Por Fernando Fernandes, publicado pelo Instituto Liberal
Nos meus últimos textos tenho construído uma narrativa a partir da ótica de alguém que é, a um só tempo, observador e participante dos eventos que movimentam o Brasil desde 2013. Afirmo, com base nisto, a presença de um elemento que tem passado ao largo da maioria das análises que tenho acompanhado nas redes televisivas e de rádio – ainda que seja um ouvinte inconstante do último. Diferente do alardeado, não parece que os brasileiros presentes nos movimentos de rua de 2013 eram “contra o sistema político” de modo difuso e desordenado – observando a partir do momento que o povo aderiu às manifestações e o Movimento Passe Livre perdeu o controle. Nem parece que o clamor das ruas de 2015 e 2016 é uma busca genérica pelo “fim da corrupção”.
Ainda que hoje esteja canalizado contra a plutocracia petista, as manifestações não se satisfarão com a punição do maior escândalo de corrupção do mundo e nem com o fim da organização criminosa que o instaurou. A vontade da população das ruas vai muito além de um anseio das promessas vãs e sem propósito pós-modernas. Com afirmei em outra oportunidade, para o desespero da esquerda nacional – e de certa casta de políticos – os brasileiros estão em busca de mudança, porém uma alteração que não se limita às peças atuantes no nosso teatro político. O Brasil quer se tornar algo totalmente diverso daquilo que podem oferecer os populismos latinos americanos – seja na sua versão bolivariana, seja na sua versão fisiologismo patrimonialista.
O clamor por mudanças urgentes não é uma novidade, segundo a CNT/MDA de 2014, o desejo de uma mudança parcial ou total na forma atual de governar havia crescido de 62,2% para 68,7% dos brasileiros. Do percentual que pede mudanças, 39,5% querem que o governo mude totalmente o modelo de gestão, enquanto 29,2% querem modificações na maioria das ações governistas. A pesquisa também mostrou que o desejo de mudança se distribui de modo difuso entre os principais pontos políticos. A saúde é um dos pontos que mais provoca este desejo de mudanças 79,9%; assim como a economia, onde a expectativa de 62,8% é com o aumento da inflação; e, por ultimo, 47,4% dos pesquisados pedem mudanças na educação. Ser um novo país é isto que querem todos os que se manifestam.
Da Argentina vem a inspiração que nos demonstra possível rejeitar a velha política sem sucumbir às oportunistas de plantão. Um novo projeto de nação, algo que estou chamando de “solução macriana”, só é realizável se ferirmos mortalmente a tirania política inscrita na mentalidade anticapitalista. Ou seja, para além do favorecimento de um arcabouço institucional para brecar ou contrabalançar os apelos demagógicos à exclusão e ao medo, comuns aos populismos, precisamos estabelecer políticas mais responsáveis e consistentes no longo prazo. Entre as medidas consenso internacionalmente estão:
- Fazer do setor privado o motor principal do seu crescimento econômico, abrir os sistemas bancário, de saúde, educação e de telecomunicações à propriedade e concorrência privada, reduzir as tarifas sobre produtos importados, privatizar indústrias e serviços de propriedade do Estado;
- Estabelecer mecanismo de responsabilidade e gestão, manter uma taxa de inflação baixa e preços estáveis, encolher o tamanho da administração pública, manter um orçamento equilibrado e, quando possível, com superávit nominal, aumentar sistemas de governança, accountability e transparência;
- Desnacionalizar e desburocratizar os processos economicos, remover as restrições ao investimento estrangeiro, livrar-se de cotas e monopólios domésticos, aumentar as exportações, desregulamentar os mercados de capitais, desregulamentar a economia para promover ao máximo a concorrência.
Em última analise, os brasileiros cansaram de ser enganados e querem ter de volta nas suas mãos o poder de escolher livremente.
A transição não será fácil, o próprio Macri tem enfrentado algumas resistências, especialmente, dos sindicalistas e setores do serviço publico que sofreram com o aparelhamento político. Entretanto, as manifestações já demonstraram que sua insatisfação e seu clamor por mudanças exigem atuações que transforme o Brasil de modo duradouro. O novo Brasil quer superar uma das maiores crises de nossa história recente de uma vez por todas, bem como, objetiva conter o apetite insaciável dos políticos que maquiavelicamente desejam ampliar sua ingerência sobre a vida dos indivíduos.
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