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O que Guga Chacra não vê na cultura dos EUA?

Por Alexandre Borges, publicado pelo Instituto Liberal

Guga Chacra fez um post sobre os ataques no Paquistão. Vou comentar um trecho específico com vocês:

“Um cristão foi chefe da Suprema Corte do Paquistão – hoje seria impensável um muçulmano na Suprema Corte dos EUA, por exemplo.”

Alguns pontos importantes sobre possíveis interpretações livres desta frase (não me refiro às reais intenções do autor):

1. Os EUA foram feitos por imigrantes e é um dos países mais plurais e miscigenados do planeta. O atual presidente, apenas para ficar no exemplo mais óbvio, é um mulato havaiano filho de uma americana com um queniano. Ted Cruz, que disputa a vaga de candidato republicano com Trump, é filho de pai cubano. Parece normal, mas esta não é exatamente a regra no resto do mundo.

2. O lema nacional dos EUA é “E pluribus unum” (“De muitos, um”, em latim). A frase foi adotada no processo de independência e significava originalmente a idéia de que as 13 colônias se tornariam um país só. O sentido que a frase ganhou com o tempo é de que a sociedade americana é um “melting pot” (cadinho), uma metáfora para a mistura de raças em torno de um projeto comum de nação. É por isso que se diz que a América é uma idéia.

3. Há pouco tempo, o Dr. Ben Carson foi perguntado numa entrevista se ele seria contra a ideia de um presidente muçulmano. Ele deu uma resposta correta, mas que evidente foi usada contra ele distorcendo o sentido original. Carson disse que o muçulmano que segue a lei da Sharia não poderia também prestar juramento à Constituição por serem documentos incompatíveis. A imprensa saiu gritando “islamofóbico!”, mas ainda estou aguardando que alguém me mostre o erro da declaração dele. A lei da Sharia é incompatível em vários pontos com a Constituição Americana e o presidente muçulmano teria que fazer uma dura escolha, além de conviver com a dúvida sobre onde estaria seu coração e sua fidelidade real.

4. Imigração hoje é um assunto lamentavelmente ideologizado e politicamente instrumentalizado, quando deveria ser uma prática baseada no bom senso e no interesse do país. Imigração faz sentido com assimilação cultural, ou seja, o imigrante que opta livremente por trocar de país está implicitamente aceitando os valores culturais, as leis e as tradições do país de destino. Qualquer coisa diferente disso é invasão. É claro que essa regra não se aplica a crises humanitárias como no caso de refugiados ou asilados políticos.

Quando Guga Chacra diz que é “impensável” um muçulmano na Suprema Corte americana, sugerindo que neste ponto o Paquistão seria um país mais tolerante que os EUA, é preciso deixar claro que, assim como o presidente, o juiz da Suprema Corte precisa defender a Constituição acima de qualquer crença religiosa, o que é totalmente compatível com a fé cristã mas que enfrenta vários problemas quando é confrontado com a lei da Sharia.

Isto não é preconceito, não é xenofobia, não é provincianismo, é fato. A xenofobia (medo ou ódio do estrangeiro) é tão repulsiva quanto à ecofobia, termo menos usual que pode ser entendido como medo ou repulsa ao próximo, ao familiar, ao conterrâneo.

Os EUA são um exemplo de integração e assimilação de imigrantes. As últimas e cada vez mais raras salvaguardas americanas contra a total descaracterização do país não podem nem devem ser vistas como xenofobia, um termo inaplicável para a grande maioria do povo americano.

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