A pergunta é para provocar mesmo, claro. O que qualquer um pode ter a aprender com alguém como Lula?! Mas existe, sim, uma lição importante que o presidente pode extrair dos dois mandatos do petista, e é uma mensagem que venho tentando transmitir ao governo faz tempo: a pauta mais ideológica precisa ficar para depois da melhoria econômica. É basicamente isso.
Lula, vamos lembrar, assumiu com forte desconfiança dos mercados, mesmo após sua Carta ao Povo Brasileiro. O que ele fez? Colocou Palocci no comando da economia, um médico que assumiu postura cautelosa e moderada, e Henrique Meirelles, um banqueiro internacional, no comando do Banco Central.
Em suma, Lula “centrou” no começo do seu mandato, adotando tom mais moderado e responsável. E colheu os frutos! Claro, teve uma “ajudinha” da China e dos bancos centrais dos países desenvolvidos. O Brasil surfou uma onda internacional favorável, a melhor janela de oportunidade em décadas.
Mas eis o importante: ao preservar o tripé macroeconômico e colocar gente mais razoável no comando da economia, Lula “fez sua parte”. E a economia ia tão bem que nem mesmo o mensalão foi capaz de derruba-lo! FHC tem sua parcela de culpa, pois convenceu os tucanos de que o impeachment seria um erro, de que era melhor deixar o petista sangrar. O resto é história: foi reeleito, depois elegeu seu “poste” Dilma, que também foi reeleita, para desespero da nação.
O resumo da ópera é que toda a pauta mais ideológica – no caso totalitária e socialista – do PT só veio a reboque do avanço econômico e de um começo mais “centrista” de Lula. Se Bolsonaro resolver esticar demais a corda no começo, comprando briga com tudo e todos, tentando limpar a “velha política” da noite para o dia, reverter todas as trapalhadas ideológicas da esquerda de décadas em poucos meses, estará fadado ao fracasso.
Vejam o caso do MEC, com Ricardo Vélez. Alguns bolsonaristas chegaram a afirmar que essa indicação mudaria o país, que em cinco anos seríamos uma potência. Poucas semanas depois, o que temos? Um ministério metido em confusão e um ministro que balança, e até agora não caiu – mas pelo visto falta pouco. Reverter o estrago socialista nesse setor é importante? Não: é crucial! Mas eis o ponto: isso não será feito da noite para o dia, e vai precisar de mais estratégia e cautela – e da economia ajudando.
Como tenho dito aqui, mesmo a ala mais conservadora do governo precisa entender que, antes, a prioridade é aprovar a reforma previdenciária, turbinar a agenda de Paulo Guedes. Só isso vai recolocar o Brasil na rota do crescimento, acalmar os ânimos, permitir a retomada da confiança dos consumidores e empresários, aliviar o caixa do estado, e dar o tempo necessário para que a agenda conservadora dos costumes seja implementada.
Trocando em miúdos, os mais ideológicos dentro do governo precisam ser, no momento, os mais pragmáticos. É isso ou poderão colocar tudo a perder, inclusive as pautas ligadas à “guerra cultural”. Mesmo uma “revolução” precisa de alguma prudência e de táticas pragmáticas. Não é possível parir um bebê em um mês engravidando nove mulheres diferentes. Certas coisas levam tempo. E o governo Bolsonaro precisa, agora, ganhar esse tempo, até para poder fazer a diferença.
Já que os bolsonaristas gostam de metáforas de guerra, seria bom lembrar que um general vencedor sabe priorizar as batalhas importantes para se vencer a guerra, sabe recuar quando é preciso, aliar-se até mesmo a inimigos quando necessário, tudo com o foco naquilo que é o essencial: vencer a guerra no final. Se ele tentar partir para o tudo ou nada logo no começo, confundindo cada batalha com a própria guerra numa atitude de vida ou morte, acabará colhendo apenas derrota.
Em tempo: desnecessário dizer o que Bolsonaro não precisa aprender com Lula. É para ser cauteloso e mais moderado no começo, mas jamais para aderir aos esquemas de corrupção, muito menos à compra de votos via mensalão. Isso, além de abjeto, acaba mal, como a trajetória do marginal petista mostrou. Articulação política é uma coisa; crime é outra, bem diferente. Bolsonaro pode sinalizar maior desejo de união em prol de uma agenda comum, pode aceitar que política é a arte do possível, ceder em alguns pontos, adotar tom mais pacificador. Mas não precisa e nem deve se corromper.
Rodrigo Constantino
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