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Os empresários estão questionando a proteção do governo: e essa é uma excelente notícia

Por Diego Reis, publicado pelo Instituto Liberal

Em uma tarde quente no centro da cidade um senhor idoso vestindo camiseta vermelha falava praticamente sem plateia em um microfone: “uma onda neoliberal está crescendo no mundo e pode acabar com os direitos dos trabalhadores“.

Essa imagem absolutamente verídica ilustra com precisão o atual estado de espírito da maioria dos socialistas pelo mundo. Se o referido idoso ao microfone tivesse entrado em coma em 2010 – período em que a esquerda estava supostamente no auge – e acordasse hoje, certamente não entenderia o fracasso de um modelo disposto a acabar com a pobreza e os privilégios dos “poderosos”. O mais lamentável é que mesmo conhecendo as razões que determinaram o colapso do modelo desenvolvimentista/populista/clientelista dos governos de esquerda, seus adeptos insistem em culpar o cenário internacional, os “neoliberais”, o “golpe” e tantas outras desculpas que não convencem ninguém.

Se para a esquerda a preocupação atual está em conter o avanço das ideias de liberdade, para os liberais o objetivo deve ser o de encontrar formas de evitar que passemos novamente por essa experiência lamentável de corrupção endêmica, recessão e desemprego.  Um dos grandes desafios será o de convencer os jovens iludidos com as promessas fantasiosas da esquerda, de que essas ideias são profundamente prejudiciais ao desenvolvimento e liberdade individual. Durante o debate sobre o documentário Pobreza, S. A realizado no IBMEC-RJ, um sujeito na plateia perguntou a Kris Mauren, Diretor Executivo do Acton Institute, como convencer os seguidores da esquerda de que suas ideias, mesmo quando bem-intencionadas, trazem consequências desastrosas principalmente para os mais pobres. Respondendo de forma lúcida e objetiva, Kris afirmou que é preciso focar nos exemplos, nas provas substanciais de que o livre mercado é fundamental para o desenvolvimento e prosperidade. Afinal, alguém consegue citar um exemplo real de que o comunismo e o socialismo foram eficientes na retirada das pessoas da pobreza?

Por falar em exemplos reais de que o livre mercado promove a prosperidade, recentemente a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista surpreendente com o alemão Wolfgang Bernhard, chefe mundial de caminhões e ônibus do grupo Daimler/Mercedes-Benz. Em virtude do desastre econômico promovido pelo governo Dilma, que acertou em cheio o setor automotivo, o empresário afirmou que para o Brasil sair da crise é preciso a abertura do mercado. Em outras palavras, Wolfgang Bernhard quis dizer que é preciso acabar de vez com a interferência do governo na economia, através de subsídios e de políticas clientelistas.

A prova de que a interferência do governo é altamente prejudicial pode ser comprovada com números: segundo a reportagem, a Mercedes enfrenta sua maior crise desde que começou a atuar no Brasil há cerca de 60 anos. Foram cortadas mais de 5000 vagas entre 2013 e 2016 além da redução na produção em fábricas importantes como a de São Bernardo do Campo. Na entrevista, o executivo demonstrou não estar muito otimista em relação ao futuro, para ele só haverá saída se o país conseguir corrigir erros estruturais que incluem empresas, governo e consumidores.

Mesmo tendo se beneficiado com a “proteção” do governo, a Mercedes percebeu da pior maneira possível, que a política de subsídios e a transferência de recursos da atividade produtiva para à política (rent-seeking) cria distorções no mercado que inevitavelmente levam a um cenário de estagnação, além de estimular a corrupção. O empresário apadrinhado pelos políticos que conquista uma reserva de mercado ou dificulta a concorrência acaba prejudicando o consumidor, que perde sua liberdade de escolha e se vê obrigado a consumir produtos de baixa qualidade. Para Wolfgang Bernhard, a inserção do Brasil no mercado global dependerá da competitividade de empresas que abram mão da ajuda do governo. Afinal de contas, essa ajuda normalmente é realizada com dinheiro dos impostos, ou seja, os trabalhadores são obrigados a pagar pela ineficiência e incompetência de empresários irresponsáveis.

Um exemplo importante apresentado pelo empresário da Mercedes diz respeito à política de subsídios. As tarifas de importação de peças chegam à 20% para proteger os fornecedores não competitivos e há também a tarifa de 35% para a importação de veículos, ou seja, na intenção de oferecer proteção, o governo desestimula a competição e promove a estagnação no médio prazo. É importante ressaltar que essa “proteção” não ocorre somente em virtude de o governo querer estimular o chamado mercado interno. No ano passado a revista Época divulgou a existência de documentos e e-mails que indicariam o pagamento de até R$ 36, milhões em propina por montadoras ligadas a Ford e Hyundai para a aprovação de medida provisória que prorrogava incentivos ficais, durante o governo Lula.

O fato de um grande empresário e um militante idoso no centro da cidade terem realizado diagnósticos semelhantes sobre a atual conjuntura política e econômica é motivo para otimismo. De fato, o colapso do modelo desenvolvimentista e a desconfiança nos políticos em virtude da corrupção tem feito as ideias de liberdade conquistarem cada vez mais adeptos. No entanto é preciso ficar atento e vigilante, pois vivemos claramente o último dos 4 estágios do populismo observados pelos economistas Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards e apresentados no artigo “Macroeconomic Populism” (1990). Segundo os autores, depois do fracasso do modelo populista, é eleito um novo governo (ou o representante é afastado por Impeachment) que é obrigado a fazer ajustes “ortodoxos”, com a aprovação de políticas de austeridade, que são muito impopulares. Se a recessão não for superada, é muito provável que a opinião pública descontente acabe permitindo a vitória de um novo governo populista nas próximas eleições. Como afirmou brilhantemente o economista Thomas Sowell: “o fato de que muitos políticos de sucesso sejam mentirosos não é exclusivamente um reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, somente mentirosos podem satisfazê-las.“.

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