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Por João César de Melo, publicado no Instituto Liberal

O colapso social e econômico da Venezuela evidencia não apenas o poder de destruição do intervencionismo estatal, mas também a forma como regimes socialistas medem o sucesso de seus projetos. Evidência que se torna absurda quando a comparamos com um dos principais fundamentos do capitalismo: A satisfação do cliente.

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Como forma de se detectar qual item poderia ser melhorado no cardápio, muitos donos de restaurantes checam o que seus fregueses deixam nos pratos ou simplesmente vão até eles perguntar se gostaram da comida. Para o dono de um restaurante, seu gosto particular, o conceito no preparo dos pratos e a historinha por trás de cada ingrediente são menos importantes do que a satisfação dos fregueses, pois é apenas isso que fará com que cada um deles recomende o restaurante aos amigos. É satisfazendo os outros que donos de restaurantes pagam aluguel, funcionários, fornecedores e impostos para só depois ver se obtém lucro. É assim que se alcança o sucesso no capitalismo. No socialismo, ao contrário, o sucesso independe da satisfação do freguês, do cliente ou do cidadão que é obrigado a pagar os impostos. Em tese e em prática, o socialismo tenta impor a satisfação das pessoas; e a insatisfação delas é vista como manifestação burguesa e reacionária.

Lenin, em 1920, publicou um livro chamado Esquerdismo, A Doença Infantil do Comunismo, no qual dedica-se a enaltecer a revolução que liderou baseando-se apenas na superação dos inimigos, sem fazer qualquer menção à melhoria de vida da população. Se tivesse mencionado alguma, teria mentido, pois a revolução de 1917 apenas substituiu a corrupção, a exploração e a violência czarista pela corrupção, pela exploração e pela violência comunista, imensuravelmente superiores.

Lenin não fez menção ao seu povo simplesmente porque não o enxergava como seres humanos com necessidades humanas, mas sim como milhões de peões num tabuleiro de xadrez ideológico. À Lenin, só importava a vitória sobre osoportunistas, como chamava os socialistas menos à esquerda – mencheviques, kautskistas, sociais-democratas, sociais-chauvinistas etc. A Lenin, assim como para os demais líderes comunistas que surgiram ao longo do último século, o que importava era o prazer de enxergar suas ideias sendo impostas a todos, como se elas oferecessem, em si mesmas, benefícios à população.

O comunismo sustentou-se por décadas patrocinando incontáveis eventos e publicações que difundiam seu sucesso medido a partir da satisfação de seus líderes, enquanto dezenas de milhões de cidadãos comuns morriam de fome, de doenças, de frio ou assassinados pelas forças de preservação de suas ideias.

As levas de imigrantes que chegam à Europa todos os dias deveriam fazer o mundo se lembrar que, em pleno século XXI, existem dois países, Cuba e Coreia do Norte, que proíbem seus cidadãos de buscarem uma vida melhor noutros lugares; e tão vergonhoso quanto é sabermos que muitos líderes e militantes socialistas do Brasil insistem em dizer que apesar das restrições de liberdade em Cuba, são boas as ideias que sustentam o regime – a liberdade, sob a ótica socialista, é um princípio negociável.

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Um pouco mais ao sul, o povo venezuelano a cada dia é mais privado de comida, de liberdade, de paz e de futuro enquanto o governo bolivariano continua vangloriando-se que seu projeto é maravilhoso, que tirou milhões de pessoas da pobreza e que devolveu ao povo as riquezas do país − a vitória do socialismo sobre o capitalismo. O que acontece nas ruas, nas casas e nas vidas das pessoas não interessa à Nicolas Maduro nem a qualquer outro líder socialista. O que importa é o projeto, são as ideias sendo colocadas em prática e a vitória sobre o inimigo, custe o custar.

Não por coincidência, o Partido dos Trabalhadores também se sustenta no poder exaltando as ideias, não o resultado da aplicação dessas ideias. Exaltam os montantes de recursos destinados aos programas sociais e o número de beneficiados de cada um deles a despeito da realidade de que a educação, a saúde, a segurança e o transporte público continuam péssimos. Segundo Dilma Youssef, as “dificuldades” atuais são apenas transtornos da vida assim como um dia de chuva, logo tudo será resolvido por meio da insistência em ideias que nunca dão certo.

No livro citado, Lenin deixa claro que um governo comunista deve ter capitalistas e esquerdistas − socialistas menos radicais – como inimigos iguais, portanto, devem ser combatidos de maneira igual, o que expõem seu nível de psicopatia política e também a razão do PT empenhar tantos esforços para destruir o PSDB até quando ele não está no poder.

Saber como Lenin pensava e agia continuará sendo importante enquanto nossademocracia abrigar partidos que o tem como uma das principais referências de tomada e de preservação do poder − instrumento de combate, como já disse Florestan Fernandes. Comparando as clássicas publicações comunistas com os atuais programas, artigos e declarações de partidos socialistas como PT, PSOL, PCdoB, PCO e PSTU, vemos a mesma linguagem, o uso das mesmas retóricas, a identificação dos mesmos vilões e dos mesmos métodos de manipulação social e cultural em favor pura e simplesmente da exaltação do espírito revolucionário daqueles que nunca ofereceram nada ao mundo além de discursos empolgantes, colapsos econômicos e escravidão. O socialismo ainda se baliza pelas ideias daqueles que só se mantiveram no poder por meio do terror.

Um século depois de Lenin, ainda temos que nos preocupar com um movimento que se resume a conquistar o poder absoluto para sustentar ideias absolutas.

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