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Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal

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última pesquisa presidencial do Datafolha mostrou força por parte da candidatura de Marina Silva. Ela foi bem pontuada nos cenários de 1º turno e, segundo o levantamento, a candidata venceria no 2º turno Jair Bolsonaro (44% a 31%) e Geraldo Alckmin (44% a 27%). Mas, o que esperar da porta-voz da Rede?

Analisar a trajetória mais recente de Marina, que foi filiada ao Partido dos Trabalhadores por 23 anos, pode trazer algumas surpresas aos defensores de uma sociedade de mercado. O conselheiro econômico da presidenciável é Eduardo Gianetti, que a acompanha desde as eleições de 2010. Não foi à toa que naquela eleição – acredite – a então candidata do PV foi a mais liberal do certame.

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Entre as medidas que defendeu estavam a revisão do Pacto Federativo (com uma maior autonomia para os Estados), a Reforma da Previdência, a abertura ao Comércio Internacional – com a redução das barreiras alfandegárias – e uma PEC do Teto – semelhante à que foi aprovada 6 anos mais tarde pelo Governo Temer. Todos os temas completamente ignorados por José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) em 2010, e novamente negligenciados em 2014 – não à toa, vencidas as eleições, houve estelionato eleitoral.

Em 2014, quando liderava as pesquisas, Marina foi bastante atacada pela campanha de Rousseff por defender a autonomia do Banco Central. Quem não lembra da peça de João Santana mostrando que a política monetária defendida por Marina retiraria comida do prato dos brasileiros? Sem ter uma militância e uma base partidária tão fortes ao seu lado, com os ataques à candidatura, acabou definhando, sem nem sequer chegar ao 2º turno.

Ao longo de 2015 e 2016, a ex-senadora poderia ter feito uma melhor oposição à Dilma Rousseff, sendo mais veemente em seus posicionamentos, mas apoiou o impeachment da petista. De perfil mais comedido e reservado, optou por sair da linha de frente do debate público, entretanto. A estratégia de evitar “queimar a largada” e se precaver de ataques antes da fase derradeira foi arriscada, e sua pontuação atual nas pesquisas deve ser relativizada por refletir mais seu recall por ter disputado duas eleições majoritárias nacionalmente que preferência de votos.

Em meio à imprevisibilidade dessas eleições, Marina pode chegar ao 2º turno, mas possui contra si várias adversidades: não possui sequer deputados suficientes para obrigar emissoras para que ela participe dos debates na televisão e possui pouco tempo de propaganda eleitoral na TV e pouco dinheiro na campanha.

Ademais, tal como em relação a outros presidenciáveis que estão buscando aderir à agenda liberal, é preciso manter algum grau de ceticismo com Marina, dada sua trajetória dentro do Lulo-petismo e por não ser enfática na defesa de pautas liberais que marcaram seus programas de governo nas eleições passadas.

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Exemplo disso foi que, no início de abril, Gianetti participou do Bradesco BBI Annual Investment Forum e, ao ser questionado sobre privatizações, foi veemente, sendo possível resumir sua fala em duas assertivas: “devemos privatizar muito; é preciso ter cuidado apenas para que não se privatize tão somente para cobrir o rombo de caixa do governo para que o ajuste fiscal seja sustentável”.

Marina, no entanto, explanou mais ressalvas alguns dias depois. Ela afirmou que, a despeito de não se opor a privatizações, é contrária nominalmente à privatização da Petrobrás, da Caixa Econômica e do Banco do Brasil. Recentemente, ela regrediu ainda no tocante à independência do Banco Central. Por fim, no painel dos presidenciáveis do Fórum Liberdade, ela teve 15 minutos para expor seu projeto de país e, estranhamente, optou por falar pouco de economia para enfatizar um discurso de valores e pedir diálogo em vez de embate. Um discurso sonhático, bem criticado por Lucas Berlanza neste instituto.

Naturalmente, o ceticismo é mais que justificável em relação a candidatos cujo discurso tende a ser genérico e mudar com alguma frequência. Há ainda uma enorme preocupação em relação a um eventual governo Marina Silva, pois a Rede possui atualmente apenas 2 parlamentares. Como aprovará as reformas que propõe? Sua própria candidatura à presidência é uma estratégia para que o partido consiga superar a cláusula de barreira e sobreviva à próxima legislatura. Ademais, ela ser competitiva nas eleições depende de coligações com outras siglas, algo que só se confirmará nas próximas semanas.

Tal como já afirmei ao escrever sobre Jair Bolsonaronão adianta ter um conselheiro econômico liberal se o candidato não estiver realmente comprometido com a agenda proposta, além de ter uma base parlamentar que o permita aprovar essas medidas econômicas.Embora em graus distintos, esse risco também é presente na candidatura de Marina Silva e deve ser considerado.

Por conseguinte, enxergo Marina Silva com muitas restrições, mas menos do que a maior parte dos integrantes da chamada Nova Direita, alguns bastante sectários, costuma atribuir a ela.

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Isso porque dentro da esquerda, há uma social democracia esclarecida na Europa. As reformas liberalizantes no Canadá (no governo de Jean Chrétien) e da Nova Zelândia, por exemplo, foram conduzidas por partidos de esquerda, que entendiam que o Estado prover políticas públicas de Bem-Estar não significa que, para tanto, ele deva quebrar. Como se sabe, o Brasil é muito atrasado nesse debate, ao ponto da social democracia ser apontada como ultra-liberalismo por aqui.

Sendo assim, Marina Silva é uma candidata que pode representar uma esquerda racional, a que defende medidas sociais, mas com responsabilidade fiscal. A que critica algumas medidas do governo Temer, mas não apenas discorda da tese de golpe, como foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. Sem dúvida, dentro da esquerda Marina é um avanço na política nacional; o problema é que os eleitores órfãos do ex-presidente condenado Lula também podem olhar para Fernando Haddad, Ciro Gomes, Manuela D’Ávilla e Guilherme Boulos.