Duas longas reportagens no GLOBO ontem e hoje mostram o “dilema” acerca da imensa torre blindada que a polícia tenta instalar no Morro do Alemão, que vive verdadeira zona de guerra, comprovando que a “pacificação” foi fajuta, para inglês ver. O território é dominado pelos marginais ainda, que formam um “estado paralelo” no local, cobrando “impostos”, taxa de “segurança”, tudo aquilo que máfias sempre fizeram ao longo da história.
Mas os “especialistas” não querem saber de policiamento ostensivo nesses lugares. Os sociólogos alegam que isso vai contra a liberdade dos moradores. Como assim?! Será que há mais liberdade quando a bandidagem domina “pacificamente” a região, dando ordens a todos? Será que o problema dos tiroteios é da polícia que tenta impor a ordem? Diz um trecho da reportagem de hoje:
Ela pesa quatro toneladas, tem seis metros de altura e foi construída para resistir a disparos de fuzis e explosões de granadas. Motivo de intensos tiroteios que deixaram quatro mortos e cinco feridos desde a última sexta-feira, a torre blindada da PM instalada ontem na Favela Nova Brasília, uma das 13 do Complexo do Alemão, virou um marco, segundo especialistas em segurança pública. Um marco de ruptura, já que sua estrutura de guerra representa a antítese do conceito de proximidade, inspiração do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
A torre, que ficava na Linha Amarela, foi levada de caminhão para o Largo do Samba, no alto da favela, onde moradores não acreditam mais em pacificação, justiça ou proximidade. Com visão de 360 graus e orifícios nos quais um PM pode enfiar o cano de sua arma para abrir fogo, ela foi colocada num ponto considerado extremamente violento da comunidade, conhecido pela constante venda de drogas. Ali nunca foi um lugar muito frequentado pelas equipes das UPPs que chegaram ao Alemão em 2010. Agora, a impressão que se tem é de que a convivência vai ser à bala.
— Aquela estrutura simboliza a perda de legitimidade. Para instalar a torre, a polícia se sentiu no direito de ocupar casas de moradores. PMs balearam e foram baleados. Que proteção é essa? A política de segurança do estado perdeu totalmente o sentido — criticou a socióloga e pesquisadora Silvia Ramos.
A rotina de confrontos no Complexo do Alemão torna difícil o relacionamento entre policiais e moradores, avalia o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM. Para ele, já não dá mais para o estado apostar no conceito de polícia de proximidade na região. Segundo o especialista, a instalação da torre blindada se faz necessária porque “abandonar o terreno não é a melhor saída”, principalmente pelo fato de o Complexo do Alemão ser um conjunto de favelas estratégico para o tráfico.
— A polícia de proximidade só é cabível quando há possibilidade de uma atuação de forma diferenciada. Acredito que a PM não quer abrir mão do Alemão; sair de lá seria permitir que criminosos retomem um lugar que, devido à localização e ao tamanho, sempre foi o principal ponto de distribuição de drogas e armas no estado. A torre blindada, então, chega para dar segurança ao efetivo que resiste no complexo — afirmou Storani.
O sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análises da Violência da Uerj, pensa diferente. Para ele, instalar uma torre blindada na Nova Brasília, favela que conta com uma UPP, “é inverter a lógica”, já que “o principal objetivo de qualquer ação policial deve ser proteger as pessoas”.
— A iniciativa vai contra a política de redução de confrontos. Estão colocando uma torre para trocar tiros? Por mais blindagem que ela tiver, os traficantes vão atirar com tudo que puderem para derrubá-la. É um alvo, um convite ao confronto.
Perda de legitimidade, direito de ocupar casas, interver a lógica, contra a política de redução de confrontos. Então a saída é não ter policiamento ostensivo e deixar os bandidos em paz? Sim, porque qualquer tentativa de levar a lei e a ordem para as favelas encontrará como barreira o poder paralelo dos traficantes. A única alternativa ao confronto é deixar os marginais em paz, tomando conta do território e impondo as próprias “leis” aos moradores locais. Qual a outra alternativa?
Diante desse cenário, o sociólogo José Augusto Rodrigues, professor da Uerj, considera a situação atual uma “sinuca de bico”:
— Há realmente uma contradição muito grande. A ideia de polícia pacificadora é a de uma PM com ações comunitárias, de proximidade. Se você põe uma torre blindada, significa que está perdendo o controle. O custo moral de sair do Complexo do Alemão seria muito alto, mas, ao mesmo tempo, a permanência da tropa num contexto de confronto permanente, sem contar com a simpatia da comunidade, também é ruim. É algo que não causa só desgaste político; provoca a perda de vidas, de horas nas escolas, de atividades econômicas. As pessoas estão inseguras. Criou-se uma situação de impasse.
Realmente, é uma sinuca de bico, pois desde Brizola que os governos vêm deixando, com o aval e aplausos dos sociólogos, o território livre para a bandidagem. Hoje os marginais possuem verdadeiras fortalezas do crime, com armamento pesado que entra pelas fronteiras porosas do país, sob a incompetência do governo federal. Qual a saída? É fundamental repetir ad nauseam a pergunta, para que sonhadores utópicos e românticos não possam simplesmente atacar a polícia, sem oferecer uma solução em troca.
Como recuperar o território sem o confronto com os atuais donos do pedaço? Como fazer o estado chegar nas favelas sem tirar o poder paralelo lá instalado hoje? Como adotar o império das leis se os bandidos usam seu poder de fogo para impor suas próprias regras? Deve o estado, com seu braço policial, simplesmente fazer vista grossa e fingir que a criminalidade não rola solta nessas comunidades? Alguém acha que basta construir escolas para mudar a situação? Sério?
As favelas cariocas são a Síria brasileira, e já vivem num cenário de guerra. Os “especialistas” adoram culpar a polícia, que chegam muitas vezes a acusar de “fascista”. Mas o que eles oferecem em troca? Queremos saber o que esses sociólogos, após tanta leitura de Foucault e Marcuse, têm para nos oferecer. O desarmamento civil e também da PM, para deixar só o tráfico com bazucas e fuzis, dominando sem esforço o território? É isso?
Rodrigo Constantino
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