Um leitor me manda algo espantoso. Um artigo publicado no dia 4 de junho em uma das melhores revistas da área médica, a New England Journal of Medicine (NEJM), saudando o SUS, nosso sistema universal de saúde, como um grande exemplo a ser seguido pelo mundo. Devem estar falando de outro país, só pode! Eis um trecho inicial para o leitor acreditar em mim (sei que é difícil nesse caso):
Não sofro de complexo de vira-lata (Nelson Rodrigues), não acho que tudo no Brasil não presta, e acho que temos algumas coisas boas para oferecer ao mundo. Mas sem dúvida não colocaria nessa lista nosso sistema público de saúde! Isso é uma piada de mau gosto, um acinte, uma palhaçada que ofende todos os usuários do sistema. Não importa o título de Ph.D. do autor ou os dados que ele usou: isso será automaticamente visto como ridículo por todo brasileiro que conhece de perto o SUS.
Aliás, foi Mark Twain quem alertou que existem três tipos de mentiras: as mentiras, as malditas mentiras e as estatísticas. Quando manipuladas, usadas pela metade, marretadas para confessar o que o autor deseja, elas se tornam a pior forma de mentira, pois contam com o respaldo de meias verdades ou da aparência de seriedade. Tem gente que repete até que Cuba tem boa educação e saúde com base nas estatísticas oficiais!
No meio do artigo, com destaque em azul, há uma reportagem sobre alguém com infarto do miocárdio que teria sido imediatamente atendido graças à eficiência do sistema de saúde brasileiro:
Que história comovente. E quantos morrem na fila do SUS? Quantos só conseguem atendimento para meses, anos à frente? Já levei minha ex-empregada num hospital público de madrugada, e ela precisou esperar duas horas só para ser atendida, tremendo e se sentindo muito mal. O atendimento foi de péssima qualidade, e ela só conseguiu executar uma cirurgia necessária com vários meses de atraso, mesmo assim por pressão de minha esposa, que chegou a mencionar que seu marido (eu) tinha espaço na imprensa e levaria o caso a público.
Quando alguém elogia nosso SUS e o coloca como modelo para o resto do mundo, portanto, está dando um soco no estômago de todo brasileiro, principalmente dos mais pobres. É um escárnio sem tamanho. Ironicamente, uma foto da primeira página do GLOBO de hoje mostra que um dos principais hospitais de referência do SUS para Cardiologia no Rio de Janeiro, o IECAC, Instituto Estadual de Cardiologia Aloisio de Castro, precisou que pacientes fizessem a faxina! E, de quebra, cita pacientes aguardando por até um ano para ponte de safena para tratamento de doença coronariana:
A notícia foi destaque no Bom Dia Brasil também. Ela choca, claro, mas não é tão surpreendente assim para o brasileiro que precisa usar o SUS em seu cotidiano. Essa é a triste realidade. E está longe de ser uma realidade apenas carioca. Dias atrás, o governador do Ceará confessou que não sabe o que fazer com o desastre do sistema de saúde em seu estado. É algo que se espalha pelo Brasil todo, impondo pesado fardo aos cidadãos, apesar de impostos absurdos que todos pagamos.
Lígia Bahia, que é citada na primeira referência do texto da revista e é epidemiologista da UFRJ, escreve colunas regulares no GLOBO, sempre clamando por mais verbas públicas para o SUS e atacando a iniciativa privada, os planos de saúde, etc. Curiosamente, ela quase nunca ataca a péssima gestão do sistema público, a corrupção escancarada, o descaso, nada disso. Só quer mais verbas estatais, ou seja, mais imposto tirado a fórceps do “contribuinte” para bancar essa “maravilha”. E ainda querem exportar esse modelo para o resto do mundo!
A todos que acreditam nas falácias inventadas pela esquerda, que parece só viver de propaganda enganosa, recomendo o livro Sob pressão, do médico carioca Márcio Maranhão, que relata sua experiência de dentro do sistema. Escrevi uma resenha aqui, e é de embrulhar o estômago conhecer mais a fundo a realidade do SUS. Que os brasileiros pobres precisem enfrentar esse calvário diariamente já é muita sacanagem; agora, que ainda vendam lá fora esse inferno como quase um paraíso a servir de norte para países desenvolvidos, isso não é nem passível de descrever, pois não consigo encontrar adjetivos no dicionário suficientes – ao menos não algum publicável.
Eu só queria que esses autores dependessem do SUS para seus tratamentos, assim como os políticos de esquerda, como os petistas, que adoram o Sírio Libanês. Era o castigo merecido para tanta mentira e canalhice…
Rodrigo Constantino
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