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Passei boa parte do dia ontem longe do computador, pois fiz uma palestra na FGV e o trânsito no Rio estava um caos por conta da ventania mais cedo. Deixei passar essa pérola, portanto. Felizmente, tenho leitores atentos que sabem que eu jamais perderia a oportunidade de reproduzir tal notícia:

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Valérie Trierweiler, a ex-companheira do presidente francês, François Hollande, vai lançar nesta quinta-feira um escandoloso livro de memórias. As 320 páginas descrevem, entre outras coisas, seu choque ao descobrir que estava sendo traída e até mesmo uma tentativa de suicídio. Mas um trecho eclipsou todos os outros: aquele em que ela afirma que o socialista não gosta dos pobres e se refere a eles como “desdentados”. 

“Ele apresenta-se como um homem que não gosta dos ricos. Mas na realidade o presidente não gosta dos pobres. Ele, homem de esquerda, fala em privado nos ‘desdentados’, muito convencido de seu senso de humor”, diz um trecho reproduzido pela imprensa francesa. Com a revelação, a explosiva Valérie expõe uma faceta meio ‘Justo Veríssimo’ de Hollande. E proporciona mais uma dor de cabeça para o governante francês mais impopular desde Luís XVI.

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Seria apenas vingança de mulher traída? Tudo é possível. Até agora é a palavra de um contra a do outro, nada mais. Mas considero absolutamente crível tal denúncia, conhecendo inúmeros socialistas ao longo da história. Não foi por acaso que escolhi a excelente frase de Nelson Rodrigues como epígrafe do meu livro sobre tal fenômeno: “É fácil amar a Humanidade; difícil é amar o próximo”.

Ou seja, os socialistas “amam” a Humanidade, uma abstração. Adoram o “povo”, outra abstração. Mas na hora de conviver com o próximo de carne e osso, com suas diferenças, na hora de realmente compartilhar o ambiente com os pobres, e não “o pobre”, aí complica. Afinal, esses socialistas que buscam o poder costumam viver num luxo de causar inveja ao mais rico dos magnatas capitalistas!

As comunidades carentes ganham certo charme quando vistas de longe, ou quando alguns representantes são levados a dedo para um programa como o “Esquenta”, de Regina Casé. Mas é bem raro um ícone do socialismo realmente gostar de passar tempo ao lado dos mais pobres. Muito mais comum será desfrutarem do conforto capitalista entre as elites enquanto falam dos pobres.

A pobreza, afinal, pode ser uma mina de ouro para alguns oportunistas. Nelson Rodrigues dizia que Dom Hélder Câmara tinha na miséria alheia seu ganha-pão, sua escada para a fama e o poder. Joãozinho Trinta resumiu bem: “O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”.

Hollande não é nenhuma novidade. Apenas mais um que se vende como representante dos pobres, mas que quer vê-los bem de longe, e mantê-los nessa situação, para se perpetuar no poder explorando tal pobreza. Como a presidente Dilma, que usou uma dessas “desdentadas” para fazer campanha eleitoral, arrumando uma dentadura para ela um dia antes de gravar as imagens. Um lindo “amor” pelos pobres…

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Rodrigo Constantino