coutinho, trata-se de uma tradição que pode ser orgulhar de não ter sangue nas mãos.
Ainda seguindo com João Pereira Coutinho, longe de se afigurar uma política, o conservadorismo é espírito, uma força interior, um temperamento, instinto, uma inclinação pura e natural da mente humana. Essas foram as conclusões de pensadores citados por João.
Vejo o bom conservadorismo como algo que torna as coisas mantidas tal como elas foram surgindo naturalmente na sociedade e faz parte do espírito e da natureza humana. O funk jamais poderá substituir a música popular brasileira e o legítimo samba. A união estável informal jamais pode substituir o casamento civil no cartório. Aquela aberração de união a três divulgada pela Rede Globo não pode substituir a legítima família tradicional. As belas artes que elevam o espírito e tocam a alma em hipótese alguma podem ser substituídas por um vaso sanitário ou pichações em imóveis públicos. O afeto não pode ser substituído pela tecnologia, e por aí vai… Há um espaço em que tudo pode conviver concomitantemente, a menos que se queira destruir o que foi dado por Deus ou criado pelo homem com dignidade e respeito à natureza.
No meio intelectual, existe o nome de Flávia Piovesan para ocupar o cargo vago deixado por Teori Zavaschi no Supremo Tribunal Federal. Ela se enxerga modernista, defensora dos direitos humanos e é autodeclarada inimiga do conservadorismo. Com relação ao conservadorismo, como o conservador não quer eliminar nada (ao contrário das feministas), só tenho a pensar que tal afirmação peca por ser marqueteira, aduladora, um erro grosseiro ou uma ignorância de quem não se debruçou na teoria para ver o que, de fato, ele representa para a sociedade e em termos de conquistas que devem ser preservadas e não trocadas. Como pode uma feminista querer eliminar a própria feminilidade? Como pode uma mulher querer eliminar a própria classe feminina?
Não se pode imaginar que alguém possa querer destruir as instituições. Quando falo instituições aí estão incluídos também os gêneros (sexos) humanos, no caso, a mulher. É inconcebível até mesmo pensar que a mulher possa querer se auto eliminar.
Mas os conservadores de melhor classe estão aí para, se for o caso, poder explicar para quem tem ouvidos, ainda que, para as feministas, sejam eles encarados como meros sofistas, com suas retóricas conspiratórias e cheias de inverdades ainda não descortinadas por Platão. Como bem disse Roger Scruton, de quem tomo a lição de casa todos os dias de manhã depois da oração e antes do desjejum, o trabalho de conquista das boas coisas é lento, mas o de destruição é rápido; com relação à opinião pública, o trabalho dos conservadores é enfadonho, muito embora com eles esteja a verdade, enquanto que o dos oponentes é excitante, porém falso. Sempre digo que não está nada fácil manter um mundo ao menos consistente para nossos filhos viverem.
Uma garota prometeu expor cenas de sexo com seu namorado se atingir 1 milhão de seguidores inscritos no seu canal do youtube.
Será que existe exemplo mais eloquente de exposição, objetificação e consequente desvalorização da mulher do que esse? Mesmo que essa exposição não esteja vindo sob a bandeira feminista, creio que ela seja uma consequência ainda que indireta de tal onda radical destrutiva, a par da inversão de valores tão sonhada por Antônio Gramsci quando estava no cárcere e a escreveu, de certo, com muita raiva de tudo e de todos (deu no que deu!).
O conservadorismo defende as mulheres porque elas são vítimas de uma revolução sexual televisiva e midiática, misógina. Veja-se a reestreia do programa Amor & Sexo, também da Rede Globo), onde mulheres decentes foram colocadas no mesmo plano de outras que se auto consideram vadias.
E, ao contrário do que querem fazer crer as feministas desequilibradas, o conservadorismo está aí para defender as mulheres como gênero humano vulnerável a esse estado de coisas impensadas. Essa defesa tem que ser feita ainda que ela, a classe das mulheres desvalorizadas ou em desvalorização, não queiram ser representadas em tal postulação ou achem que estão sendo, de uma forma ou de outra, sub-representadas, pois o que está em jogo são valores universais e indisponíveis por seus próprios titulares. Vou mais longe e digo que os valores e princípios, bens e interesses conservadores, têm que ser preservados por estarem em uma espécie de domínio público, onde praticamente ninguém pode tocar isoladamente e sem autorização do todo.
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