O caso de amor da imprensa por Obama é conhecido e tema de bons livros. Mesmo agora, depois de sua passagem pela Casa Branca e tendo deixado um legado, na melhor das hipóteses, questionável, muitos jornalistas ainda fazem de tudo para poupar o “primeiro presidente negro” americano, aquele que sempre colocou a retórica acima dos fatos.
O GLOBO fez uma reportagem sobre uma nova biografia do ex-presidente, que traz revelações de Sheila Miyoshi Jager, hoje professora da Oberlin College. A antropóloga teve um “prolongado e dolorido” relacionamento com Obama, que teria inclusive a pedido em casamento antes de Michelle.
O jornal carioca, como vemos acima, preferiu dar destaque a esse fato desimportante na manchete, deixando de lado revelações bem mais relevantes feitas pela ex-namorada:
Numa entrevista para o livro, Sheila, que é antropóloga e acadêmica especializada na Península Coreana, afirmou que Obama tinha uma “profunda necessidade de ser amado e admirado”.
No início de 1987, quando Obama tinha 25 anos, ela sentiu que ele parecia ter ficado muito ambicioso, vislumbrando se tornar presidente. As discussões sobre um eventual casamento acabaram dando a lugar a questões raciais, segundo o autor. Garrow afirma que Obama começou a se identificar cada vez mais com as causas negras, deixando de lado a abordagem multicultural que ele carregava em seus relacionamentos, estudos e na vida pessoal (a mãe dele era branca).
“A resolução de sua identidade negra estava diretamente ligada a sua decisão de buscar uma carreira política”, afirmou Sheila, enxergando que a situação do casal acabou se tornando “uma tormenta”, com brigas presenciadas por amigos.
Outros pontos pessoais incluem o fato de que Obama teria consumido mais cocaína após os anos de faculdade — o ex-presidente admitiu o consumo avulso da droga quando era jovem. Ainda segundo Garrow, Obama usou a religião com fins políticos, supostamente andando com uma Bíblia em ocasiões públicas para angariar mais apoiadores.
Ou seja, o que emerge desses relatos é um jovem com ambição desmedida pelo poder, que tinha necessidade de se sentir querido por todos (vaidade das vaidades, que leva à demagogia num político), que usava a própria raça e a religião para fins políticos de forma oportunista, e que cheirava cocaína.
Só faltou dizer que Obama andava basicamente com socialistas nessa época, e que admirava justamente os professores mais radicais de esquerda.
Mas para o leitor do jornal, o mais relevante talvez seja que outra mulher além de Michelle recebeu um pedido de casamento antes…
Em tempo: por que uma investigação mais a fundo de quem era Obama não foi feita antes de ele se tornar presidente da nação mais poderosa do planeta? Talvez porque a mídia estivesse encantada com a narrativa, não com a realidade, como nós brasileiros sabemos bem que pode acontecer, não é mesmo? O “negro legal que queria apenas lutar por justiça social” era tão irresistível quanto o “metalúrgico pobre que queria apenas lutar por justiça social”. Quem vive no mundo da estética sempre vai ignorar fatos para preservar a ideologia.
Rodrigo Constantino
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