Qualquer brasileiro esclarecido tem hoje uma prioridade na política: tirar o PT do poder. Ninguém aguenta mais tanta incompetência e autoritarismo, o aparelhamento da máquina estatal, as alianças nefastas com regimes ditatoriais, o desmonte do Mercosul, a corrupção, a recessão, a inflação…
Diante dessa fadiga, não são poucos os que olham para Marina Silva com viés pragmático e instrumento único para derrotar o PT. Não são os que se encantam com ela, com seu discurso, com sua trajetória ou com seu ambientalismo, e sim aqueles que adotam a postura do voto útil contra o PT, e entendem que ela tem mais chance do que Aécio de derrotar Dilma no segundo turno.
Em sua coluna de hoje no GLOBO, Paulo Guedes aborda o assunto, e diz que Marina poderia até mesmo vencer o primeiro turno, o que acho pouco provável. Para o economista, Aécio Neves é preparado e experiente, mas pode ser vítima do “voto útil”, pois “não se credenciou até agora como um veículo crível para a indignação do eleitor com a política convencional”. Ele conclui:
Com o desejo de mudanças impulsionando Marina, o voto útil debilitando Aécio, e a degeneração econômica derrubando Dilma, podemos estar caminhando para o fim da “velha política”, que conhecemos todos muito bem, mesmo sem saber exatamente o que será a nova.
Após reconhecer o grande “capital institucional” que é Armínio Fraga, Guedes elogia os economistas de boa estirpe ao lado de Marina, e diz que a própria candidata já vem sinalizando ter absorvido as principais propostas do tucano na área econômica. Ou seja, por essa ótica, um governo Marina não seria tão distante assim de um governo Aécio no que diz respeito ao lado econômico.
Pode até ser, apesar de um governo Marina ser ainda uma grande incógnita. Mas para tanto, parece-me fundamental que Aécio Neves, caso derrotado, tenha uma expressiva votação no primeiro turno, justamente para ter um capital político de peso no segundo turno e no eventual governo de Marina. Foi o ponto levantado por Merval Pereira em sua coluna deste domingo:
O candidato do PSDB, Aécio Neves, atualmente com 15% das intenções de voto pelo Datafolha, tem uma estrutura partidária maior e apoios regionais que poderiam até mesmo levá-lo à vitória em situação normal e condições ainda de chegar a um segundo turno caso Marina, por alguma razão, tenha sua candidatura abalada nesses últimos 30 dias de campanha.
O mais provável, porém, é que o PSDB se coloque como um importante partícipe desse novo jogo num segundo turno entre a presidente Dilma e Marina, mas para tanto a votação em Aécio Neves não pode desidratar a ponto de permitir uma vitória de Marina no primeiro turno.
O voto útil em Marina, para garanti-la no segundo turno ou forçar uma derrota do PT já no primeiro, pode ser um tiro no pé nos eleitores que temem Marina presidente mas não querem Dilma reeleita. Nesse caso, fortalecer a votação do terceiro colocado é impor uma negociação política que demarcará um provável governo Marina.
Ou seja, mesmo aqueles mais esclarecidos que colocam como única meta expulsar o PT do poder, engolindo sem auxílio medicinal a candidatura de Marina Silva para derrotar Dilma no segundo turno, precisam levar em conta que o voto útil pode ser dividido em turnos também.
Marina pode ter probabilidade maior de vencer Dilma no embate direto, como mostram as pesquisas, pois os votos de Aécio migram para ela, mas o contrário não necessariamente é verdadeiro. Só que para seu governo ter um viés mais de centro e menos de esquerda, para não ser apenas a troca de seis por meia-dúzia, faz-se necessário aumentar a musculatura do tucano no primeiro turno, o que tornaria maior a probabilidade de um acordo oficial entre Marina e PSDB para seu governo.
Uma Marina Silva absoluta, vencendo com ampla vantagem do tucano ou mesmo no primeiro turno, poderia dispensar qualquer acordo com o PSDB depois e seria um grande perigo, não só de governabilidade como de viés ideológico.
Rodrigo Constantino
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