Durante um ano, as trilhas de caminhadas e bicicleta no sul de Kansas City estiveram “decoradas” com sangue humano. A partir de agosto de 2016, corpos foram encontrados ao longo da trilha de Indian Creek ou nas redondezas. Todos foram alvos de tiros. Todos eram de idade média. Todos eram brancos.
A matança parou quando Fredrick Demond Scott, um funcionário do Burger King de 22 anos, foi preso. Conforme o Washington Post havia reportado, Scott, que é negro, teria ameaçado no passado realizar um massacre em sua escola e matar todos os brancos.
No outono passado, Scott alegou inocência em três casos. Ele era suspeito de outras três mortes, e nesta sexta o júri no condado de Jackson o condenou por conta desses crimes. Ele enfrenta agora a acusação de seis assassinatos de primeiro-grau.
As autoridades não tornaram público ainda a motivação dos crimes. Em agosto, a mãe de Scott disse que seu filho estava sofrendo de uma esquizofrenia paranoide sem tratamento, e que não parecia ser movido por ódio racial. “Até onde sei ele nunca teve problemas com pessoas brancas”, disse a um jornal.
Mas após a prisão de Scott, veículos de comunicação locais mergulharam em seu passado e encontraram supostas ameaças com base no racismo. Em 2014, quando Scott era um estudante numa high school, ele teria ameaçado realizar um massacre como o de Columbine, só que especificando os alvos preferidos: “matar todas as pessoas brancas”.
Como fica claro, o racismo pode ser letal – para suas vítimas. E não importa quem é o racista repleto de ódio – se o branco ou o negro. Ele é igualmente perigoso. Afinal, o racismo é aquele sentimento que elimina a capacidade de julgar o indivíduo, partindo de uma visão coletivista em que somente sua “raça” importa.
Arianos nazistas que consideram negros seres inferiores, ou negros revolucionários que consideram brancos “demônios” são igualmente perversos. A diferença, no mundo moderno, é que a imensa maioria considera o nazismo algo abominável, execrável, enquanto não é difícil encontrar simpatia na grande imprensa e no meio acadêmico aos movimentos revolucionários raciais das minorias negras.
Ignorar o “racismo reverso”, nome ruim, já que todo racismo é simplesmente racismo, não vai eliminar o problema. Ele existe. Muitos negros crescem alimentados por ressentimento, ódio, por meio de uma narrativa um tanto distorcida do passado, que retrata todos os brancos como malvados, e o próprio sistema como opressor e injusto, sendo que foi no Ocidente que os negros encontraram a liberdade e a prosperidade, ainda inexistentes na “mãe” África.
O fato de que um caso desses como o de Scott sequer merecerá menção na mídia nacional, enquanto podemos imaginar o estardalhaço e a histeria se fosse o contrário – um branco matando vítimas negras – já demonstra como o viés ideológico e o filtro politicamente correto impedem um debate sério sobre o racismo em geral. Ele deve ser condenado de ambos os lados. Não existe o “racismo do bem”.
Rodrigo Constantino