Quando crianças, costumamos ter amigos imaginários. A esquerda, porém, cultiva seus inimigos imaginários. É o que constata Bret Stephens em sua coluna no WSJ, por conta da nova conferência sobre o “aquecimento global”, visto pelos esquerdistas como a maior ameaça ao mundo de hoje.
O fato de a nova reunião ocorrer em Paris, local que foi vítima recente de ataques terroristas islâmicos, não passou despercebido: a turma prefere atacar fantasmas ou “riscos distantes” a enfrentar a realidade bem diante de seus olhos.
Tudo isso faz parte de uma narrativa esquerdista que sempre precisa encaixar os fatos em sua ideologia e pregar mais intervenção estatal. As “mudanças climáticas” caem como uma luva nesse processo, enquanto o terrorismo islâmico não.
Stephens cita outros inimigos imaginários dos esquerdistas, como a fome na América, um país com elevado índice de obesidade mesmo entre os mais pobres, ou os “estupros epidêmicos” nos campus universitários dos Estados Unidos, que supostamente fariam uma vítima em cada cinco mulheres.
O chute nos dados, a distorção estatística ou a mera invenção sempre foram armas usadas pela esquerda, sem compromisso algum com a verdade. Quem não lembra de Lula falando em 25 milhões de crianças nas ruas do Brasil, ele mesmo reconhecendo se tratar de um absurdo? Quem não viu, veja, para conhecer melhor a cara de pau da esquerda:
Pois é, o homem ainda acha graça de sua imoralidade. Mas voltando ao texto de Bret Stephens, só mesmo alguém muito desconectado da realidade pode colocar a “ameaça climática” como “a” preocupação de hoje, quando terroristas avançam bem nos quintais ocidentais sob a negligência ou cumplicidade da própria esquerda multiculturalista. Que prioridades são essas?
Como diz o autor, em 2016 a temperatura não terá mudado nada, mas o terrorismo seguirá seu avanço, especialmente se a “solução” proposta pela esquerda vingar. Enfrentar um inimigo real dá muito trabalho, e a esquerda sempre preferiu o campo das abstrações, as torres de marfim, as utopias estéticas.
No mais, como já disse, o seu foco é encaixar tudo na narrativa de “oprimidos e opressores”, colocando sempre o capitalismo ocidental e os homens brancos cristãos ou judeus como os malvados da história. João Pereira Coutinho, rebatendo Ta-Nehisi Coates, autor de Entre o Mundo e Eu, fala algumas verdades incômodas sobre isso em sua coluna de hoje:
Uma passagem do livro é particularmente ilustrativa da mentalidade segregacionista de Coates. Nova York, 11 de setembro, 2001. Os Estados Unidos sofrem o maior ataque terrorista da sua história. Perante as imagens das Torres Gêmeas em derrocada, o coração de Coates fica “gélido”, ou seja, “indiferente”. Por quê? Cito: “Nunca considerei nenhum cidadão americano como puro”. Ah, os puros e os impuros. Onde foi que eu já ouvi isso?
Os meus pêsames. Não a Coates, que está para lá de qualquer salvação. Mas ao filho de 15 anos, que está no bom caminho para o ressentimento, o ódio, quem sabe a criminalidade.
Pudesse eu escrever uma carta a esse adolescente e teria outra história para lhe contar. Começaria pela escravidão, essa mancha moral que o Ocidente promoveu –com a ajuda, convém recordar, dos traficantes negros que capturavam e vendiam os seus “irmãos de cor” no litoral africano. Mas acrescentaria que aquilo que define o Ocidente é também a capacidade para reconhecer as suas monstruosidades e de as abolir. Porque a escravidão continua –na África, na Ásia, até na América Latina.
Depois, condenaria os homicídios policiais de negros; mas teria o cuidado de esclarecer que isso não autoriza o ódio indiscriminado contra todos os brancos. Jogar todos os brancos na sacola demoníaca é uma forma de racismo perfeitamente comparável ao velho racismo dos senhores das plantações do Sul. O racismo não deixa de ser racismo só porque muda de cor.
Os negros americanos vivem com mais liberdade e prosperidade do que todos os negros africanos ou latino-americanos, e há clara mobilidade social, uma vez que a proporção de negros na pobreza total tem se reduzido com o passar do tempo. Mas isso são apenas fatos, e eles não se encaixam na narrativa esquerdista de vitimização.
O historiador francês Paul Veyne, cujo livro Sêneca e o Estoicismo foi publicado pela editora da Folha, também coloca o dedo na ferida com seus 85 anos de idade, ao falar da ameaça bem concreta do terrorismo islâmico:
“Querem cuspir na nossa cara”, revolta-se Veyne. “Damos importância para outras coisas que não o islã, e isso é desprezível para eles. A questão é saber se a coalizão ocidental quer mesmo erradicar o Estado Islâmico, já que isso significaria forçosamente enviar tropas e perder soldados.”
Intelectuais se perguntaram se a atração exercida pelo jihadismo sobre jovens franceses não teria a ver com dificuldades de inserção no mercado de trabalho experimentadas por eles (por preconceito racial ou religioso) e com a frustração de não se verem refletidos na identidade nacional.
“O extremismo não é fruto de um descontentamento legítimo”, rechaça Veyne. “As raízes desse tipo de comportamento são sempre ideológicas, e não materiais.”
Uma vez mais, esse fato não vai bem com a narrativa de “desigualdades sociais” para explicar o terrorismo, então a esquerda prefere simplesmente ignorá-lo. A procura continua sendo sempre por inimigos imaginários, nunca pelos reais. O clima é ótimo candidato, pois permite culpar o capitalismo não pela incapacidade de gerar riqueza para todos, como Marx previra equivocadamente, e sim por gerar muita riqueza e ameaçar o planeta. O remédio pregado é, claro, mais intervenção estatal, como sempre.
Homens brancos cristãos ou judeus do Ocidente capitalista: eis os vilões da humanidade. Do outro lado, apenas vítimas oprimidas. É uma fórmula irresistível para quem não quer pensar muito sobre a complexidade do mundo, preferindo dividi-lo de forma maniqueísta e ridícula, e ainda posar ou como parte dessa “elite culpada” mas arrependida e “consciente”, ou como uma das vítimas que merece reparação e privilégios.
Rodrigo Constantino