Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Em um grupo de Whatsapp do qual faz parte minha esposa, composto por amigos oriundos da faculdade, tão logo Trump foi declarado o novo presidente dos Estados Unidos, foi reproduzido, no micro, o fenômeno que ocorreu no macro nestas eleições americanas – e deixou os institutos de pesquisa daquele país com cara de quem não sabe de onde veio a bordoada: três pessoas, de um total de doze, acharam positiva para os americanos (e para o resto do mundo) a derrota de Hillary, mas (e aí mora o detalhe) só tiveram coragem de manifestar tal opinião no modo privado do aplicativo de mensagens; diante dos demais membros do grupo, ficaram receosos de admitir tal posicionamento, visto que a turma que atacava Trump era muito barulhenta e costumava rotular de “Bolsominion Yankee” quem criticasse Hillary.
Vale dizer: a patrulha politicamente correta obrigou, lá como cá, parcela considerável dos apoiadores republicanos a guardarem sua deliberação em segredo até o dia do sufrágio. Votar em Trump, seja pelo motivo que fosse, não constava da cartilha autoritária do “bonde dos oprimidos”, e não poderia, pois, ser considerada uma ação válida, ainda que fosse empreendida por indivíduos munidos de argumentos bem fundamentados.
Muitos adeptos do “make America great again”, desta forma, preferiram não informar aos pesquisadores sua real intenção de voto, nem mesmo por telefone, tal a sensação de condenação moral que foi gerada por estes atormentadores profissionais. Deixaram para desabafar o que havia em suas mentes apenas diante da privacidade oferecida pela urna, tal qual uma pessoa religiosa procede diante do confessionário. Convencer os republicanos que era pecado votar em Trump deu nisso: surprise! E amém.
E a mesma lógica, em menor ou maior grau, aplica-se, sem dúvida, à aprovação do referendo para o Brexit e a reprovação popular ao “acordo de paz” com as FARC na Colômbia. Cria-se uma atmosfera em que somente uma visão é tida como apropriada e concebível, e as demais são reacionárias e fascistas, jogando, destarte, seus partidários para a penumbra, até que a cédula eleitoral jogue luz sobre a vontade destes indivíduos – e cause ataque de nervos nos jornalistas da mídia mainstream.
A discussão de diversos temas relevantes é permeada por esta mesma censura “progressista”, a tal ponto que, em certos casos, até mesmo propor um debate real sobre o tema é proibido. Hordas de muçulmanos sem documentos chegam incessantemente do Oriente Médio para a Europa? A única solução é escancarar as fronteiras do continente; sugerir quaisquer alternativas, como fortalecer o combate àqueles que estão obrigando estas pessoas a fugirem de seus de seus lares, soa ilegítimo para os verdadeiros detentores do monopólio das virtudes.
Como consequência natural, quando o “ultraconservador” Geert Wilders eleger-se primeiro-ministro na Holanda ou a “extrema-direita” Marine Le Pen sagrar-se presidente na França, toneladas de Rivotril serão consumidas por aqueles pegos de surpresa com tais acontecimentos – no caso, os mesmos que decidiram que ninguém poderia opinar em favor de tais fatos sem serem tachados de extremistas.
Esta é a diversidade defendida pelos “progressistas”: não podemos ter preconceito com visões de mundo diversas, a não ser que estejamos falando de liberais e conservadores. Neste caso, o preconceito contra o preconceito da esquerda é que será condenado veementemente. E assim eles seguem suas vidas enclausuradas dentro de suas bolhas ideológicas, e aqueles que tentarem furá-las podem virar alvo de excrementos humanos – triste e bizarra realidade. Esse pessoal sente ojeriza pelo povão e abomina as trevas do conhecimento onde ele vive, motivo pelo qual considera que pode ler meia dúzia de capítulos de Foucault e, caridosamente, determinar seu destino.
Quem sabe, quando houverem assimilado o golpe, eles entendam que o que o cidadão deseja é que o Estado seja bem gerido, para que sua vidas melhorem. Não à toa, João Dória, mesmo sem experiência alguma em administração pública, foi aclamado pelo eleitorado de São Paulo, em virtude de seu sucesso como gestor – e o mesmo raciocínio aplica-se a Trump. O que o candidato falou no vestiário não vai influenciar em seu desempenho no gabinete presidencial, e não vai provocar alta da inflação nem tampouco queda na PIB.
O João do caminhão não está interessado nos devaneios intelectuais forjados por acadêmicos iluminados pelo conforto do ar condicionado ligado no máximo, mas quer muito saber se haverá emprego, segurança e se ele vai ter dinheiro para o pagode no finde. E se ele não puder expressar seu pensamento livremente sem ser estigmatizado por predicados inomináveis, não há problema: ele vai ficar em silêncio. Mas não por muito tempo. Cedo ou tarde ele terá a chance de contar com o anonimato para materializar sua escolha sem correr risco de ouvir “você é um fundamentalista de direita”.
E lá está ele: o magnata nova-iorquino rumo ao cargo mais poderoso do planeta, muito graças a eleitores ao estilo mineiro, “come quieto”, que não precisam de alvoroço nem fazem questão de vencer discussões. Para estes, é suficiente ver a cara de choro e desalento daqueles mesmos déspotas supostamente esclarecidos e arrogantes, tão certos de suas premissas e tão confiantes na vitória. Aliás, salvo engano, uma das acusações contra o presidente Donald era justamente o ego inflado. Estranho, pois simplesmente desconsiderar a hipóteses de que dezenas de milhões de pessoas possam estar certas, em detrimento da própria convicção tacanha, é que me parece soar bastante presunçoso.
Isso, aliás, lembra o Keynesianismo: o ciclo de gastos da economia esgotou-se e atingimos a estagflação? Taca mais gasto público e endividamento neste caldo, seu ministro da fazenda. No mesmo sentido, os jornalistas atordoados neste 9/11, em vez de procurarem rever seus conceitos, chegam à brilhante conclusão de que “há, de fato, muitos misóginos e racistas neste mundo, e a solução é…mais progressismo, claro!”.
Está caindo de maduro algum investidor desafiar a hegemonia da TV Globo na cobertura política do Brasil. Levando em conta a excepcional audiência obtida por veículos independentes na internet (podcasts, canais no Youtube, e por aí vai), seria quase como bater em bêbado levar esse pessoal para a televisão para concorrer com os Marinho. Resta saber se o governo federal concederia licença para uma TV “reaça” (ou mesmo para uma rádio como a de Dennis Prager). Talvez prefiram eles continuar tomando “sustos” pelos pleitos eleitorais da vida. 2018 vem aí, e quer queiram ou não aqueles que pensam deter a hegemonia do pensamento nacional, resultados inesperados podem estar sendo concebidos desde já. Assim espero!
Sobre o autor: Atua como Auditor-Fiscal do Trabalho, e no exercício da profissão constatou que, ao contrário do que poderia imaginar o senso comum, os verdadeiros exploradores da população humilde NÃO são os empreendedores. Formado na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) como Profissional do Tráfego Aéreo e Bacharel em Letras Português/Inglês pela UFPR. Também publica artigos em seu site: https://bordinburke.wordpress.com/
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