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Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

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A cada dia, mais pessoas comuns se dão conta de que o socialismo é um conjunto de péssimas ideias que geram terríveis resultados. Sempre. O que ainda falta para muitos é a compreensão teórica que fundamente uma contra argumentação mais clara e objetiva. Geanluca Lorenzon nos oferece isso em seu livro Ciclos Fatais – Socialismo e Direitos Humanos.

A defesa dos “direitos humanos” é a principal pauta da esquerda nos palanques e nas ruas. Partidos, movimentos “sociais”, sindicatos, ONGs disso e daquilo, artistas, imprensa, estudantes e professores das ciências humanas, todos defendem que as pessoas devem usufruir de educação, segurança, moradia, alimentação, saúde, lazer e até liberdade. Repetem isso todos os dias das mais variadas formas. E quem garantiria isso às pessoas? O estado. Como? Por meio de programas econômicos que sustentariam políticas sociais que, por fim, promoveriam a “justiça social”, ou seja, a distribuição do dinheiro dos mais ricos entre os mais pobres.

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Mas, então, como uma ideia tão bonita pode ter fundamentado as maiores desgraças da humanidade?

Para explicar isso, Lorenzon primeiro disseca o conceito de “direitos humanos”, distinguindo-os entre direitos individuais e direitos sociais. Sob a ótica liberal, ele toma como partido o pensamento de John Locke que, já em 1690, explica que todos os direitos garantidos ao indivíduo devem ser ancorados no respeito à vida, à liberdade e à propriedade − seu corpo e sua mente, e tudo o que se produz com eles. Lorenzon escreve:

Ao respeitar a vida, a liberdade e a propriedade, a perspectiva está em si permitindo ao próprio indivíduo que o mesmo assuma a valoração do que acredita ser relevante para si (…).

Foi este conceito que fundamentou a Constituição Americana, destinada a proteger os indivíduos contra o estado, garantindo a liberdade de religião, de expressão, de imprensa e o de livre associação. Garantias que o típico militante de esquerda atual defende, a despeito da história do próprio socialismo, que sempre caminhou no sentido oposto, como Lorenzon explica.

O próprio conceito de igualdade apresentado por Rousseau ignora os direitos naturais do homem descritos por Locke; e Marx, catalisando as ideias do filosofo francês, qualifica esses direitos como uma visão burguesa e egoísta.

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Segundo Marx, o indivíduo tem direito à comida e moradia, não à liberdade e à propriedade. Esta ideia, tragicamente difundida no ocidente, pode ser resumida no axioma de que o coletivismo é o exercício dos direitos sociais em detrimento dos direitos individuais, já que o indivíduo deixa de ser proprietário de si mesmo, tornando-se propriedade dos “interesses sociais”.

Marx enxergava que os direitos naturais descritos por Locke eram, na verdade, fruto de construções políticas e culturais que precisam ser combatidas, dando, assim, origem à expressão “conquistar direitos” tão comumente utilizada por partidos, sindicatos e movimentos de esquerda – e também pelo cidadão comum e ingênuo −, que nada mais é do que a implementação de um programa onde apenas a classe social criada e identificada como oprimida têm direitos.

Noutras palavras, a classe social outrora oprimida deve usufruir de direito a alimentação, moradia, saúde e segurança, mas o indivíduo não tem o direito de escolher o que comer, onde morar, como se tratar em caso de doença e de defender sua própria vida de agressores.

A ideia defendida por Marx provoca a pergunta fundamental: Como será garantido à todas as pessoas os direitos conferidos a elas enquanto classe social?

Os regimes mais próximos do ideal socialista vêm respondendo essa pergunta desde o começo do século XX; e em que cada um deles expuseram o que Geanluca Lorenzon descreve como processo trifásico de destruição humanitária.

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A primeira fase − a Crise Socioeconômica − desse processo inicia-se com a intervenção do estado na economia, que nada mais é do que a presunção de um pequeno grupo de pessoas de enxergar e compreender todas as relações econômicas e ditar um conjunto de regras gerais que organizaria todo o mercado da forma que eles sonham.

Essa fase interrompe a transmissão de informação que dá preços a todos os produtos e serviços, ou seja, ignora o cálculo econômico feito por incontáveis pessoas e empresas cotidianamente – algo impossível de ser realizado pelo conjunto mais inteligente de economistas que possamos imaginar.

Quanto mais essa presunção é exercida, mais trágico é o resultado, com a escassez de produtos e serviços básicos e o surgimento de mercado negro para tudo o que as pessoas não conseguem mais acesso.

A segunda fase – Crise Totalitária − começa com a tentativa de recuperar a oferta de produtos e acabar com o mercado negro, com o estado intervindo diretamente em empresas e tratando como criminosas as pessoas que tentam viabilizar informalmente o fornecimento de produtos a outras pessoas. Para tanto – e sob a justificativa de zelar pelos “interesses sociais” – muda-se a constituição no sentido de eliminar os direitos individuais, concentrando ainda mais poder no estado, que passa a identificar e caçar os “sabotadores” − como vem acontecendo na Venezuela.

Nesta fase, já não há mais distinção entre poderes. O legislativo e o judiciário tornam-se braços do executivo.

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Como a história conta, esse recurso leva à terceira fase descrita por Lorenzon: A crise Anti-Humanitária.

Nela, os indivíduos tornam-se oficialmente propriedade do estado, ou simplesmente escravos. Ninguém tem mais o direito de trabalhar para si mesmo, de buscar sua própria felicidade. Tem, apenas, o dever de trabalhar para a nação. Baseado nisso, campos de trabalhos forçados foram criados em todos os regimes socialistas. Baseado nisso, as ditaduras em Cuba e na Coreia do Norte proíbem seus cidadãos de sair desses países.

Como prova de que, por mais absurdo que seja tal ideia ainda vem à tona nos dias de hoje, há pouco mais de um ano, Nicolás Maduro decretou que qualquer venezuelano pode ser convocado a trabalhar no campo ou nas fábricas caso seja uma necessidade do país.

O resultado desse processo trifásico de destruição humanitária pode ser resumido no número de mortes provocadas pela tirania e descoordenação econômica dos regimes socialistas. Incontáveis atos de perseguição, prisão, tortura e assassinato contra pessoas comuns somados à fome levaram à morte mais de 100 milhões de pessoas na URSS, na Alemanha, na Ásia e África. Cuba não desabou na total desgraça humanitária porque conta, desde o começo do golpe (chamado de “revolução” pela esquerda) socialista em 1959, com a ajuda financeira da Europa.

Portanto, o socialismo é o maior vetor de destruição dos “direitos humanos”, já que, para ser implantado, ele precisa necessariamente que coibir as liberdades que o militante de esquerda atual defende nas conversas de bar, nas ruas e nas redes sociais.

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Considerando que poucas semanas atrás houve uma onda de publicações sobre o centenário da “revolução russa” – muitas, ainda tentando encontrar virtudes nela − torna-se ainda mais pertinente as citações que Geanluca Lorenzon faz à algumas violações aos direitos humanos cometidos pelo regime que, a despeito das atrocidades, ainda inspira grande parte do movimento socialista, principalmente na América Latina.

Apenas no primeiro ano da “revolução”…

Lenin extingui a propriedade privada; extingue o Partido Democrático-Constitucional, acusando-o de ser um “inimigo do povo” por apoiar ideias como democracia e atividade sindical; proíbe a existência de igrejas e abole o casamento; enquadra empresários, padres e antigos membros da realeza russa numa recém-criada classe social (que no total, englobava 5 milhões de pessoas) que, a partir de então, não gozaria de quaisquer direitos; extingue o poder judiciário existente e cria a KGB e os tribunais populares a fim de identificar e perseguir pessoas contrárias à “revolução”, dando início ao Terror Vermelho, série de prisões e assassinatos.

Mais:

Em 1923, o regime socialista soviético confisca a produção agrícola da Ucrânia, resultando na morte por inanição de cerca de 8 milhões de pessoas.

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Em 1933, o direito de ir e vir é definitivamente extinto, com todo cidadão precisando de autorização do governo até para visitar a cidade vizinha a sua.

Em 1950, são iniciados assassinatos em massa nos campos de trabalho forçado, onde centenas de milhares já haviam morrido de fome, frio ou exaustão.

Em 1953, a população nos campos de trabalhos forçados já era próxima a 3 milhões de pessoas.

Essas e muitas outras atrocidades foram reproduzidas na China, em Cuba e na Coreia do Norte.

No Camboja, o socialismo exterminou 26% da população em 8 meses.

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Aos que ainda insistem em dissociar o nazismo do socialismo, Lorenzon explica as semelhanças do programa econômico de Hitler com o que foi implantado gradualmente na Venezuela por Hugo Chávez e Nicolás Maduro; e ainda outras correlações, tais como o uso de publicações doutrinárias nazistas pelos comunistas na União Soviética e na China.

Uma provocação: A esquerda tenta conter o “avanço da direita” relacionando-a à violação dos direitos humanos, apresentando como exemplos a ditadura militar ocorrida no Brasil. Diante disso, como devemos interpretar as constantes e positivas referências que a esquerda brasileira faz às revoluções russa e cubana?

O próprio Geanluca Lorenzon lança sua própria provocação: Por qual razão o socialismo continua sendo desejado e tentado?

Respondo: O socialismo é o fruto amargo do capitalismo. O nível de liberdade e conforto que as sociedades alcançaram por causa da intensificação do comércio criou massas de indivíduos desconexos com os sistemas produtivos que lhes sustentam. O estilo de vida que desfrutam lhes dá condição de se dedicar a projetar a vida dos outros, como os outros deveriam pensar, agir e viver.

Como sabemos que para cada demanda há alguém disposto a satisfazê-la, sempre teremos um punhado de pessoas e partidos políticos se apresentando como os intermediários entre o sonho socialista e a realização desse sonho.

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