O que mais me impressiona não é a quantidade de besteira ensinada aos alunos de economia no Brasil, mas a insistência nas mesmas besteiras de décadas atrás, como se não tivessem sido todas devidamente refutadas pela teoria ou prática. Se ao menos inventassem novas besteiras… poderíamos dar o crédito pela criatividade. Mas nem isso!
Em artigo publicado hoje no GLOBO, o empresário Odemiro Fonseca elenca algunas dessas baboseiras ideológicas repetidas há décadas em nossas salas de aula, doutrinando alunos em vez de mostrar-lhes o que há de mais avançado em teoria econômica. É um espanto! Especialmente para um país como o nosso, que é vítima desses equívocos ideológicos há muito tempo, mas não aprende com a própria desgraça. Diz ele:
Governos e seus apaniguados usam ciência econômica como bêbados usam postes. Não em busca de luz, mas para, quando grogues, apoiarem-se. Ainda temos escolas ensinando “teoria da exploração” marxista; temos o domínio do “desenvolvimentismo” que acredita numa teoria de exploração entre países e justifica pesado protecionismo. Acham que o governo deve ser o empresário principal, a locomotiva do país. Falam em “dinheiro público” como se isso existisse. Defendem ser o subsolo, solo, mercado interno e algumas estatais “patrimônios nacionais”, argumentos deliciosos para piratas, quadrilhas e a economia de compadrio. São ideologicamente orientados e a realidade deles debocha; depois temos os keynesianos ortodoxos, também ferozes nacionalistas; e finalmente keynesianos sintetizadores, vindos das universidades americanas. Acham que o mercado funciona a longo prazo, mas a curto prazo precisa de uma mãozinha. O longo prazo nunca chega. Justificam o intervencionismo argumentando que o mercado neoclássico não é perfeito, tende a crises e ao monopólio. Combatem soldados de palha.
Desconheço um só economista que fale que o mercado é perfeito. Nada pode ser perfeito quando se trata de seres humanos imperfeitos. Mas essa é, pasmem!, a mesma desculpa esfarrapada há décadas que nossos “economistas” usam para justificar mais e mais intervencionismo, agravando ainda mais as imperfeições dos mercados.
Marxismo, desenvolvimentismo, nacionalismo, a teoria da indústria infante, a visão de que o estado empresário é a locomotiva do progresso, todas essas são falácias absurdas que ninguém sério leva mais a sério. Por aqui, é o “mainstream” do ensino de economia. E não falo apenas da Unicamp…
O que todas essas escolas ignoram é que não devemos focar apenas nas falhas de mercado, mas também nas falhas de governo. E essas, curiosamente, são sempre ignoradas por nossos “sábios” professores, que defendem mais intervenção estatal como quem clama por mais uma dose de cachaça logo pela manhã, com mãos trêmulas. Diz Odemiro:
Nossa academia escandalosamente ignora as hipóteses dos que apontam para as gigantescas imperfeições dos governos. Além disso, desconfia de empresários, pois crê que não corram riscos e busquem sempre monopólios e boquinhas. Se empresas não corressem riscos, ser empresário seria um enorme privilégio. E competição não é algo linear nem contínuo como os neoclássicos achavam e empresários inovam para ter temporários monopólios, que só podem se tornar longos ou permanentes com a proteção do governo. Demsetz explica este fenômeno da competição.
A pretensão de políticos e economistas em achar que podem organizar o complexo mundo econômico exige crença em milagres ou enorme cara de pau. Talvez seja porque a ciência econômica desmoraliza aqueles no poder. Em 1975 (“O cidadão e o Estado”), Stigler observou que “o processo de mercado possui defeitos que devem ser melhorados, geralmente com mais liberdade e mais competição. As outras opções são mais governo e mais orações”. Orações pedindo milagres.
A época é adequada para orações. Afinal, é dia de Natal. Mas já deveríamos ter aprendido, com o tempo e o imenso acúmulo de erros, que só rezar não vai resolver nada. A economia está em crise, o varejo teve o pior ano desde 2004, a inflação ultrapassou o teto da elevada meta, e tudo isso foi produzido em casa mesmo, não tem ligação alguma com crise externa.
E vocês acreditam que ainda há um monte de economistas condenando o livre mercado e apostando no receituário intervencionista?! Nem mesmo um milagre nos salva desse jeito…
Rodrigo Constantino
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